Em 2030, o valor acrescentado bruto (VAB) das indústrias do mar deverá crescer para cerca de 2,6 triliões de euros (o dobro do valor de 2010), de acordo com um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) apresentado numa conferência internacional sobre economia, ciência, inovação, literacia e cultura dos oceanos realizada em Lisboa, no dia 3 de Junho, no âmbito da Oceans Business Week.
Segundo o estudo, intitulado «The Future of the Ocean Economy Project – Exploring the Prospects for Emerging Oceans Industries to 2030» e dirigido por Barrie Stevens, que o apresentou na conferência, em 2030, as indústrias do mar continuarão a representar 2,5% do VAB global (tal como em 2010, o ponto de partida das previsões da OCDE), considerando que se manterão as mesmas circunstâncias políticas e ambientais globais, ou seja, num cenário ali designado como de “business-as-usual”.
Nessa data, o sector representará cerca de 40 milhões de postos de trabalho directos e em full-time (aproximadamente 1% da força de trabalho mundial, tal como em 2010, quando empregava 31 milhões de pessoas).
A OCDE estima que em 2030, no contexto das indústrias do mar, o turismo marítimo e costeiro representará a maior percentagem do VAB global (26%), ultrapassando a exploração de gás e petróleo offshore (a maior contribuinte em 2010), que então corresponderá a 21% e será a segunda principal contribuinte.
No mesmo ano, as actividades portuárias representarão 16% do VAB das indústrias do mar, seguidas do equipamento marítimo (10%), processamento de pescado (9%), energia eólica offshore (8%), transporte marítimo (4%), construção e reparação naval (3%), pesca industrial (2%) e aquacultura marinha industrial (1%).
No estudo, a OCDE faz recomendações no sentido de promover uma perspectiva integrada do que poderá ser feito para alcançar um equilíbrio entre o desenvolvimento económico e a sustentabilidade ambiental no contexto marítimo nos anos vindouros, dividindo-as em quatro grupos:
- promover a cooperação internacional nas ciências e tecnologias marítimas, como meio de estimular a inovação e reforçar o desenvolvimento sustentável da economia dos oceanos;
- reforçar a gestão integrada dos oceanos;
- melhorar a base estatística e metodológica em níveis nacionais e internacionais para medir a escala e o desempenho das indústrias do mar e o seu contributo para a economia global;
- construir mais capacidade de prevenção entre as indústrias do mar.
Presidente da República inaugurou conferência
A conferência foi inaugurada pelo Presidente da República, que recordou a Blue Week, realizada em Lisboa, em 2015, também dedicada ao mar, sob os auspícios do Governo de Passos Coelho, que reuniu em Portugal diversos responsáveis políticos nacionais e estrangeiros pelos assuntos marítimos. Marcelo Rebelo de Sousa recordou também o papel do seu antecessor, Cavaco Silva, na promoção da economia azul e prestou homenagem ao pioneirismo de Mário Ruivo nas questões do mar.
Na ocasião, o Presidente da República manifestou satisfação pelo facto de o actual Governo, representado na sala pela ministra do Mar, ter mantido a mesma orientação estratégica para o mar que foi seguida pelo anterior Executivo. Mário Ruivo, que interveio na conferência, destacou o empenho do Governo e dos stakeholders dos assuntos marítimos na promoção do relacionamento entre as sociedades e os oceanos.
Biólogo especializado na gestão dos recursos marinhos vivos e com um longo percurso nacional e internacional nesta área, Mário Ruivo aludiu igualmente à importância das recentes negociações de Paris sobre as alterações climáticas, bem como a outros acordos internacionais relacionados com o ambiente e o mar em particular.
Outra intervenção coube a Paul Snelgrove, coordenador do «Census Marine Life Project», que abordou a questão da vida no mar e da crescente pressão exercida pela sociedade sobre os oceanos. Recorde-se que este projecto durou uma década e foi responsável por 540 expedições científicas, com 2.700 cientistas de 80 países. Um dos principais resultados foi a descoberta de 6 mil novas espécies potenciais e a recolha de provas sobre a degradação dos oceanos e sua capacidade de resistência.
Igualmente presente, a engenheira Dana Manalang, da Universidade de Washington, apresentou o projecto de investigação «Ocean Observing Systems – Steeping out in Tomorrow», relacionado com a exploração de ambientes sub-aquáticos.
Interveio também Manuel Cira, actualmente à frente de uma equipa que promove exposições e outras actividades destinadas a reforçar a percepção pública papel do mar no plano cultural. É também Director da Ocean World Network e um dos fundadores do conceito da Blue Society – que apresentou na conferência -, uma filosofia que defende que todos devem beneficiar de todos os recursos oceânicos e preservar a sua integridade em simultâneo.
Finalmente, falou Miguel Serpa Soares, conselheiro jurídico das Nações Unidas e um advogado “optimista”, como o próprio se classificou. Desde 2013 é também um focal point da UN Oceans, um mecanismo inter-agências das Nações Unidas que promove a coordenação com a International Seabed Authority em conformidade com a Convenção Internacional das Nações Unidas sobre o Direito do Mar. O jurista dedicou a sua intervenção ao tema da governação dos oceanos.
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