Portugal já foi um mercado interessante para a Damen. Depois, definhou. E tarda a recuperar, embora o país permaneça no seu radar. Negócios, contudo, não serão para já.

Depois de um período particularmente dinâmico durante a construção da Ponte Vasco da Gama, em que satisfizeram várias encomendas provenientes de Portugal, e tendo vencido, logo depois, o concurso público da Soflusa S.A. para a construção de nove navios catamaran de 600 passageiros, e o concurso público lançado pelo Porto da Horta para a construção de dois rebocadores, a construtora naval holandesa Damen Shipyards Group (DSG) diminuiu o volume de negócios com o nosso país. “Depois disso, mantivemos contactos com a Marinha portuguesa, administrações portuárias e empresas, mas actualmente não temos negócios previstos, designadamente para 2016”, admitiu Rainer von Herel, responsável da DSG para Portugal, ao nosso jornal. O que não invalida que não surjam oportunidades. «Na nossa actividade, os negócios são a cinco ou seis anos, pelo que aquilo que pensarmos agora é para se concretizar daqui a cinco ou seis anos e mantemo-nos atentos», acrescentou.

De acordo com Rainer von Herel, “existe algum dinamismo em países africanos, mas não nos que dependem do petróleo, que estão a investir menos”. A América Central e do Sul, o Extremo Oriente, a Austrália e o Reino Unido também são bons mercados, apesar de este “ser um momento difícil para os pequenos estaleiros”, nota o mesmo responsável. “Os pequenos estaleiros, aliás, ou se fundem ou morrem, e eu não estou muito optimista a esse respeito”, refere. A diversidade do catálogo e da localização dos negócios, porém, contribui para que a DSG mantenha uma actividade equilibrada. “Se falhar num local, compensamos noutro”, refere. E 2015 até foi um ano bom, pois “vendemos 250 embarcações”, confidencia. Segundo dados da empresa, desde 1969, a DSG entregou cerca de 5000 navios, ou seja, 108 por ano, em média, nos últimos 46 anos, e realiza presentemente 120 a 150 entregas por ano.

Actualmente, a DSG mantém 35 estaleiros em todo o mundo, mais de seis mil trabalhadores e um volume de negócios anual de 1.300 milhões de euros, estando “entre os cinco principais construtores navais da Europa”, considera Rainer von Herel. As novas construções representam, aliás, a maioria do volume de negócios da empresa (70%), seguidas pela reparação naval (14%), construção no local (7%), serviços (6%) e componentes (3%). Acrescenta ainda que da produção efectuada na Holanda, cerca de “90% é para exportação”. Por zonas, “se considerarmos os últimos 10 anos, verificamos que a nossa produção está igualmente repartida pelos cinco continentes”, refere.

 

Standardização e inovação são importantes

 

O catálogo das novas construções da DSG integra navios para apoio a operações marítimas portuárias e em offshore, marinha mercante, transportes públicos, dragagem, pesca e guerra e patrulhamento. De acordo com a empresa, os navios para serviços portuários e marinha mercante representam a maioria da sua produção (22%). As embarcações para apoio offshore (20%), marinha de guerra (20%) e segurança e patrulha (20%) são as outras grandes vertentes da produção da DSG. Os iates (8%) e a dragagem (5%) completam este catálogo. Os navios-tanque e porta-contentores de maiores dimensões não fazem parte dos objectivos da empresa. Embora a DSG fabrique navios de transporte de gás natural liquefeito até 1600 toneladas, os grandes navios são “uma área da especialidade dos coreanos e japoneses”, refere Rainer von Herel.

No quadro da sua actividade, a standardização e a inovação e desenvolvimento assumem especial importância. A standardização é aplicada a todos os “nichos de mercado, dos rebocadores aos iates luxuosos” e permite reduzir substancialmente os prazos de entrega, que são menores do que para navios “construídos convencionalmente”, bem como oferecer preços competitivos. Já a inovação e desenvolvimento correspondem a um departamento que se ocupa de soluções tecnológicas originais, quer no plano da construção naval, quer no da utilização de combustíveis alternativos.

A apresentação de modelos próprios e dotados de tecnologias inovadoras tem ainda maior relevância num momento em que aumenta a competição entre os estaleiros, especialmente “na Turquia, Espanha e países nórdicos”, refere Rainer von Herel. Na sua opinião, “existe enorme pressão sobre os estaleiros” e deve ocorrer uma consolidação dentro de cinco anos. Assumindo que está atento a essa realidade, identifica melhores oportunidades para a construção local, o que significa “produzir no Brasil para o Brasil, na África do Sul para a África do Sul, etc.”. Outra oportunidade, designadamente para os portos, é o regresso do Irão ao mercado da marinha mercante. “E se isso levar os portos a investir, por exemplo, em lanchas de pilotos ou rebocadores, isso também é bom para nós”, acrescenta. Mas isso depende da evolução do próprio mercado. E neste momento, a queda do preço do petróleo não favorece propriamente a economia iraniana. Resta esperar que a economia global impulsione de novo a procura.

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