O Governo argentino alega falta de meios para recuperar o navio, mas as famílias dos tripulantes mortos querem recuperá-lo para conhecerem as causas do incidente. A empresa que encontrou os destroços considera que poderia assistir na recuperação, mas remete para o Governo argentino a decisão sobre o que fazer a seguir
Lagostim

No último fim-de-semana foi encontrado o destroço do submarino argentino San Juan, no fundo de uma ravina submarina, a 920 metros de profundidade, aproximadamente 600 quilómetros a leste de Comodoro Rivadavia, no Oceano Atlântico. Desaparecido há cerca de um ano a 430 quilómetros da costa argentina da Patagónia, a sua última posição conhecida, com 44 tripulantes a bordo, o submarino terá sofrido uma implosão, segundo o Capitão argentino Gabriel Attis, citado pela estação televisiva norte-americana CNN.

Em declarações públicas, o ministro da Defesa da Argentina, Oscar Aguad, admitiu que o país não dispõe de meios para recuperar o submarino de um local tão profundo. Posição diferente têm familiares dos tripulantes mortos, para quem a causa do incidente não está clara e que gostariam de ver esclarecidos com rigor os motivos da ocorrência, para o que seria necessário recuperar o navio com o propósito de investigar o sucedido.

Pela sua parte, Oliver Plunkett, responsável da empresa norte-americana Ocean Infinity, que realizou a operação que conduziu à descoberta do navio, admitiu que ficaria satisfeito se pudesse prestar assistência numa eventual recuperação, mas considerou que os próximos passos dependerão sempre do Governo argentino.

Quando desapareceu, em 15 de Novembro de 2017, o San Juan dirigia-se de Ushuaia, no sul do país, para Mar del Plata. Nos dias seguintes, a Marinha argentina referiu que fora detectada uma explosão próximo da área em que se encontrava o navio e posteriormente admitiu que o comandante havia relatado entrada de água no snorkel (um tubo que conecta o navio com a superfície para refrigeração do ar e recarga de baterias) do submarino, que terá provocado um curto-circuito.

Duas semanas depois, a Marinha argentina dava por concluída a operação de procura dos tripulantes, alegando que já não existiam hipóteses de sobrevivência. Uma operação que se estendeu por uma área até 900 quilómetros da costa argentina, envolveu 28 navios e 9 aviões de 11 países, incluindo os Estados Unidos e o Reino Unido. Os esfoços para encontrar o navio, porém, prosseguiram.

A Ocean Infinity, especializada em recuperação de destroços em fundos marinhos, iniciou esta operação em Setembro, recorrendo a um Veículos Submarinos Autónomos operados a partir do navio de superfície Seabed Constructor, já utilizado na procura do avião da Malaysia Airlines que fazia o voo 370 entre Kuala Lumpur, na Malásia, e Pequim, na China, quando desapareceu em 2014, aparentemente, no Oceano Índico, com 227 passageiros e 12 tripulantes a bordo.

Nesta operação para encontrar o San Juan, a Ocean Infinity assumiu o risco financeiro e só admitiu ser paga se o navio fosse encontrado. A sua equipa, de cerca de 60 elementos, foi comandada por Andy Sherrell e Nick Lambert, apoiados pela Marinha argentina, Royal Navy e um supervisor de Salvamento e Mergulho da Marinha dos Estados Unidos. A bordo do Seabed Constructor estiveram três oficiais da Marinha argentina e quatro familiares de tripulantes do submarino.



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