O fim próximo da concessão de terminais no porto de Setúbal leva a respectiva administração a ponderar a abertura de concursos para novas concessões
APSS

A presidente do Conselho de Administração dos Portos de Setúbal e Sesimbra (APSS), Lídia Sequeira, que face à aproximação do fim da concessão em vários terminais do porto de Setúbal, como o terminal de granéis sólidos da Sapec, pondera abrir concursos para atribuir concessões em alguns deles, conforme referiu esta semana em entrevista ao jornal «O Setubalense». Lídia Sequeira considera que são necessários investimentos em todos esses terminais, carentes de modernização, e que existem interessados.

A responsável disse também que aguarda para o próximo ano o início da execução do projecto de electrificação da ferrovia para que o troço final do acesso do porto setubalense à linha férrea deixe de ser a diesel. Nessa matéria, que constitui uma vantagem deste porto face ao de Sines, por exemplo, a situação actual “significa que para o contentor entrar no porto tem que mudar a máquina e isso é um custo, tempo perdido e falta de operacionalidade brutal”, referiu.

Lídia Sequeira explicou que perante o elevado custo do projecto (pequeno demais para o Fundo de Coesão e grande demais para ser regional), a APSS assumiu o custo das infra-estruturas (6,5 milhões de euros), permitindo à Infra-estruturas de Portugal (IP) apresentar uma “candidatura de maior valor, introduzindo a eliminação das passagens de nível”, paga pela IP.” Neste momento o projecto já está em 13 milhões”, referiu, acrescentando que “envolve já mais coisas”, tem um estudo prévio concluído e está na fase de realização do projecto de execução, que “deverá ficar concluído no final deste ano”. “Havendo luz verde ambiental, lançaremos em Janeiro o concurso público para a execução da obra”, admitiu.

Falando sobre o novo canal de acesso, para cujas dragagens o Clube da Arrábida interpôs uma providência cautelar, provisoriamente indeferida pelo Tribunal Administrativo e Fiscal de Almada (TAFA), Lídia Sequeira refere não só a importância do acesso de navios de maior dimensão, mas também a questão da segurança e a entrada de iates maiores. “Este canal não permite o cruzamento de navios e isso é uma questão básica de segurança”, referiu, sublinhando também que já enfrentou problemas de entrada no porto de um grande veleiro.

Para Lídia Sequeira, porém, o porto de Setúbal “necessita urgentemente de se reposicionar” para constituir um “nó de cadeias logísticas globais e multimodais que levam as mercadorias dos locais de produção para os locais de consumo”, “criando as mesmas condições em termos de acessibilidades marítimas e terrestres e de eficiência tecnológica que outros portos nacionais já têm e que lhe permita tirar partido das suas vantagens para ser considerado pelos armadores mundiais como uma alternativa válida para fazer parte das suas cadeias logísticas”, sem o que o estará condenado.

No que constituiu uma crítica à administração anterior, considerou que o porto de Setúbal carecia de um sistema de despacho electrónico de mercadorias capaz de o dotar de um “terminal de contentores a funcionar a sério”. Hoje, o porto de Setúbal possui “a Janela Única Portuária a funcionar muito bem, com nova tecnologia” e já adjudicou o fornecimento e instalação de um sistema de controlo de tráfego marítimo (Vessel Traficc Servisse – VTS), no valor de 600 mil euros, que também era necessário e que fosse “moderno, eficiente, não dependente das circunstâncias do momento, e tão bom como o de Sines ou de Lisboa”.

O terminal de contentores do Barreiro permanece uma questão incontornável e também foi abordada, pois além de presidente da APSS, Lídia Sequeira é igualmente presidente da Administração do Porto de Lisboa (APL). Sem surpresa, admitiu ter “conhecimento de armadores que estão noutros portos, e que podem estar interessados naquele terminal, que vai aumentar a massa crítica do nosso sistema portuário total”. E revelou que o terminal poderá sustentar-se também no transhipment, “cujo navio-tipo é de 14 mil TEU”.

 



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