Começou um ciclo de palestras que pretende debater os oceanos, todas as quartas-feiras, pelas 18h, na Associação Naval de Lisboa.
Centro de Comunicação dos Oceanos

Realizou-se, na Associação Naval de Lisboa, a primeira de um ciclo de palestras sobre os oceanos, sob a égide do Centro de Comunicação dos Oceanos, idealizado pela jornalista náutica Nysse Arruda. A primeira palestra contou com a presença de Nuno Marques da Silva, líder do projecto ambiental Artificial Reefs – Rebuilding Nature, em Cabo Verde, Miguel Oliveira, biólogo marinho do Oceanário de Lisboa, e Ana Loureiro da EGF, empresa de referencia no sector ambiental. E aguardam-se mais palestras, às quartas-feiras pelas 18h.

Nesta primeira sessão, Miguel Oliveira contou a história da realização de um dos seus primitivos desejos: afundar embarcações para criar recifes sub-aquáticos artificiais. Tudo começou em 2006, quando um navio avariou em Cabo Verde e o Governo ofereceu o navio. Estava dado o primeiro passo. O navio foi arranjado e afundado, criando assim o primeiro recife de coral artificial em Cabo Verde. “Afundar o primeiro navio foi complicado era uma surpresa. Mas em 15 dias, o navio estava completamente coberto”, e “em 2 meses já havia formação de coral, cheio de peixe”, refere o primeiro impulsionador do projecto, Miguel Oliveira.

No entanto, para o segundo barco, Miguel idealizava algo com uma componente científica e contactou com Nuno Marques da Silva, biólogo marinho. E porque “o sub-aquático de Cabo Verde é riquíssimo”, como refere Nuno Marques da Silva, transformar onde havia areia para que os animais se pudessem prolongar foi o grande desafio, e em 2008 afundou-se o segundo navio, a 3 mil metros de profundidade. Os recifes, num curto espaço de tempo, já detinham espécies. “No fundo, aumentámos a área disponível para vida dos animais”, explica. Há espécies que vêm experimentar o que ali está e vão ficando e vão-se reproduzindo, e assim, 3 meses depois havia mais peixes, seis meses depois já havia filhos dos peixes, ao fim de quatro anos já há gerações de peixes. Neste processo, foi inclusive descoberta uma nova espécie – Manta Capela Macaronésia – microscópica, que não é identificável e que, como refere o biólogo, é um contributo adicional para a ciência.

O financiamento do projecto foi algo complicado pois no início contavam com apoio de várias empresas privadas que, com a crise, foram desistindo. E apesar de os biólogos não serem remunerados, há sempre bastante logística por detrás destes tipo de projectos. O IPMA fez uma prestação de serviços – todas as amostragens e o tratamento de laboratório. Ainda assim, com resiliência, puderam levar o projecto avante e, agora, com vontade de envolver a comunidade local. Até pela simples acção de compatibilizar a optimização do espaço. Por vezes, pescadores, mergulhadores, entre outros, não coabitam bem, mas há apenas que perceber que o espaço é utilizado de forma diferente e em diferentes horários.

E como não podia deixar de ser, o tema do ambiente foi chamado à conversa e foi dada a palavra a Ana Loureiro, da EGF, que rapidamente aludiu às origens. “Tudo começa com o cidadão: o ideal era prevenir. Nós, em casa, quando desenvolvemos as actividades, podemos optar por produtos a granel, reutilizar as embalagens”, mostrando o que cada um pode fazer para que o oceano, dentro de anos, não seja apenas plástico, referiu Ana Oliveira.

É uma vertente recente. A EGF, agora do Grupo Mota-Engil, que está inclusivamente a internacionalizar-se, o que faz é exactamente aproveitar a energia do lixo. Quando não é possível reciclar (os lixos que vêm do mar, por exemplo, vêm demasiado contaminados) produzem energia. Tudo o que é matéria orgânica produz biogás, e portanto é fonte de energia. Para agricultura, aproveita-se o composto que vem da matéria orgânica.

A EGF esteve muito envolvida em todos os processos do encerramento das lixeiras, a implementação de recolhas selectivas, num trabalho contínuo. Há 20 anos este assunto não estava nas escolas, e portanto os passos dados, afirma Ana Loureiro, já estão a ser grandes passos, comparando até com outros países. No entanto, ainda há muito a fazer. “Tudo o que pagamos não é suficiente para tratar de tudo. A pessoa tem de perceber que se reciclar a factura diminui – se for um comportamento generalizado”, termina Ana Loureiro.

 



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