O repovoamento da sardinha na costa portuguesa com recurso à produção em cativeiro poderá avançar, como anunciou a ministra do Mar. O responsável da estação piscícola do IPMA no Algarve sublinha, no entanto, que o êxito do processo depende de factores em estudo, da própria natureza e da actividade pesqueira
Sardinha

O responsável pela Estação Piloto de Piscicultura de Olhão (EPPO) do Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), Pedro Pousão, admite a possibilidade de repovoamento da sardinha na costa portuguesa com recurso à aquacultura, mas é cauteloso quanto às expectativas de resultados.

Na sequência do anúncio recente feito pela ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, de que a instalação do IPMA em Olhão está a desenvolver um projecto esse sentido, Pedro Pousão confirmou ao nosso jornal que esse projecto será feito, mas que “é preciso que as pessoas tenham noção de que são realidades a médio prazo”.

Segundo nos esclareceu este responsável, a EPPO “vai fazer o seu trabalho” e dispõe de exemplares para desenvolver esse estudo (500 unidades), que deverão começar a sua reprodução no final de Outubro, mas seria útil entretanto adquirir também sardinha juvenil “para atalhar caminho” relativamente aos estudos que são precisos realizar.

E recorda que analisar a sardinha, um peixe pequeno, implica um stock bem abastecido pois devido à dimensão dos exemplares, certas análises requerem o seu sacrifício, ao contrário de outras espécies, cuja maior dimensão não obriga à morte do exemplar.

As unidades disponíveis resultam de um enchimento de dois tanques com sardinha em 2016, um em Maio e outro em Setembro, o que permitiu acompanhar o comportamento da espécie até aqui. “Agora vamos ver se podemos produzir sardinhas juvenis de forma programada e ver qual é a sua taxa de sobrevivência”, esclareceu-nos.

Se todo o processo decorrer com normalidade, ou seja, se houver sucesso na produção em cativeiro, Pedro Pousão coloca a hipótese de uma primeira tentativa de repovoamento no segundo semestre de 2018 e nunca antes disso, essencialmente por causa das condições do mar e do crescimento dos exemplares (serão precisos alguns milhares).

O mesmo responsável sublinha ainda que depois disso, o sucesso da medida dependerá sempre das condicionantes da própria natureza (efeito dos predadores ou dos fenómenos climáticos, por exemplo) e da própria actividade pesqueira. “Resultados palpáveis, talvez só daqui a cinco anos”, referiu, lembrando que dependerão do êxito da produção e do próprio repovoamento.

Até porque a primeira tentativa, que remeteu eventualmente para 2018, será determinante, sobretudo, para tirar conclusões sobre vários aspectos, como o modo de transporte dos exemplares e a escolha do local adequado para a largada da espécie.

Procurando desmistificar o impacto que a medida pode ter junto do público, Pedro Pousão admite que o repovoamento pode ser uma questão polémica e é rodeada de incertezas. E admite a possibilidade de colmatar as necessidades da indústria com a própria produção de sardinha em aquacultura. Que pode ser paralela ao repovoamento, designadamente com a largada de excedentes da produção em cativeiro.

Relativamente ao estudo, nota que a identificação da alimentação adequada para o crescimento, maturação e reprodução é um aspecto fundamental. A alimentação é, aliás, um factor determinante na formação do preço da sardinha produzida em aquacultura (peso de 40%), tal como a taxa de sobrevivência, o tempo de crescimento (de que resulta o tempo de ocupação de instalações, por exemplo) e a densidade (quilogramas por metro cúbico).

No caso da produção em aquacultura, na sardinha como noutras espécies, importa considerar todos estes aspectos, que não deixam de ser analisados, pois deles depende a formação do preço final do produto, um factor determinante para avaliar o interesse económico em desenvolver exemplares em cativeiro.



2 comentários em “Repovoamento da sardinha só a partir do 2º semestre de 2018”

  1. Francisco Portela Rosa diz:

    Seria muito importante medir o impacto no recurso, desde que foram licenciadas imensas pequenas embarcações “OS TUCAS” para a pesca de cerco.
    Também deveria ser obrigatório que durante os defesos, todas as embarcações de cerco parassem. Não é admissível a justificação de que vão pescar cavala carapau ou outra espécie pois ao fazer o cerco pescam também sardinha.
    O defeso tem que ser cumprido por todo o tipo de embarcação que tem licenças do cerco.

    1. Ze Silva diz:

      Concordo plenamente com o que diz.
      Um abraço

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