Na XIIIª edição do Seminário de Aquacultura apresentaram-se vários projectos com o mote ambiental e económico.
Comissão Europeia

A XIIIª edição do Seminário de Aquacultura juntou no dia 30 de Novembro empresas de aquacultura que demonstraram os seus projectos, com inovações que suscitaram o interesse do público. Foi em Setúbal que a APA (Associação Portuguesa de Aquacultores) juntou as empresas, num evento que contou com uma degustação de produtos de aquacultura nacional.

O Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), representado por António Marques, levou o seu projecto «Sea-on-Ship», cujo objectivo é desenvolver multi-sensores para a aquacultura. O sistema operacional remoto que permite uma avaliação da contaminação química das áreas estuarinas e costeiras, podendo também gerir as actividades de produção, tendo em conta os parâmetros ambientais, e gerir as qualidades das águas, foi a novidade do IPMA para evitar a contaminação química das águas que não é favorável nem para o ambiente nem para a saúde humana.

Desenvolver um sistema que fosse pequeno, autónomo e controlado remotamente era o propósito do peojecto, vocacionado para analisar simultaneamente oito contaminantes. O IPMA quis ter também em conta o factor económico e esforçou-se nesse sentido para criar um aparelho que ronda os dois mil euros.

Inserido num pograma da União Europeia, com mais 17 instituições da Áustria, Espanha, França, Grécia, Itália, Suécia, Reino Unido e Roménia, o projecto nasceu em 2013 e terminou este ano. No entanto, como qualquer objecto, pode ser melhorado, e esse é agora o próximo passo: um novo orçamento para aperfeiçoar a máquina.

Já o engenheiro José Sá, da Nautilusigma Ldª, trouxe um aparelho com sistema de circulação RAS, que define como “um sistema muito próprio nosso”, especifico para aquacultura, e que permite “reciclar a água, desinfectando-a, libertá-la de patogénicos e regressar ao sistema”, podendo fazer também numa fase, engorda e purificação de moluscos.

Assim, melhora-se a qualidade da água gastando menos da mesma no processo, e libertando-a de patogénicos. A solução tem também, como afirma José Sá, um “sistema de oxigenação que vai conferir à água qualidade de oxigénio e as propriedades desejáveis para montar um sistema”. Este projecto é interessante também na medida em que respeita a política dos 3R’s – reduzir, reutilizar e reciclar, e que foi produzido, na sua maioria, com matéria-prima portuguesa.

A INvertebrateIT pensou “promover a produção de insectos para conseguir criar rações para peixes, mais sustentáveis”, de forma a “melhorar a competitividade e a diversificação do sector”, como afirma Carla Domingues, representante do Fórum Oceano.

Este projecto recebeu mais de 600 mil euros do Fundo Europeu dos Assuntos Marítimos e das Pescas (FEAMP), e tem oito parceiros, que incluem duas PMEs (NGN Pro-active BV, da Holanda, e AquaTT, da Irlanda) e três clusters europeus (Fórum Oceano, a Pôle Mer Bretagne Atlantique, de França, e Cluster de Investigação Marinho – Marine Institute, da Irlanda).

Já a SPARUS Lda. pretende melhorar a resistências a doenças e stress dos peixes, através de rações. Luis Conceição, que apesentou o projecto «Alissa», referiu-se a esta ração como “condição nutricional e imune óptima”, e que também é objectivo da empresa desenvolver uma gama de suplementos para alimentar os peixes. Com parceiros como a Universidade de Aveiro e do Porto, este projecto foca-se nos aminoácidos, particularmente em dois: a metionina e o triptofano, o primeiro para o crescimento de reprodução de glóbolos brancos, e o segundo para efeitos de regulação do stress.

Neste momento a empresa está na fase de fazer ensaios com alimentação. O robalo já foi testado, com dois níveis de metionina e triptofano, que tiveram um efeito positivo na “condição imune e na resposta inflamatória”, como afirma Luís Conceição. Estes foram os primeiros resultados, que não são necessariamente iguais nas demais espécies – a truta e a dourada, também estão a ser estudadas.

Carlos Serôdio e Inês Falcão foram apresentar os cursos de formação da FORMAR, nomeadamente os direccionados para a aquacultura e transformação de pescado, apesar de terem outras áreas como comércio, tráfego local, pescas bem e construção naval. Na formação de aquacultura, composta por 52 módulos, trabalham a gestão aquícola, a segurança, ou temas mais específicos como a engorda de bivalves, em 275 horas. Têm também um curso de Iniciação á Aquacultura Estuarina, onde estudam temáticas como a tipologia de aquacultura do estuário e até procedimentos administrativos e legislativos.

Todos estes cursos, ambos informam, podem ter horários muito flexíveis, em horário laboral ou pós-laboral, ou nalguns casos, temáticas flexíveis e número de alunos também, consoante as necessidades das empresas. Referiram também que já fizeram um curso com apenas uma pessoa, o que poderá encarecer o processo, mas é possível. Trabalham igualmente com jovens que concluem o 12º ano, naquilo que chama a Formação de Renovação, para jovens que se estão a “lançar para o mercado”.

Foi também apresentado o «CrassoSado 2», relativamente ao qual foi feita uma apresentação sobre o Estado actual da ostra portuguesa no Estuário do Sado, que teve como objectivo refazer o mapeamento da população, rever o ciclo reprodutivo e identificar algumas patologias da ostra. Foi um projecto/estudo que teve uma primeira fase (2014-2016) mais voltada para analisar as questões da ecologia e uma segunda fase (2016-2017) para compreender as necessidades dos ostreicultores da região, numa continuação do trabalho já iniciado.

Assim, nesta segunda fase, pretendem promover a existência de bancos noutras zonas, pois no canal de Alcácer do Sal, local estudado, houve um estender de bancos para áreas que estão em permanente imersão, o que não permite existência de ostras no local. Querem continuar a avaliação de contaminantes, bem como de agentes de poluição, e continuar o estudo das ostras em geral para depois partirem para a sensibilização e aconselhamento.

Este estudo decorreu sob coordenação do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), patrocinado pela The Navigator Company, e com o apoio de investigadores da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa (FCUL), que se juntaram a alguns elementos da Universidade de Aveiro (UA) e do IPMA.

 



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