Volume de pesca recreativa supera o da pesca comercial em algumas espécies
Pesca grossa

Em Julho, foi batido o recorde mundial de pesca grossa na Madeira, com a captura de um blue marlin (espadim azul) de 3,67 m e 445,5 kg, a cerca de duas milhas da costa. O feito ocorreu na Madeira, durante a famosa Blue Marlin World Cup, disputada mundialmente no dia 4 de julho, ao longo de oito horas, sob a égide da International Game Fish Association (IGFA).

Naquele dia, competiram 172 embarcações em destinos como a Papua Nova Guiné, Fiji, Camarões, Seychelles, Moçambique e Senegal, e em pontos já famosos pela sua importância na pesca de Marlins, como a Madeira, Cabo Verde, Açores, Bermudas, Bahamas e Estados Unidos. Apenas no Havai, este ano, participaram 55 barcos de pesca.

Na Madeira, que detém um palmarés de recordes mundiais que a tornam uma referência mundial na modalidade, nomeadamente no que respeita à captura do Blue Marlin, sobretudo pela dimensão dos mesmos (que pesam, em média, entre 250 e 300 kg), o recorde foi batido pela segunda vez consecutiva.

Para a importância da Madeira no roteiro da pesca grossa, também é determinante a influência ali exercida pela corrente quente do Golfo. Como refere Paula Menezes, da Direcção Regional de Ordenamento do Território e Ambiente da Madeira (DROTA), “a notoriedade da Região é tal que a pesca de blue marlins foi tema de uma grande reportagem divulgada pela BBC em 2012 (http://www.bbc.co.uk/news/business-17511429)”.

 

Impacto económico

 

Entre Maio e Agosto, a pesca grossa, uma prática com elevados custos associados (equipamento, seguros, isco, transporte e inscrições em competições), atrai à Madeira muitos turistas que ambicionam capturar “uma das grandes espécies pelágicas e migratórias, como os espadins e atuns”, refere Paula Menezes, assim contribuindo para o desenvolvimento da economia local e nacional.

A mesma responsável esclarece ainda que “a toda esta actividade estão afectos não só os donos das embarcações, como as respectivas famílias e tripulações, sendo usual a reserva de partes de hotéis só para acomodar a comitiva de algumas embarcações, com todas as actividades turísticas complementares, inerentes a quem não participa nas atividades da pesca”.

Paula Menezes refere também que na Europa, a pesca grossa deve representar um impacto económico superior a 25 mil milhões de euros anuais e originar diversos postos de trabalho, directos e indirectos.

 

O big game fishing

 

Como explica Paula Menezes, “a pesca grossa ou big game fishing, é uma das modalidades de pesca recreativa, geralmente dirigida a espécies pelágicas de grande porte, como os espadins e atuns”. No quadro da pesca recreativa, existem duas vertentes, segundo a mesma responsável: “a captura para consumo próprio e a captura e libertação, ou catch-and-release, onde o que é capturado é depois devolvido ao mar, que é o que acontece no caso da pesca grossa”.

A pesca sem morte “não é uma aposta meramente competitiva, mas sim uma filosofia já adoptada por todos os pescadores desportivos da Região”, diz Paula Menezes. A morte do exemplar em combate é a única excepção a esta filosofia, e “culmina com a doação do exemplar a instituições de caridade”, tendo em vista o seu aproveitamento para consumo.

O corrico é o método mais utilizado, a partir de embarcação, “e consiste em percorrer uma vasta área, a uma velocidade baixa (3 a 4 nós), mais ou menos constante, durante um período de tempo variável”, explica a técnica da DROTA. A embarcação pode ter várias dimensões, mas deve incluir “uma série de equipamentos indispensáveis”, como a cadeira de combate, estabilizadores e flying bridge (permite que o barco seja manobrado em posição mais alta, o que facilita a detecção do peixe).

Durante o processo, sempre que um exemplar morde um dos iscos, “todas as outras linhas são retiradas da água, dando-se início à luta a partir da cadeira de combate”, refere Paula Menezes. Durante a luta, que pode durar horas, o objectivo é trazer o peixe até à superfície, junto ao barco, para remover o anzol e proceder à libertação do exemplar.

 

Pesca recreativa e sustentabilidade

 

Estudos sobre as espécies sujeitas a pesca recreativa, embora escassos, permitiram concluir que as capturas são superiores às verificadas para a pesca comercial. Um cenário que levou vários países a adoptar medidas de gestão e monitorização das capturas, algo difícil face à escassez de dados e à “natureza altamente migratória destas espécies” que, segundo Paula Menezes, dificulta o conhecimento da “sua biologia e do estado dos seus mananciais”, bem como das “variáveis ambientais que mais influenciam” os seus padrões de distribuição e abundância.

A mesma responsável defende “a utilização de marcadores biológicos com transmissores de satélite (PSATs pop-up satellite archival tags) em estudos futuros”, para “avaliar as taxas de sobrevivência pós-libertação”, conhecer melhor as rotas de migração e dos locais de postura, e reconhecer a “existência de site fidelity pela recaptura de exemplares marcados”.

Paula Menezes entende igualmente que “o estudo de parâmetros de crescimento e mortalidade, maturação sexual, proporção entre os sexos e taxas de fecundidade” é essencial “para conhecer a dinâmica populacional e biologia reprodutiva, bem como para definir modelos etários e de avaliação de recursos, adequados a estas espécies”.



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