Os esforços do Governo de May para atenuar os efeitos de um Brexit sem acordo no fluxo comercial pelo Canal da Mancha não sossegam a Associação Britânica de Portos quanto à capacidade do sector logístico para responder a esse cenário. E as perspectivas económicas do Executivo a longo prazo nesse mesmo cenário agravam a preocupação da associação
Porto de Kiel

Na sequência da publicação recente de um estudo do Governo britânico sobre o impacto de um Brexit sem acordo no comércio e na economia do Reino Unido e de uma reunião que manteve com membros do Executivo de Theresa May para discutir o grau de preparação dos portos do país para esta eventualidade, a Associação Britânica de Portos (British Ports Association, ou BPA) veio manifestar preocupação com o nível de prontidão da cadeia logística para essa realidade.

Embora reconheça a activação de um plano de resiliência nos portos britânicos e o trabalho construtivo entre o Governo e os responsáveis portuários para mitigação os efeitos transfronteiriços a curto prazo de um Brexit sem acordo no transporte marítimo ro-ro, a BPA desconfia do grau de prontidão da cadeia logística para este cenário, sobretudo depois da revelação do impacto de uma saída desreguada do Reino Unido da União Europeia.

“Vivemos tempos sem precedentes e o Governo activou um plano de emergência para o nosso sector”, referiu Richard Ballantyne, Chief Executive da BPA, acrescentando que espera que “todos os elementos do Governo estejam a trabalhar juntos e a partilhar informação sobre essa matéria”.

Richard Ballantyne referiu ainda que “se a economia abranda, as pessoas e as empresas compram, constroem, fabricam e investem menos, o que tipicamente conduz a uma redução do comércio” e que “existem preocupações com todo sector da logística e os operadores podem não estar preparados, pelo que nós consideramos benvindos os passos que lhes permitam estar preparados”.

De facto, esse abrandamento está previsto no estudo apresentado pelo Governo, que concluiu que a economia britânica abrandaria entre 6,3% e 9% a longo prazo (cerca de 15 anos) num cenário de Brexit sem acordo. E com variações nas diferentes zonas do Reino Unido: quebras de 8,1% em Gales, 8% na Escócia, 9,1% na Irlanda do Norte e 10,5% no Nordeste de Inglaterra.

O estudo alerta para uma possível ruptura no comércio do Canal da Mancha, que geraria a indisponibilidade alguns produtos, embora admita que apenas menos do que um em cada dez bens alimentares fosse directamente afectado por atrasos no transporte marítimo de mercadorias pelo Canal. Todavia, o estudo também reconhece que o Reino Unido depende dessa via para abastecimento de frutas frescas e vegetais.

“Na ausência de outras medidas pelo Governo, alguns preços de bens alimentares podem aumentar e existe o risco de que comportamentos dos consumidores possam ser exacerbados e geradores de carência de alguns produtos”, refere o estudo.

 



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