Os prémios dos seguros marítimos atingiram os cerca de 23 mil milhões de euros em 2016, menos 9% do que em 2015, revela um relatório da International Union Marine Insurance (IUMI) ontem divulgado, confirmando uma tendência destes prémios de seguro (em 2015, os 25,5 mil milhões de euros de prémios já representavam uma queda de 9,9% face ao ano anterior).
Segundo Astrid Seltmann, vice-presidente do Comité de Factos & Números da IUMI, parte desta diminuição do valor dos prémios é atribuída a um Dólar valorizado face a outras moedas. No entanto, a descida também não é alheia às condições adversas da economia global, ao preço das commodities e à vulnerabilidade do transporte marítimo e das actividades offshore.
“Esta preocupante tendência decrescente conduz a uma crescente incompatibilidade entre as receitas e as obrigações das seguradoras de cobrirem grandes perdas, particularmente à luz de uma tendência para navios cada vez maiores e de uma acumulação de riscos em portos”, refere o mesmo responsável.
Segundo a IUMI, em 2016, as receitas dos prémios destes seguros resultaram, maioritariamente do segmento carga e transporte (54%), seguido do segmento de casco (25%), energia e offshore (13%) e responsabilidades marinhas (marine liability) (7%). Por regiões, os prémios tiveram a maior origem na Europa (50,2%), seguida pela Ásia/Pacífico (27,9%), América Latina (9,5%), América do Norte (5,6%), Médio Oriente (4,1%) e África (2,7%).
Por países, no segmento de carga e transporte (12,5 mil milhões de euros, menos 6% do que em 2015), o Reino Unido respondeu pela maior percentagem (13,9%), seguido pelo Japão (8,9%) e pela China (8,4%). O segmento de casco representou 5,8 mil milhões de euros, menos 10% do que em 2015. Já o de energia e offshore representou cerca de três mil milhões de euros, menos 21% do que no ano anterior.
Face a estes resultados, Donald Harrell, Chairman do Comité de Factos & Números da IUMI, admite que “as receitas dos prémios globais continuem a descer, o que coloca o nosso sector sob pressão”. Embora considere que se assista a alguma moderação nas grandes perdas, “essa situação pode reverter-se a qualquer momento”, reconhece, e dá os exemplos dos furacões Harvey e Irma, cujo impacto ainda está por avaliar. Para este responsável, “a exposição ao risco aumentará se os navios forem cada vez maiores e os valores se acumularem nos portos”, que acrescenta que “uma queda nos prémios constitui um desafio para que os segurados continuem a cumprir as suas obrigações, particularmente no que respeita às grandes perdas”.
Donald Harrel considera que a incerteza é a única incerteza neste mercado e que embora a economia global aparente melhorias, há situações que podem gerar impasses que afectem directamente os seguros marítimos. Menciona o Brexit, a ameaça de uma política comercial mais competitiva por parte dos Estados Unidos (com taxas de importação mais punitivas e menos regulação na produção), o mercado adverso no transporte marítimo, a lenta recuperação do preço do petróleo, o crescimento do mercado do gás de xisto e as catástrofes naturais como factores que induzem preocupações no sector.
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