Não há quem não afirme constituir-se Portugal como Nação Marítima por excelência, na prioridade do mar para Portugal e até na importância do mesmo mar da identidade nacional, entenda-se lá o que se entender por identidade nacional.
E no entanto …
E no entanto, acompanhando a visita da Comissão Parlamentar de Defesa realizada ontem à Base Naval de Lisboa, é impossível não ficarmos perplexos com o ambiente de visita de estudo liceal que revela.
Estava ali a Comissão Parlamentar de Defesa para, conhecendo a situação da Marinha Portuguesa, afirmar o seu incondicional apoio? Estava ali Comissão Parlamentar de Defesa para, conhecendo e reconhecendo as actuais dificuldades de meios e, consequentemente, operacionais, da Marinha Portuguesa, prestar a garantia do seu incondicional empenhamento numa alteração de atitude política? Estava ali a Comissão Parlamentar de Defesa para, conhecendo, reconhecendo e sabendo da decisiva importância da acção da Marinha num momento tão crítico e determinante como o actual, ficar a saber exactamente os investimentos necessários para o pleno cumprimentos das suas missões e a plena afirmação de Portugal no mar que é juridicamente seu?
Não, nem por isso. Como referiu o próprio Presidente da dita Comissão Parlamentar de Defesa, Marco António Costa, em breves declarações finais, estiveram ali, essencialmente, para se inteirarem da situação.
Ah!, muito bem, ter-se-á tratado, como referido, de uma espécie de visita de estudo liceal, para cultura e memória futura.
Mas não são os Senhores Deputados políticos, tendo alguns, entre os presentes, exercido mesmo já funções de Governo? Não é Portugal reconhecido por todos como Nação Marítima por excelência? Não é, por todos, diariamente reconhecida a importância do mar para Portugal? Não foi afinal o mar que formou a identidade nacional, signifique isso o que significar? E não exaltam e exultam todos, permanentemente, com os 4 milhões de Km2 da futura área marítima sob jurisdição nacional uma vez reconhecidos os novos limites da Plataforma Continental pelas Nações Unidas, transformando-nos na 11ª nação do mundo com maior área marítima nacional? Como explicar tanto desconhecimento por quem é político, tem por missão representar-nos a todos e, mais gravemente ainda, por vezes, exerce as graves funções de Governo em Portugal?
Sim, não sabemos o que foi dito pelo Almirante CEMA e, eventualmente, pelo Comandante Naval no designado briefing que antecedeu a visita ao COMAR porquanto o poder do povo tem, naturalmente, os seus limites e não convém que saiba demais não vá pôr-se a pensar. Um pormenor, apenas, não importando agora aprofundar.
Sabemos, porque assistimos, no entanto, às apresentações do Almirante CEMA e do Comandante Naval do COMAR e da absoluta passividade da assembleia.
Passou o COMAR de Oeiras para o Alfeite apenas por razões de concentração operacional e falta de espaço?
Falta de espaço? Agora? Então porque lá foi colocado inicialmente?
E em Oeiras onde? Numa casita sem condições ou no Comando NATO?…
Ah!, sim, talvez tudo seja demasiado evidente e nem mereça comentário.
O sistema de fusão de dados não integra a informação de radar por falta de articulação entre entidades?…
Não, evidentemente que não é estranho. Não assistimos todos, aliás, o nosso dia-a-dia a tantas outras situações como essa?… Alguma vez foi prática das instituições em Portugal comunicarem entre si a não ser, talvez, com as Finanças, como as quais todos são obrigados a comunicar tempestivamente sem mácula, falha e absoluta transparência?
Sim, nada a merecer interrogação, indignação ou sequer comentário…
E tem o COMAR igualmente a responsabilidade da coordenação SAR (Busca e Salvamento)? Alguém se indaga da sua área de 5 milhões de km2 e do lapso de tempo necessário, com os meios actuais, para se chegar aos seus extremos? Não tem Portugal um dos melhores índices do mundo na Busca e Salvamento? Tem. Por isso deve estar tudo bem. Para quê perder tempo com interrogações inúteis?
