O Brexit começa, cada vez mais, a merecer análises entre operadores de transporte marítimo e de serviços portuários do Reino Unido. Embora haja uma sensação de distensão face aos elos comerciais impostos por uma Europa a 28, que tenderão a desaparecer se o Governo seguir a vontade popular, existe uma consciência dos riscos da independência resultante do afastamento da União Europeia (UE).
Para Patrick Walters, director comercial do Grupo Peel Ports, citado pelo World Maritime News, entre as vantagens estão as oportunidades do Reino Unido para negociar novos e melhorados acordos comerciais de forma bilateral, em particular, com a Índia, Estados Unidos, Canadá e países sul-americanos, sem a necessidade da aprovação consensual dos 27 parceiros europeus.
Daqui pode igualmente resultar uma alteração dos paradigmas britânicos de importação e exportação. Face a estes novos acordos, as origens das importações e os destinos das exportações do Reino Unido podem modificar-se e ter impacto nos entendimentos comerciais dos britânicos com os seus parceiros europeus, considera a consultora Drewry, citada pelo mesmo jornal.
O principal risco do resultado do referendo à saída britânica da UE é o efeito em cadeia da incerteza face ao futuro. No curto prazo, já se antevê um crescimento quase nulo no movimento de contentores no Reino Unido e um abrandamento do PIB britânico, que poderá provocar uma quebra no crescimento do comércio marítimo do país, refere o jornal.
A Drewry também refere o risco de um regresso ao passado, e que os britânicos não desejam, em matéria de procedimentos administrativos, acesso a marítimos qualificados ou direitos aduaneiros. Nessas matérias, o Reino Unido preferiria os benefícios do mercado único europeu, com a sua harmonização de processos, comércio livre e livre circulação de trabalhadores, pelo menos no sector do transporte marítimo.
A consultora também refere que as empresas britânicas do sector já pressionam o Governo para que essas questões entrem na agenda de eventuais negociações com a UE decorrentes do Brexit, sob pena de uma diminuição do fluxo comercial do Reino Unido com a Europa e, por consequência, do tráfego marítimo entre as duas economias.
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