A tensão aumentou esta semana ao largo de Chipre, quando um navio militar turco impediu um navio da italiana ENI de se dirigir a uma zona marítima para exploração de gás. Em causa está uma velha questão de soberania de Chipre sobre uma parcela do seu território, contestada pela Turquia e pela República Turca de Chipre do Norte, que só esta reconhece
Chipre

Esta semana, a Marinha Turca bloqueou um navio da ENI que se deslocava para o Bloco 3 da Zona Económica Exclusiva (ZEE) de Chipre para explorar gás, depois de terem sido feitas descobertas pelo navio Saipem 12000, da mesma companhia, no Bloco 6, anunciaram vários meios de comunicação internacionais.

Segundo o Maritime Executive, o argumento usado pela Marinha turca foi o de que a zona para onde se deslocava o navio estava sujeita a actividade militar. Na sequência do episódio, o Presidente cipriota, Nicos Anastasiades, acusou a Turquia de violar o direito internacional. Respondeu o Governo turco, alegando que a exploração do Bloco 3 violava “os direitos inalienáveis aos recursos naturais do povo cipriota turco” e a soberania da República Turca de Chipre do Norte.

A controvérsia está relacionada com o facto de apenas a Turquia reconhecer essa república, autoproclamada na parte norte da ilha de Chipre em 1974 e onde desde então permanecem milhares de soldados turcos, na sequência de uma invasão turca desse território. Apesar de várias tentativas de reunificação, a República de Chipre, considerada soberana de toda a ilha e membro da União Europeia (UE), nunca foi possível um entendimento.

O conflito levou a que depois de a República de Chipre ter aberto concurso para a concessão de exploração de gás em vários blocos marítimos ao largo da ilha, a República Turca de Chipre do Norte tenha vindo reclamar direitos de soberania sobre a área e agora a bloquear o Saipem 12000. Apesar de, tal como a Grécia, com a qual a República de Chipre está tradicionalmente alinhada, a Turquia, protectora do Governo que controla a parte norte, ser membro da NATO.

Entretanto, a UE já apelou à contenção na área, mas posicionando-se a favor da posição do seu membro. “A Turquia precisa de se comprometer inequivocamente com relações de boa vizinhança e a evitar qualquer tipo de fricção, ameaça ou acção dirigida contra um Estado membro”, afirmou um porta-voz da UE, enfatizando que “a Turquia tem que respeitar a soberania dos Estados sobre o seu espaço marítimo e aéreo”.

De um modo ainda mais enfático, o Presidente turco deixou um aviso sério à República de Chipre e às empresas que tentem penetrar na área que considera território da Republica Turca de Chipre do Norte, ameaçando mesmo fazer usar a força militar para fazer valer o que considera serem os direitos soberanos desta última.



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