O Museu Casa das Histórias Paula Rego acolheu ontem o mais recente debate sobre a pesquisa de recursos petrolíferos e de gás em Portugal, com a presença de cientistas, empresários e um consultor, no qual se procuraram desmistificar algumas questões de carácter económico e técnico do processo

Um painel composto por dois investigadores, dois empresários do sector energético e um consultor que já foi ministro procurou ontem, em Cascais, clarificar alguns aspectos da exploração de hidrocarbonetos no oceano, em particular, nas águas portuguesas, durante um debate promovido pelo Jornal da Economia do Mar subordinado ao tema «Exploração de Hidrocarbonetos na Era da Transição Energética».

O debate adquire especial importância, não só porque o mundo vive uma época de transição energética (como o próprio tema o indicava) favorável a uma economia progressivamente mais descarbonizada, em que a salvaguarda do ambiente faz parte da equação, e porque o assunto está na ordem do dia em Portugal, com a atribuição de concessões de pesquisa de petróleo e gás contestadas por grupos ambientalistas, autarcas, políticos e cidadãos.

Um dos membros do painel foi o economista Augusto Mateus, ex-ministro da Economia e actualmente consultor na estrutura da Ernst & Young. Na ocasião, orador lembrou que “temos que estar preparados para que nos tempos mais próximos o mundo nos dê menos conforto do que nos deu a primeira saída da crise da globalização” e que “não vamos ter preços tão amigáveis de matérias-primas e matérias básicas, não vamos ter taxas de juro tão baixas e vamos ter pressões inflacionistas”.

Outro orador foi Nuno Ribeiro da Silva, ex-Secretário de Estado da Energia e hoje presidente da Endesa, que defendeu a pesquisa de hidrocarbonetos em Portugal. “Deixem ver o que há e depois podemos fazer duas coisas”, referiu, acrescentando que se for descoberta alguma coisa, podemos sempre optar por estudar a forma de exploração dos recursos ou por fechar a reserva até ao momento em que for necessária.

Igualmente presente esteve Luís Guerreiro, Director de Exploração da Partex, que se mostrou surpreendido com a diabolização do sistema de exploração designado por fracking, aperfeiçoado e utilizado com êxito nos Estados Unidos, e considerou pouco inteligente não se quererem conhecer os recursos disponíveis no país.

O investigador Fernando Barriga, professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, também no painel, considerou que obviamente “um dos principais papéis das Universidades é ajudar a obter conhecimento”. E admitiu também que a prospecção dos fundos marinhos terá sempre que se feita com recurso a instrumentos robotizados. “Vamos precisar de frotas e frotas de AUVs”, acrónimo em inglês para veículos sub-aquáticos não tripulados (autonomous underwater vehicles).

O painel ficou completo com Amílcar Soares, professor do Instituto Superior Técnico, que, a propósito da exploração de hidrocarbonetos no nosso país, defendeu a importância de “saber alguma coisa sobre os nossos hidrocarbonetos”. O investigador recordou ainda que “a questão da exploração de hidrocarbonetos no planeta é mais uma questão energética do que uma questão ambiental”.



Um comentário em “Petróleo e gás em Portugal debatidos em Cascais”

  1. rosalia maria cruz diz:

    De facto é assustador que um Jornal que se diz do Mar, reuna tanta gente interessada em o destruir. E sendo estas pessoas convidadas apenas na defesa dessa destruição, sejam pseudo informados ou informadores quando na verdade desinformam. E que se justifiquem ao inserir isto na Era da Transição Energética quando a Transição indica sempre o fim de algo e inicio de um comportamento novo. Ou seja o fim da exploração do mar de todas e quaisquer actividades que o prejudiquem ou desvalorizem. A questão energética será sempre uma questão ambiental! E tem sido motivo das grandes guerras, conflitos e monopolios. A transição energética é possivel em Portugal através da produção directa da população e cada edificio existente. A transição energética passa pela transição económica. E o País que mais rápidamente apostar numa economia ambiental ganha esta corrida ou fica para sempre hipotecado ao interesse dos grandes exploradores económicos. Se insistem nesta via que subscrevam um termo de responsabilidade e que cumpram penas de prisão se as consequencias forem as que se verificam em todos os Países que têm semelhantes contratos de concessão que dão a exploração a petroliferos com todos os riscos por nossa conta. E não se trata de fechar poços. Sabemos bem nos exemplos da Chevron no Brasil e da BP no Golfo do Mexico que os riscos ocorrem a partir da fase de prospecção. Alguém que dê a estas informadores aulas de ética e integridade e responsabilidade civica.

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