Mário Lopes, professor no IST, considera que embora um novo terminal de contentores no Barreiro possa ser viável, não será competitivo face ao porto de Setúbal sem uma adaptação do projecto às condições naturais do local. Motivo principal: a incerteza quanto ao custo das dragagens
Terminal do Barreiro

“No domínio da carga contentorizada, nos tráfegos de short sea para o abastecimento da região de Lisboa no médio e longo prazo, a solução mais competitiva é o porto de Setúbal”, considerou o professor do Instituto Superior Técnico (IST) Mário Lopes, numa intervenção durante a 3ª edição da conferência «Porto de Setúbal: uma solução para a região de Lisboa», promovida no passado dia 22 de Novembro pela Comunidade Portuária de Setúbal (CPS).

O orador concluía desta forma uma comparação entre as soluções portuárias de Setúbal e do Barreiro para o aumento da capacidade de carga contentorizada. Reconhecendo que o porto de Setúbal não é a única solução viável para o efeito, foi assertivo relativamente à competitividade, que considerou o critério mais válido para decidir entre as duas opções. “Vejo os portos como elementos de desenvolvimento económico e não como fontes de rendimento para o Estado ou os próprios agentes do sector”, referiu.

Na opinião de Mário Lopes, o concurso que o Estado se prepara para lançar para concessionar um novo terminal de contentores no Barreiro corre mesmo o risco de ficar deserto. E porquê? Segundo o orador, porque os custos com as dragagens de manutenção desse futuro terminal são incertos e porque o Estado português já assumiu que tais custos serão sempre da responsabilidade do concessionário. Custos muito elevados com as dragagens afastariam os interessados, considerou.

Num artigo assinado para o Jornal Económico online de 22 de Novembro último, o professor do IST escreveu que “no Barreiro, a profundidade natural é de cerca de 2 metros e em Setúbal cerca de 11 metros; assim, se quiser construir um porto com profundidades de cerca de 15 metros para assegurar a recepção de navios com 14 metros de calado em quaisquer circunstâncias, coloca-se a questão do custo das dragagens; em Setúbal, sabe-se que esse custo é moderado, cerca de 1 milhão de euros por ano para as dragagens de manutenção; no Barreiro, os estudos existentes apontam para 5 ou 10 vezes mais, não se podendo excluir valores ainda superiores devido às incertezas dos modelos de previsão dos volumes a dragar”. E rematava dizendo que “neste contexto, o Barreiro dificilmente poderá oferecer uma alternativa competitiva a Setúbal, acabando os contribuintes a pagar a factura”.

Ora, os contribuintes, ou seja, o Estado, não está disposto a pagar a factura. E no mesmo evento, a própria ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, foi clara na sua intervenção: “quem paga as dragagens não é o Estado”. O que veio confirmar uma intenção já afirmada e reforçar o argumento do risco de um concurso deserto adiantado por Mário Lopes.

Quase no final da sua intervenção, Mário Lopes deixou uma recomendação, aliás, já subscrita no artigo de 22 de Novembro: que seja redimensionado o projecto do terminal de contentores do Barreiro e adaptado às condições naturais do local, para profundidades e dimensões de navios que permitam reduzir os custos das dragagens de manutenção para valores mais competitivos e que não afastem o mercado.

Na intervenção que fez no mesmo evento, e depois de assistir a um painel em que participaram Antoine Velge, da Associação Industrial de Setúbal (AISET), António Andrade, da Tersado, Carlos Vasconcelos, da Medway, e Dinora Guerreiro, da Autoeuropa, a ministra do Mar considerou que muito do que ouvira aos respectivos intervenientes contrariava a estratégia de competitividade para os portos definida pelo Governo e recentemente aprovada em Conselho de Ministros. Na ocasião, Ana Paula Vitorino acrescentou que sob a sua gestão, nunca “haverá uma situação de Setúbal contra Lisboa”.



Um comentário em “Contentores em Setúbal mais competitivos do que no Barreiro”

  1. Manuel Ferreira Fernandes diz:

    E por onde pensam passar com os comboios de mercadorias que transportarão os contentores para e das Áreas Logísticas da Margem Norte do Tejo? Pela Ponte 25 de Abril? E os comboios de 750 m, também?

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