National Geographic escolheu Oceanário para entregar relatório
Ilhas Selvagens

A National Geographic já apresentou ao Governo português o relatório científico e o filme da expedição «Ilhas Selvagens», realizado no âmbito do seu programa Pristine Seas. Um dia depois de ter apresentado o documento ao Governo Regional da Região Autónoma da Madeira, a National Geographic foi recebida no Oceanário numa cerimónia plena de simbolismo, quer pelo local, quer pelas personalidades presentes.

Além da ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, e do ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, que receberam o relatório em nome do Executivo, estiveram o presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, o administrador da Fundação Francisco Manuel dos Santos, José Soares dos Santos, e elementos da National Geographic, entre outras individualidades.

Na ocasião, a ministra do Mar elogiou o projecto da National Geographic e relacionou-o com o programa do Governo para a área do mar, designadamente ao nível dos desafios da soberania (aposta na literacia oceânica e protecção dos nossos recursos naturais) e do conhecimento, defendendo que “a investigação deve ser transformada no activo estratégico que é o conhecimento”.

João Pedro Matos Fernandes também interveio, para recordar que o mar tem sido considerado um recurso estratégico para o país e que tem sido feito um esforço para identificar as nossas áreas marinhas protegidas, com o objectivo de “estancar a perda da biodiversidade”, que “é um desígnio deste Governo”.

Na qualidade de anfitrião, enquanto membro da família que tem a concessão do Oceanário de Lisboa, José Soares dos Santos adiantou que espera que “a Fundação Oceano Azul seja uma realidade em breve, e que deverá contribuir para a agenda do mar, em colaboração com o Estado português e uma rede de parceiros nacionais e internacionais”. Recordou também que “é intenção da Sociedade Francisco Manuel dos Santos fazer a doacção do contrato de concessão por 30 anos do Oceanário de Lisboa a esta Fundação”, esperando que até Setembro deste ano se verifique “a boa conclusão deste processo”.

O Oceanário de Lisboa foi o tema central da intervenção de Fernando Medina, que o considerou “uma das infra-estruturas mais emblemáticas da cidade e do país e um marco e símbolo da ligação dos portugueses com o mar”. O autarca assinalou também que não se trata de uma infra-estrutura de diversão e defendeu que deve ter uma vertente de divulgação do conhecimento e de respeito pela verdade científica.

 

Sobre o estudo

 

O relatório agora apresentado ao Governo resultou de uma expedição que a equipa do programa Pristine Seas fez às Ilhas Selvagens em 2015, em conjugação com o Instituto Universitário-Portugal, o The Waitt Institute, a University of Western Australia e outros parceiros, com o objectivo de avaliar o estado do seu meio marinho.

Ao partilhar os resultados com o Executivo, a National Geographic teve como objectivo “informar sobre o estado de equilíbrio dos ecossistemas marinhos das Selvagens, sensibilizando para a necessidade de aumentar a protecção da área marinha destas ilhas”.

“Sob o mote Journey to the Ocean’s Last Wild Places, o Pristine Seas” visa explorar “os últimos ecossistemas pristinos e selvagens dos oceanos para os proteger, conservando assim a riqueza e o equilíbrio dos habitats marinhos”, tendo já contribuído para proteger 3 milhões de Km2 de área marinha, explica a National Geographic.

No caso das Ilhas Selvagens, foram feitas observações em 29 locais, durante 150 horas de mergulho científico. Em 12 locais, câmaras remotas filmaram “entre os 164 e 2.294 metros para exploração do ecossistema de profundidade”, refere a National Geographic, adiantando que essa operação revelou uma “fauna diversa que inclui, pelo menos, 24 grupos de peixes de profundidade pertencentes a 17 famílias”.

O relatório conclui que “o ecossistema marinho costeiro foi avaliado como saudável, encontrando-se mais de 47 grupos de algas e apenas uma cobertura de 8% de ouriços-do-mar que em grandes quantidades, podem ser indicadores de desequilíbrios nos ecossistemas como resultado de ume extensa actividade pesqueira”.

Foram identificadas 51 espécies de peixes de 28 famílias, tendo as câmaras pelágicas revelado diversas espécies protegidas, como a baleia-de-Bryde, a tartaruga-comum ou o golfinho-pintado.

De acordo com o relatório, as principais ameaças às Ilhas Selvagens são as embarcações que navegam próximas, especialmente em busca de atum, a pesca ilegal nas fronteiras da reserva natural, a sobrepesca (indiciada pela ausência ou escassez de alguns grandes predadores, como tubarões e atuns), a presença de micro-plásticos nas águas (85% das amostras de água acusaram este componente), destroços de navios naufragados (como o do «Cerno», que ainda ali permanece) e a reduzida dimensão da área protegida, que é insuficiente para afastar estes perigos e não abrange o ecossistema maior que serve de reduto aos peixes pelágicos, dos quais depende a nidificação das aves marinhas.

Concluiu-se também que apesar da sua área reduzida, as Ilhas Selvagens apresentam uma diversidade elevada de espécies de peixes, se comparada com a de grandes ilhas próximas do nordeste do Atlântico.



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