As mudanças no sistema de carbonato oceânico, taxas de calcificação, alterações na base da rede alimentar, factores de stress, como sejam o aquecimento, o excesso de nutrientes, a perda de oxigénio ou a redução de salinidade, são as principais causas da desordem no mar, conclui estudo
Wärtsilä

A BIOCID (Biological Impacts of Ocean Acidification) concluiu um trabalho de investigação interdisciplinar de oito anos, na tentativa de acabar com as alterações climáticas, que conduz à acidificação dos oceanos e à contaminação de alimentos. Este estudo dividiu-se em três fases e teve apoio financeiro de 4,3 milhões de euros do Ministério da Educação e Pesquisa alemão.

O estudo concluiu que nos mais variados habitats do Norte e no Mar Báltico, no Oceano Atlântico e Árctico, além de Papua Nova Guiné, entre outros lugares, as mudanças no sistema de carbonato oceânico influenciam as taxas de calcificação e afectam, por exemplo, o estágio de vida inicial de organismos, bem como a sua fisiologia, reprodução ou a sua distribuição geográfica. A acidificação afecta mesmo os organismos marinhos que são capazes de suportar perder essa habilidade, desde que sejam expostos a outros factores de stress, como o aquecimento, o excesso de nutrientes, a perda de oxigénio ou a redução de salinidade.

De igual modo, pequenas alterações na base da cadeia alimentar podem ter efeitos adversos para níveis tróficos mais elevados. A vida marinha é capaz de se adaptar às mudanças oceânicas e compensar, mas apenas parcialmente, os efeitos negativos. Também a distribuição das espécies no mar pode mudar e isso terá um impacto significativo nas actividades económicas, como a pesca costeira em pequena escala e o turismo.

O oceano, até hoje, já absorveu cerca de um terço do dióxido de carbono (CO2) liberto para a atmosfera por actividades humanas. E quando absorvido pela água do mar, o gás de efeito estufa desencadeia reacções químicas que causam a acidificação do oceano. Contudo, cerca de metade dos recifes de corais tropicais podem ser preservados se as emissões de CO2 forem limitadas a concentrações que mantenham o aquecimento global abaixo de 1,2 graus Celsius.

“Precisamos de nos ver como parte de um sistema global e compreender as várias formas em que dependemos do oceano e dos seus serviços; como todos nesta comunidade global serão afectados pelas mudanças climáticas, será um benefício próprio se conseguimos reduzir as emissões de dióxido de carbono de tal forma que o aquecimento global seja limitado a menos de 2 graus Celsius “, afirma o Prof. Ulf Riebesell , biólogo marinho do GEOMAR Helmholtz Center for Ocean Research Kiel e Coordenador do BIOACID. “O futuro deste planeta depende de nós. Não seria uma grande conquista se o antropoceno (nova idade do homem), a era do domínio humano na Terra, ficar na história como uma era de repensar e mudar o comportamento? ”

Assim, neste estudo considera-se imprescindível a adopção de um estilo de vida e uma economia mais sustentáveis, o que ​​exige uma interacção entre a sociedade, as empresas e a política. Quer isto dizer que é considerado crucial para cada um de nós reconsiderar conceitos de normalidade e ajustar o comportamento na vida quotidiana.

Desde 2009, mais de 250 cientistas BIOACID de 20 institutos de pesquisa alemães investigaram estas questões. A BIOACID contribuiu assim para o exposição científica sobre a acidificação dos oceanos em mais de 580 publicações. O projecto foi coordenado por Ulf Riebesell e também por Hans-Otto Pörtner, eco-fisiologista marinho do Instituto Alfred Wegener, Helmholtz Center for Polar and Marine Research e co-presidente do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC).



Um comentário em “Governo alemão financiou estudo sobre acidificação dos oceanos”

  1. Francisco Portela Rosa diz:

    Contra factos não há argumentos, todavia a situação é bem mais grave do que a é aqui apresentada, senão vejamos.
    Para além desta grave acidificação o irracional comportamento humano está a destruir a biodiversidade, com a utilização de milhares de produtos que encontramos em qualquer supermercado, são líquidos de toda a natureza, a agricultura e a vitivinicultura enviam para o mar milhares de milhões de toneladas de produtos de tratamento.
    Pergunto. Quantas embalagens de produtos e cosméticos tem em casa? conte as embalagens e multiplique pelo nº de habitantes no mundo. O mar não aguenta e é frequente dizerem que o problema dos recursos é a pesca!, não teremos qualquer ser vivo no mar se não mudamos a nossa forma de estar com a natureza.
    Possivelmente ainda somos a geração capaz de conservar a biodiversidade, reflita bem ao comprar um produto, leia atentamente as consequências no meio ambiente.
    Estou a tentar envolver organismos ligados ao mar/ambiente e à investigação de Portugal, França e Espanha a apresentarmos um projeto de financiamento para a criação de logo tipo “Amigo dos Oceanos” que possa ser utilizado pelas empresas após controlo e aval dos três Institutos Públicos Europeus. A nossa escolha será mais fácil. O projeto terá como promotor a Vianapesca OP, mas poderia ser a Gulbenkian, juntamente com quem aderir.
    O Mar é a Primeira das Sete Maravilhas, preservemo-la

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