Nova aliança de pescadores da UE nasceu para proteger quotas actuais
Brexit

Associações de pesca de vários países europeus reuniram-se recentemente em Bruxelas para formar uma aliança a favor da continuação do acesso às águas do Reino Unido após a saída do país da União Europeia (UE), referiu o Financial Times. O encontro terá ocorrido na semana passada e representantes de pescadores de nove países terão exigido a continuação desse acesso e avisado que se assim não fosse, o pescado britânico poderia perder o livre acesso ao mercado da UE.

Segundo o jornal britânico, a nova aliança, a Aliança Europeia de Pesca (AEP), representa cerca de 18 mil pescadores de vários países, incluindo Espanha, França, Irlanda e Alemanha, e foi constituída para pressionar os negociadores do Reino Unido e da UE nas futuras negociações relacionadas com o Brexit no sentido de se manter o acesso dos pescadores europeus às águas britânicas como prioridade.

O Financial Times recorda que os pescadores europeus dependem fortemente desse acesso para a sua actividade e que algumas embarcações capturam 80% do seu peixe naquelas águas. Nalguns casos, arrastões de povoações europeias costeiras dependentes da pesca capturam mais de metade do seu peixe em águas britânicas e a nova aliança estima que se considerarmos a generalidade dos países europeus, o rendimento dos pescadores cairá cerca de 50% a curto prazo no caso de lhes ser restringido o acesso àquelas águas.

Sucede, refere o jornal, que vários políticos e grupos de pescadores do Reino Unido exigem a retirada de embarcações estrangeiras das águas do país para reforçar o potencial de capturas dos pescadores britânicos. Alain Cadec, do Comité de Pescas do Parlamento Europeu (PE), citado pelo jornal, terá dito que “estava fora de questão” continuar a conceder livre acesso do pescado britânico ao mercado europeu se não fosse concedido acesso das águas britânicas aos pescadores europeus.

Alain Cadec terá acrescentado que se os britânicos optarem por uma “saída dura” e expulsarem os navios europeus, “terão que compreender que enfrentarão uma Europa dura que defenderá rigorosamente os interesses dos seus membros”. De acordo com o jornal, as afirmações de Alain Cadec reflectem um relatório do PE, segundo o qual a UE está determinada a manter o acesso dos seus pescadores às águas britânicas, sem alterar a actual divisão de quotas, considerada injusta por muitos pescadores do Reino Unido.

Para a AEP, num cenário de saída dura do Reino Unido da UE, seriam perdidos 6.100 postos de trabalho no sector europeu das pescas e existiria uma redução da rota em cerca de 15%, ou seja, aproximadamente de 500 a 600 embarcações.

O jornal também cita um representante da Cepesca, a maior associação espanhola de pesca, para quem se o Reino Unido não quiser pagar uma taxa de 30% pelo acesso do seu pescado ao mercado europeu, “que é o que Organização Mundial do Comércio estabelece”, terá que negociar. E essas negociações estarão sempre ligadas ao acesso dos pescadores europeus às águas do Reino Unido. Como este país exporta a maioria do seu pescado para o continente europeu e importa a maioria do pescado que consome, o acesso a baixo custo ao mercado europeu continuará a ser do seu interesse.

De acordo com Ray Finch, membro do UKIP, o partido independentista britânico de Nigel Farage, favorável ao Brexit, uma imposição de tais tarifas sobre o pescado britânico seria uma loucura e qualquer ameaça de guerra comercial só irá endurecer a atitude do Governo de Londres. Do lado contrário, Gerard Van Balsfoort, da AEP, entende que não existem razões para alterar as quotas britânicas depois do Brexit e que a chantagem não é solução.

 



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