O relatório da UNCTAD de 2016 é bem revelador das alterações que comércio marítimo está a atravessar, mostrando a sua queda global em valor, pela primeira vez, em 2015, num momento de crescimento e expansão da economia mundial.

Reportando-se os dados estatísticos ainda, naturalmente a 2015, o mais recente relatório da UNCTAD (United Nations Conference on Trade and Development), publicado quinta-feira passada, é bem revelador das alterações que o transporte marítimo está sofrer, tornando bem patente a queda em termos de valor global em 2015, o que sucede pela primeira vez num momento de crescimento e expansão da economia mundial.

Tal circunstância, como inclusive referido no próprio relatório, não deixa de ser preocupante porquanto tal já não sucedia desde 2001 e, não obstante o volume global ainda tenha crescida na casa de 1,5%, o facto é que, mesmo esse crescimento,  ao contrário do que é tradicional, não apenas ficou aquém dos valores do crescimento económico como se verificou, de facto, um efectivo decrescimento em muitas das mais importantes rotas.

Por outro lado, ao longo de 2015, como aparentemente se tem visto também em 2016, a instabilidade dos volumes transportados também tem sido significativa, o que, conjugado com uma mesma volatilidade dos preços dos fretes, torna os tempos particularmente complexos para os armadores.

Independentemente de algumas razões apontadas para essa queda em 2015 em termos de volume, passível de ser justificada por várias razões, desde a queda dos preços dos produtos até à apreciação do dólar ou à queda do preço do petróleo, o mais importante para os autores do relatório é o facto dos mesmos números se afigurarem constituir, após o magro crescimento verificado entre 2012 e 2014, uma nova e marcada tendência de alteração da dinâmica do comércio mundial que não deixará de ter também profundas repercussões no sector.

Pra abonar a tese, o relatório não deixa mesmo de acentuar que, sendo o índice mais comum para medir a tendência de globalização da economia mundial o ratio entre o valor do comércio mundial e o respectivo PIB, o que os novos valores apontam é, de facto, para um efectivo declínio da interdependência económica da economia mundial.

Um facto a que não serão alheias algumas novas tendências de produção, como a tendência para uma maior proximidade e consolidação  dos centros de produção e de distribuição, a par do desenvolvimento de novos processos de produção, como o caso de um cada vez maior e mais extensivo recurso à robótica.

Para quem estiver interessado, o Relatório pode ser lido na íntegra aqui.

 



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