Face à responsabilização dos estivadores pela quebra na exportação portuguesa de automóveis num estudo da OCDE, o sindicato admite que essa conclusão pode ter tido origem nos responsáveis da pasta da Economia
Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística

Ontem, no seu blogue O Estivador, o Sindicato dos Estivadores e da Actividade Logística (SEAL), refutou violentamente a responsabilização dos estivadores pelo prejuízo na exportação de automóveis referida no estudo da OCDE sobre Portugal incluído no novo panorama sobre as economias desenvolvidas, divulgado no dia 21 de Maio.

Segundo a DinheiroVivo, citando ontem o estudo da OCDE, “os protestos dos trabalhadores precários do porto de Setúbal que ocorreram na reta final do ano passado, prejudicaram significativamente a exportação de automóveis e isso teve um impacto negativo no crescimento do país”.

Reagindo a esta consideração, que surgiu no dia de “uma última tentativa para se chegar a acordo para o CCT que devolva a dignidade aos trabalhadores do porto de Setúbal”, o SEAL insinuou que a mesma teria tido origem “eventualmente a pedido de responsáveis da Economia” e acusou a OCDE de destilar “o veneno a que nos habituou para colocar pressão do lado dos estivadores, responsabilizando-os pela quebra do crescimento económico em 2018, de 2,1% para 1,8%, estacionando 0,1% abaixo do Programa de Estabilidade que previa 1,9%”.

Diz também o SEAL que “o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, e o líder da OCDE, Angel Gurría, não responsabilizaram os sucessivos Governos que toleraram que o porto de Setúbal mantivesse durante mais de duas décadas uma estrutura laboral medieval, não responsabilizaram as administrações portuárias que fecharam os olhos aos abusos continuados, nem tão pouco e acima de tudo, responsabilizam os patrões que lucraram milhões com o fruto desse vergonhoso modelo laboral, e ainda têm prolongado as negociações muito para além do inicialmente previsto, por estarem a regatear níveis de respeito que não deviam ser regateados perante quem, nas palavras da OCDE, tem esta capacidade tanto para prejudicar como para beneficiar o crescimento da economia”.

Para o SEAL, “o que trava a economia não são as lutas por melhores condições de trabalho”, mas “as más condições de trabalho, conforme também se pode concluir pelos sucessivos recordes que o porto de Setúbal tem batido desde a integração de mais trabalhadores permanentes”. Que lembra que a “a OCDE foi parceira de todos os Governos que alinharam na aplicação da austeridade e tem assumido a missão de varrer a Europa de direitos laborais; algo que o sindicato continuará a combater.



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