A Semana Azul é, como se diz neste número do Jornal da Economia do Mar, o grande projecto de Assunção Cristas para transformar Portugal a Capital do Mar.
É difícil não considerar o projecto da Ministra da Agricultura e do Mar como uma muito louvável iniciativa, importando também perceber o seu real alcance e, mais do que isso, perspectivar o que pode ficar como primeiro momento, se assim se pode dizer, de uma nova era.
Se Capital vale, de facto, por «Cabeça, como vale, uma vez Capital significar sempre o que à cabeça se refere, como na expressão «pena capital» implícito se encontra, neste particular, transformar Portugal na Capital do Mar não pode deixar de significar também transformar Portugal na Cabeça, ou seja, em quem sabe, antes e acima de tudo e de todos, verdadeiramente pensar a sua mais profunda essência e realidade e, consequentemente, o seu futuro.
Premonitório.
E a Semana Azul, como se sabe, começa com uma Conferência da revista The Economist. Com o prestígio que tem e a capacidade de mobilização que se lhe reconhece, é um acontecimento significativo. É certo que os valores de inscrição envolvidos não apontam para um grande envolvimento nacional na mesma mas, independentemente disso, o mais importante é a possibilidade de eco internacional que poderá proporcionar à perspectiva portuguesa sobre o mar e a vida dos oceanos, não podendo esquecermo-nos que tudo se irá iniciar com um cocktail oferecido pelo Presidente da República a todos os participantes na mesma onde, muito naturalmente, irá proferir algumas palavras de boas-vindas e, esperamos, um pouco mais. E é exactamente nesse breve «um pouco mais» que tudo irá decidir-se. Esteja o Presidente da República possuído daquela verve que marcou o discurso de Marco António nas celebrações fúnebres de Júlio César, fazendo viver para todo o sempre a sua glória na nossa memória e memória e História houver, ou inspirado e iluminante como um Padre António Vieira no não menos célebre Sermão de Santo António aos Peixes, e as suas palavras não deixarão de ecoar pelo mundo fora, estejam ou não os auditores aparentemente distraídos e divididos entre trincar um pequeno croquete e um apaziguador rissol ou bebericando um sempre salutar e intemporal Porto.
Depois, a Ministra Assunção Cristas, terá igualmente o seu momento. Inserida num painel de debate dedicado à Política Ambiental, a par de Karmenu Vella, Comissário Europeu do Ambiente, Assuntos Marítimos e Pescas, bem como de Kathryn Sullivan, Subsecretária de Estado para os Oceanos e Atmosfera e Admistradora da NOA, e ainda Astronauta, a oportunidade de fazer ver a quem se imagina tecendo as malhas dos efémeros impérios que o mundo vai conhecendo, a relação singular entre Portugal, o Mar e o Ambiente, o que nos confere porventura uma autoridade única que talvez nenhum outro povo possui, não deixará de se fazer igualmente repercutir pelas sete partidas do mundo, mostrando e demonstrando porque Portugal deve ser reconhecido como a Capital do Mar, ou seja, porque sabendo pensar o mar como talvez nenhum outro povo, tem a consequente doutrina que mais nenhum outro povo consequentemente terá.
E não menos importante, haverá ainda a Reunião Internacional dos Ministros do Mar, contando já com mais de 40 confirmações, um pouco de todo o mundo, onde não se deixará, por certo, de bem vincado ficar porque acontece em Portugal, exactamente em Portugal, nação pequena nação que, dispondo de muito mar e de consequente doutrina sobre a sua mais profunda essência e realidade, legítimo é afirmar-se como a cabeça, a Capital, a liderar conceptualmente o seu futuro.
E mais do que tudo isso, esperando-se visita dos Ministros do Mar, como dos dos assistentes da Conferência da revista The Economist, à FIL, o mais significativo acontecimento da Semana Azul, possível será igualmente perceberem também como pensar, em Portugal, sempre significa agir, aí podendo apreciar tudo quanto de mais avançado realizam as novas empresas nacionais, centros de investigação, institutos, universidades e mesmo organismos oficiais, nas mais diversas áreas relacionadas com o mar, não deixando aqui as repercussões de serem igualmente maximamente ampliadas. Tanto mais quanto se compreenderá também como, ao contrário de quanto em paralelos mais elevados se verifica, toda a portuguesa acção sempre decorre do pensamento e não da cega vontade nórdica, assim se justificando também, uma vez mais, a autoridade de Portugal como Capital do Mar.
E se tudo isto assim não for, se tudo isto assim não puder ser, temos sempre em antecipação a I Grande Conferência do Jornal da Economia do Mar, com o particular significado de ser inteiramente dedicada às empresas portuguesas, porque o mar, parafraseando o sempre celebrado poeta, não é para quem sonha conquistá-lo mas para quem o conquista. Pela imaginação, pelo pensamento e consequente realização que alguns designarão também como consequente acção. Porque, afinal, importa percebermos, de facto, de uma vez por todas, «Para Que Queremos Tanto Mar».