Estivadores acusam polícia de colaborar com operadores na violação do direito à greve
porto de Gwadar

O presidente do Sindicato dos Estivadores, Trabalhadores do Tráfego e Conferentes Marítimos do Centro e Sul de Portugal, António Mariano, acusou ontem os operadores portuários de estarem a violar o direito à greve, fazendo retirar do porto de Lisboa contentores com mercadoria de zonas para as quais não terão sido requisitados serviços mínimos, com recurso a “fura-greves que foram ali metidos dentro com o acompanhamento da Polícia de Intervenção”.

António Mariano também acusou os operadores de terrorismo psicológico, numa primeira reacção ao anúncio de despedimento colectivo feito na segunda-feira. “Nós já estamos habituado a esta pressão há muito tempo”, referiu o líder sindical a uma estação televisiva.

Quanto à acusação de que o sindicato tinha inviabilizado um acordo de paz social no porto de Lisboa na semana passada, António Mariano respondeu que “isso é uma questão que o Governo ainda vai ter que explicar melhor”, acrescentando que não houve reuniões directas com as empresas.

O mesmo responsável acusou também a PSP, presente no local, de estar a colaborar com a violação do direito à greve. Um responsável policial no local afirmou que a presença das forças policiais foi solicitada e que a sua missão era a de garantir que a remoção dos contentores de fazia com normalidade e permitir que os trabalhadores que quisessem entrar para o terminal o conseguissem fazer. Uma missão que não foi isenta de momentos de tensão entre o piquete de greve dos estivadores e as forças policiais.

António Mariano esclareceu igualmente que os sindicatos estavam a cumprir os serviços mínimos com 63 estivadores. O cumprimento dos serviços mínimos foi confirmado ao nosso jornal por fonte próxima dos operadores, que mencionou um total de cerca de 3 mil contentores para remover, dos quais aproximadamente 1.700 com mercadorias. A mesma fonte afirmou que ainda não era possível saber quantos trabalhadores iriam ser afectados pelo despedimento colectivo nem quando é que se concretizaria esse facto.

Entretanto, de acordo com notícia da Lusa, a ministra do Mar, Ana Paulo Vitorino contabilizou em 100 mil euros diários o montante do prejuízo do porto de Lisboa decorrente da greve dos estivadores e esclareceu que a actual Administração daquela infra-estrutura está mandatada para retomar a viabilidade do porto. A ministra mostrou igualmente compreensão pela decisão dos operadores de realizar um despedimento colectivo e vontade de recuperar o porto de Lisboa. Mesmo que isso implique alterar situações.

 

Impacto nos Açores e Madeira

 

O impacto desta greve dos estivadores afecta particularmente as regiões autónomas da Madeira e dos Açores. Em ambos os casos, 75% do tráfego marítimo de mercadorias faz-se com o porto de Lisboa e estão confirmadas rupturas de stocks, de acordo com declarações feitas ao nosso jornal por Cristina Pedra Costa, presidente da Associação de Comércio e Indústria do Funchal (ACIF) e Mário Fortuna, presidente da Associação de Comércio e Indústria dos Açores.

Em declarações ao nosso jornal, Cristina Pedra Costa admitiu que a ACIF tem recebido informações de fontes que considera credíveis de que os ritmos médios de trabalho portuário na Madeira, no horário fora do período de greve, estão em níveis muito inferiores ao que seria normal, mas não pode confirmar tais dados, até porque a associação não tem competências fiscalizadoras nessa matéria.

A mesma responsável admitiu também que o cumprimento dos serviços mínimos de transporte marítimo para a Madeira, de dois navios por semana, pode não estar a ser cumprido. Mais uma vez, não pode confirmar a informação e não tem competências fiscalizadoras.

Para ambas as situações, Cristina Pedra Costa apela a quem tem essas competências, designadamente o Ministério do Mar, “que foi quem decretou os serviços mínimos para o trabalho portuário”, para verificar o cumprimento desses serviços.

Quanto ao impacto no abastecimento, Cristina Pedra Costa referiu-nos que na segunda-feira, foi preciso recorrer a um avião da Força Aérea para fazer chegar medicamentos à Madeira, designadamente, para efeitos de hemodiálise. Mas admitiu que “todos se queixam da falta de produtos”. Já no que respeita a uma quantificação do prejuízo resultante da greve dos estivadores do porto de Lisboa no último mês, a presidente da ACIF referiu-nos que não possui dados neste momento.

Mário Fortuna, por seu lado, admitiu rupturas de stock nos Açores, quer no comércio, quer na indústria, e prejuízos de centenas de milhares de euros, que se podem agravar se a greve se mantiver e, especialmente, se o porto de Lisboa reduzir a sua actividade. Até porque “é um porto essencial para a exportação dos produtos dos Açores”, referiu-nos o mesmo responsável. E considerou que após a imposição do serviços mínimos, estes podem não ter sido cumpridos de imediato.



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