O risco de uma intervenção militar indiana na República das Maldivas mobilizou a Marinha chinesa, que reforçou a presença no Índico para impedir um avanço de Nova Deli
Repúbica das Maldivas

A China reforçou a presença militar no Oceano Índico, aparentemente com o objectivo de evitar uma intervenção militar indiana na República das Maldivas, que vive uma crise constitucional e está sob o regime de lei marcial, referem vários meios de comunicação internacionais.

A detenção de todos os cinco juízes do Supremo Tribunal e a instauração da lei marcial pelo Presidente Abdulla Yameen levam alguns analistas a pensar que pode estar em marcha o regresso a um regime de partido único, adoptado durante anos pelo meio-irmão do actual Presidente, que governou o país durante três décadas.

Mas não são só os analistas que ponderam essa hipótese. O ministro indiano dos Negócios Estrangeiros já instou a República das Maldivas a regressar ao “caminho da democracia e do Estado de Direito”. Um aviso de peso, dado que a Índia se situa somente a 600 milhas náuticas do arquipélago das Maldivas e é o seu maior e mais poderoso vizinho.

Um vizinho que já interveio militarmente no país, em 1988, para neutralizar uma tentativa de golpe de Estado contra o então Presidente Maumoon Abdul Gayoom. E que pode querer voltar a intervir, dada a localização geográfica do arquipélago, em pleno Oceano Índico, e a sua recente aproximação à China, o grande rival asiático da Índia.

Talvez por isso, a mera possibilidade de uma nova intervenção indiana na República das Maldivas tenha merecido outro aviso, desta vez, da China. Segundo alguns meios de comunicação afectos a Pequim, a China terá ameaçado que se a Índia ponderar uma intervenção unilateral no país, intervirá por impedir Nova Deli de tal iniciativa.

Afinal, segundo várias fontes, a China fornece o principal contingente de turistas que visitam a República das Maldivas, financiou muitos projectos infra-estruturantes do país, assinou o primeiro acordo de livre comércio com o arquipélago, subscreveu um Memorando de Entendimento com o país no âmbito do projecto «One Belt, One Road» e em Agosto fez escalar pela primeira vez nas Maldivas alguns dos seus navios de guerra.

Além disso, tal como parece suceder com o Sri Lanka, igualmente situado no Índico, e o Paquistão, a República das Maldivas terá contraído uma elevada dívida junto da China, que não deixará de a usar como argumento de pressão sobre o seu parceiro. Designadamente, diz-se, no sentido de alienar a Pequim alguns dos seus activos, a troco de perdão de dívida.

Segundo meios de comunicação internacionais, actualmente estão onze navios militares chineses de superfície no Oceano Índico, incluindo fragatas, destroyers e navios de abastecimento.

 



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