E lembrou ainda o Almirante CEMA o notável trabalho do Instituto Hidrográfico no caso Prestige? Quem é que se lembra do que foi o caso do Prestige?…
E refere-se ao Presidente da Comissão Parlamentar de Defesa que esse trabalho do Instituto Hidrográfico foi tão notável e mesmo pioneiro que Espanha e França a ele recorriam para terem as mais apuradas e rigorosas previsões de expansão e deriva da mancha de crude que os próprios não tinham ainda capacidade de realizar? E que é uma pena, em Portugal, em muitos trabalhos pioneiros e verdadeiramente inovadores como esse, virmos a ser completamente ultrapassados por absoluta falta de empenhamento e investimento por quem de direito no que verdadeiramente importa?
Refere-se.
E como reage o Presidente da Comissão Parlamentar de Defesa?…
….
De qualquer modo, no final, o Presidente da Comissão Parlamentar de Defesa está, natural e evidentemente, muito orgulhoso da Marinha Portuguesa porque, após a visita à Corveta António Enes, a fazer 45 anos e ainda no activo quando o seu ciclo normal de vida deveria ter terminado aí pelos seus e 30 a 35 anos de operação, ou seja, somando já quase mais 50% de tempo de vida do que deveria, a Marinha Portuguesa, com esses e outros maios, seja interna, seja externamente, cumpre plenamente as missões que lhe são confiadas.
Sim, disso ninguém tem dúvidas mas, tendo agora a Comissão Parlamentar de Defesa, e o seu Presidente em particular, um renovado conhecimento e consciência da situação da Marinha, qual a consequente acção?
Sequência, consequente acção???!!!…
Não devia a Comissão Parlamentar de Defesa, os Deputados, a Assembleia da República…
Uma questão de opinião. Muito respeitável, evidentemente, como respeitáveis e evidente e devidamente respeitadas deverão ser todas as opiniões, mesmo as mais díspares. Tão respeitáveis e evidente e devidamente a respeitar que nem valerá a pena, talvez, pensar sequer e menos ainda tentar um minuto de diálogo por manifesta irrazoabilidade.
Muito democraticamente, a cada um a sua opinião, todas, naturalmente, igualmente doutas e apreciáveis.
Muito bem.
Mas tudo isso foi ontem e hoje é um novo dia.
Ah!, um dia em que a Base Naval de Lisboa não será já visitada pela Comissão Parlamentar de Defesa mas pelo próprio Senhor Presidente da República, segundo consta, e, evidentemente, outro galo cantará _ não deixando de se pedir perdão por tão popular expressão tão irresistivelmente sugestiva, contudo.
O Senhor Presidente da República tem, evidentemente, perfeita consciência da importância do mar para Portugal, tal como plenamente o demonstrou e devidamente exarado para todo o sempre deixou no seu discurso de tomada de posse, quando afirmou constituir-se o mar, mesmo, uma prioridade para Portugal, prioridade «nascida de uma geoestratégia» e, sobretudo, «de uma vocação universal».
Depois de ter decidido convidar o Presidente do Banco Central Europeu para o seu primeiro Conselho de Estado, também primeiro grande momento político do seu mandato, não podendo tal gesto deixar de significar: 1) o reconhecimento da prioridade das prioridades às Finanças para Portugal, mesmo em relação mar porque ele há prioridades e prioridades e há sempre prioridades mais prioritárias que outras; 2) o reconhecimento da subsunção da política nacional à política da União Europeia; 3) o reconhecimento do estado de inferioridade de Portugal quando impossível se lhe torna já escolher livremente o seu destino, mas sabendo e reconhecendo igualmente a sua muito genuína e afectiva preocupação pela afirmação de Portugal no mundo, é, com certeza, grande a expectativa, imensa, mesmo, i.e., sem limites, depositada nesta visita e nas respectivas declarações de análise e circunstanciado comentário à mesma.
Suceda o que suceder, hoje será, com toda a certeza, um dia Histórico. Um dia, pelo menos, em que o mar, do raiar da aurora ao fecho dos noticiários da noite, será, sem a menor sombra de dúvida, a prioridade das prioridades para Portugal.
Que o destino esteja connosco.
Portugal, 20 de Abril do Ano da Graça de 2016.
Um Dia Histórico.