Controlo aumenta no Mar da China Meridional sem necessidade de acções militares
Mar da China Meridional

Num recente artigo publicado no blog The Interpreter, o investigador Abhijit Singh, do Instituto de Defesa de Nova Deli, chamou a atenção para uma tese avançada por Rory Metclaf e Ashley Thompson num relatório pulicado pelo Lowy Institute, de acordo com a qual a China está a suavizar a sua estratégia marítima no Mar da China Meridional.

De acordo com o investigador, os autores consideram que a China, além de ter uma atitude mais conciliatória, defende agora medidas geradoras de confiança junto dos seus vizinhos que até aqui se recusava a admitir. Com isso, a China contribui para minimizar os riscos de incidentes marítimos e conflitos daí decorrentes.

Os autores, no entanto, consideram que este comportamento potencia aquilo a que chamam de assertividade passiva, constituindo um desafio para o status quo marítimo na Ásia a longo prazo, para o qual contribui a militarização que a China tem vindo a fazer do Mar da China Meridional.

Nesse sentido, os autores recomendam um equilíbrio prudente entre a tentação de resolver das situações e a prossecução de outros interesses estratégicos, no modo de modelar o comportamento chinês, evitando cair numa escalada. Para isso será necessário um esforço internacional capaz de impôr custos a Pequim.

O investigador reconhece a utilidade da análise dos autores, mas considera que ela omite alguns desenvolvimentos indicadores de que a China está a fazer mais uma pausa estratégica do que um reajustamento da sua estratégia marítima. E adianta três razões pelas quais Pequim adoptou uma atitude conciliatória.

Uma é a série de reformas na área da Defesa, que tem desagradado a alguns sectores da estrutura militar do país, incluindo altas patentes, que acusam o presidente Xi Jinping de reforçar o seu poder à custa da eficácia do aparelho militar. Às acusações não será alheio o facto de o presidente poder estar a enfrentar interesses instalados, afectando militares competentes em detrimento de outros, menos competentes mas fiéis ao chefe de Estado.

Por outro lado, as reformas conservam o Exército no comando dos novos teatros militares, num momento em que as principais ameaças externas à China são de carácter marítimo (Taiwan, Mar da China Meridional e Mar da China Oriental). Tudo somado, Pequim entende que as implicações das reformas nas operações marítimas tornam pouco recomendáveis missões militares no Pacífico Ocidental, dando a sensação de suavização de atitude.

A segunda razão, segundo o investigador, é a acção pendente no Tribunal Permanente de Arbitragem relativa a uma disputa territorial, proposta pelas Filipinas contra a China. Pequim recusou-se a intervir como parte e já esclareceu que não vai acatar a decisão do tribunal, mas admite que o veredicto pode a política na zona do Mar da China Meridional. Uma decisão favorável às Filipinas, que é bastante provável, seria uma vitória moral para os Estados Unidos e seus aliados.

Prevendo isso, a China tem procurado arregimentar apoios para as suas próprias pretensões na região, defendendo um modelo de segurança regional mais conforme aos interesses asiáticos, ao invés dos interesses norte-americanos. E terá sido esta atitude que tem impedido a China de assumir um papel mais agressivo na zona.

Em terceiro lugar, as instalações edificadas pela China na região ao longo dos últimos dois anos já lhe conferem capacidade monitorizar e controlar as actividades marítimas. Uma posição que sai reforçada pela reclamação que fará dos bancos de Scarborough e pelos exercícios militares realizados nas ilhas Spratly e Paracel. No caso de Scarborough, os Estados Unidos sustentam mesmo que tal posição permitirá à China ameaçar Luzon, a principal ilha filipina, e exercer um amplo controlo sobre o Mar da China Meridional.

Desta forma, considera o investigador, sem necessidade de impor intervenções agressivas, a China vai progressivamente cumprindo os seus objectivos na região, garantindo a manutenção da sua estratégia de domínio sem incendiar o Mar da China Meridional com acções militares activas.



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