O Ministro da Economia Francês, Bruno Le Maire, surpreendeu o mercado Quinta-feira passada ao anunciar que o Governo de Paris irá usar do direito de preferência no que respeita aos estaleiros da STX de Saint-Nazaire, suspendendo assim a aquisição dos mesmos pela Fincantieri.

Para o Ministro Bruno Le Maire, é impensável o Governo de Paris permitir que a Fincantieri, Grupo Italiano e um dos principais concorrentes de Saint-Nazaire na construção de Cruzeiros, possa deter uma quota acima dos 50%, correndo-se o risco do número de empregados, capacidades e competências dos estaleiros, bem como decisões estratégicas de desenvolvimento de mercados, ou mesmo de desenvolvimento territorial, possam vir a ser colocados em causa, pelo que, indo mais longe, instou mesmo os «amigos italianos» a aceitarem a «proposta honesta» de «trabalharem em conjunto, de mãos dadas, com uma repartição de capital de 50/50», não deixando o Estado Francês de exercer os seus direitos de preferência caso assim não suceda.

No acordo inicial, porém, realizado em Abril, ainda na vigência do anterior Governo, encontrava-se prevista a possibilidade da Fincantieri, perseguindo a ambição de vir a adquirir os 66% dos estaleiros de Saint-Nazaire anteriormente detidos pela empresa Sul-Coreana STX, ficou porém acordado uma aquisição correspondente a 48% do capital, com outros 6% a serem vendidos a uma Fundação Italiana, a Fondazione CR, ficando o restante repartido entre o Estado Francês, com quota na casa dos 33,34%, e o Naval Group (ex-DCNS).

Porém, neste momento o que o Governo de Paris propõe é que o Grupo Italiano fique com uma quota de 50%, ficando a outra metade sob controlo Francês, repartido entre o Estado Francês, Naval Group e os trabalhadores que poderão vir a deter igualmente uma quota na ordem dos 3%.

A nova proposta não agrada aos Italianos que já fizeram saber, inclusivamente, através do Ministro da Indústria, Carlo Calenda, que, mantendo-se o Governo de Paris intransigente quanto à nova proposta, se retirarão do negócio, tendo Giuseppe Bono, Director-Geral da Fincantieri, afirmado igualmente «não compreender a desconfiança francesa», adiantando ainda: «Somos Italianos e Europeus e não aceitamos ser tratados com meos consideração que os Coreanos».

Considerando o Governo de Paris Saint-Nazaire um investimento estratégico, a complicar a situação está também o acordo de princípio que terá sido formalizado pela incantieri de poder vir a ajudar os estaleiros chineses no desenvolvimento de capacidades de construção de Cruzeiros para compensar a diminuição dos navios cargueiros tradicionais.

Neste impasse, os estaleiros de Sint-Nazaire erão temporariamente nacionalizados, embora, até devido às estritas regras europeias nesse domínio, esteja desde já previsto uma nova ronda de negociações u lançamento de um concurso para a venda de 50% do seu capital.



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