A exploração de bio-recursos marinhos é mais ampla do que se pensa. Desde a Olmix (empresa que cria produtos com algas) à Lego, são várias as oportunidades para gerar macro-organismos, micro-organismos, zooplâncton, peixes e mamíferos, moluscos, crustáceos, bivalves, macro e microalgas, bactérias ou fungos, dando resposta a alguns dos desafios actuais da população de todo o planeta.
E no âmbito do seminário «O rumo da bioeconomia azul em Portugal», que decorreu na Fundação Calouste Gulbenkian, muitos foram os exemplos de companhias conscientes das questões ambientais que começam agora a olhar o oceano sob outro ponto de vista, apresentados por Dirk Carrez, Director Executivo da Bio-based Industries Consortium, Neil Parry, da Unilever, Nelleke van der Puil, da Lego, e Hervé Balusson, presidente e Director Executivo da Olmix.
Portugal tem potencial para a biotecnologia marinha, mas os sectores não estão despertos para tal, segundo Dirk Carrez. Temos tecnologia, indústria e o início de uma política consciente. E este é um sector que poderia ser importante para Portugal. Sob um cluster de pesquisa, poderia mesmo atrair investimento do exterior.
Na óptica de Delleke van der Puil, o impacto positivo da atenção às questões de sustentabilidade é interessante. E deixar nas crianças um impacto positivo mas também responsabilidade ambiental, é muito importante. Por isso, para 2030, espera materiais sustentáveis trabalhados com energias renováveis. A Lego ainda não começou a investir, porque investir em energia solar envolve muita tecnologia, explica.
“Como queremos comunicar? Gostávamos de mostrar ao mundo onde estamos. E para atender às nossas responsabilidades estamos a falar com ONGs, nomeadamente a World Wide Fund (WWF), que nos ajuda a identificar as fontes certas de material, e com universidades, para perceber o ângulo cientifico das propriedades dos materiais”, refere Delleke van der Puil.
Já a Olmix, empresa com propósitos cosméticos para humanos e animais, reconhece nas algas um novo recurso que responde às preocupações dos consumidores europeus hoje em dia, nomeadamente de segurança alimentar. Pelo que o cultivo das algas está a ter mais procura do que podem prover, explica Pi Collen.
Há novas aplicações que podem ser desenvolvidas e a área das algas é um exemplo disso. Para a indústria do cimento, por exemplo, as algas ajudam à mitigação da produção de emissões. E procurar micro-organismos dos oceanos para poder utilizar em processos avançados seria o ideal. Apenas tem de se fazer um investimento maior, mas o reservatório do oceano é brutal, refere José Ataíde, Director Corporativo de Sustentabilidade da The Navigator Company.
Para Ricardo Calado, da CESAM e Bluebio Alliance, a pesca está sujeita a muitos desafios na produção, nomeadamente a ração, a sofrer uma crise, e o problema dos plásticos nos oceanos, que leva à contaminação, principalmente dos bivalves. Por isso, as algas representam uma opção mais viável. E acrescido a esses desafios, podemos perguntar-nos quanto é que estamos dispostos a pagar por novos produtos que poderão ser mais dispendiosos, apesar de mais sustentáveis.
Na opinião de Neil Perry, o consumidor paga por funcionalidade e por isso pagarão mais 15%, pois a par da sustentabilidade estão a desenvolver novas técnicas. Para praticar os preços que hoje se praticam é apenas necessário tempo no desenvolvimento e pesquisa dos novos produtos.
O interesse do mar não advém necessariamente do aproveitamento directo de bio-recursos, mas sim da oportunidade de isolar novos compostos de bioactividade relevante, que sejam posteriormente susceptíveis de síntese e produção industrial, conclui-se.
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