Donald Trump visou explicitamente a China quanto às medidas proteccionistas que quer tomar e esta ameaçou retaliar, provocando preocupação entre os operadores do comércio global, incluindo o sector do transporte marítimo, responsável por cerca de 90% da circulação do comércio mundial
BIMCO

A guerra comercial entre a China e os Estados Unidos levou o Governo chinês a anunciar planos para impôr taxas sobre produtos norte-americanos no valor de 1,8 mil milhões de euros, referiu o World Maritime News. A medida é uma reacção da China ao anúncio de Donald Trump de aplicar taxas aduaneiras aos produtos chineses no valor de 37 mil milhões de euros, refere o mesmo jornal.

Embora tenha anunciado impôr taxas aduaneiras de 25% e 10% ao aço e alumínio, respectivamente, importados pelos Estados Unidos, Donald Trump já suavizou a medida. O Canadá e o México – países do Acordo de Comércio Livre da América do Norte (NAFTA) – foram excluídos e alguns aliados, como a Europa, a Austrália, a Coreia do Sul, a Argentina e o Brasil viram a medida suspensa.

Já em relação à China, o Presidente norte-americano foi claramente agressivo. Trump recordou que a China tem um saldo comercial favorável de 230 mil milhões de euros sobre os Estados Unidos e que aplica “práticas discriminatórias e pouco razoáveis que sobrecarregam ou restringem o comércio norte-americano e violam os direitos de propriedade intelectual”.

Recentemente, os Estados Unidos terão enviado uma carta ao Governo chinês sugerindo algumas soluções para atenuar em 61 mil milhões de euros o défice comercial entre os dois países, designadamente, reduzindo taxas sobre a importação de automóveis norte-americanos, concedendo mais acesso das empresas norte-americanas ao mercado financeiro chinês e comprando mais semi-condutores fabricados nos Estados Unidos, revelaram alguns meios de comunicação internacionais.

Embora a Europa se tenha esquivado, por agora, à medida anunciada por Trump, a indústria europeia do transporte marítimo e a indústria marítima em geral permanecem preocupadas com as intenções do Presidente norte-americano e com uma eventual guerra comercial entre os Estados Unidos e a China.

“Existe uma necessidade urgente de novos esforços diplomáticos para prevenir uma escalada”, refere a Danish Shipping, representante da indústria do transporte marítimo dinamarquês, a propósito da tensão crescente entre os dois países. O que não surpreende, pois o comércio entre os Estados Unidos e a China representa 4% do comércio mundial e os dois países são os dois maiores mercados para o transporte marítimo dinamarquês e representam 23% da actividade exportadora das empresas dinamarquesas de transporte marítimo.

Entretanto, Peter Sand, analista-chefe da Baltic and International Maritime Council (BIMCO), uma organização privada formada essencialmente por armadores e operadores de transporte marítimo internacional, considerou que a escalada desta tensão terá consequências duradouras para todos os envolvidos nas indústrias globais, como o transporte marítimo, responsável pelo transporte de 90% da tonelagem do comércio mundial.

O mesmo responsável admitiu que “todas as medidas restritivas ao comércio são, em princípio, más para o transporte marítimo” e que “um pouco por todo o lado assistimos à introdução de medidas restritivas ao comércio”, no que considera uma “tendência preocupante que limita a procura pelo transporte marítimo à escala global”.

 



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