A senuca (um tipo de cavala, mas mais longa) pode ser o peixe salvação. Devido ao efeito da subida de temperatura dos oceanos, que está a afectar a rede trófica, nomeadamente do Estreito de Beagle, que une o Atlântico ao Pacífico no extremo meridional da América do Sul, e das águas do Atlântico Sudoeste, as espécies tornam-se cada vez mais raras, o que não é positivo nem para a sustentabilidade do local nem para a economia. Ao que tudo indica, a senuca é o peixe que tem capacidade para recolonizar a área marinha.
Conclusões que, de acordo com o estudo publicado na Global Change Biology, levado a cabo por Maria Bas, investigadora do Centro Austral de Pesquisas Científicas (CADIC-CONICET, da Argentina) na sua tese de doutoramento, e pelo professor Lluís Cardona, do Grupo de Pesquisa de Grandes Vertebrados Marinhos do Departamento de Biologia Evolutiva, Ecologia e Ciências Ambientais da Faculdade de Biologia, abrem um “novo cenário sobre a previsão das alterações climáticas que podem afectar as redes tróficas”.
O único senão é a relação da senuca com a pescada, que não é a melhor, uma vez que competem por alimento. Sendo a pescada uma espécie chave para a pesca industrial, a senuca, tendo um impacto negativo na população de pescada, teria um impacto igualmente negativo na economia, pois o seu valor económico é inferior ao da pescada.
O estudo baseou-se na comparação entre a estrutura das redes tróficas mais antigas e mais modernas. Para tal, investigadores realizaram análises isotópicas complementares nas conchas de moluscos antigos e modernos para explorar as mudanças na linha isotópica basal e assim comparar a evolução das redes tróficas marinhas ao longo do tempo. Confirmou-se um padrão de declínio na produtividade primária marinha no Canal de Beagle durante o Holoceno (período quente actual) tardio, bem como uma sobreposição isotópica entre a senuca e a pescada no passado.
Além disso, a exploração dos recursos marinhos na costa da América do Sul alterou a posição de todas as espécies, intensamente exploradas pelos humanos, nomeadamente o lobo-marinho sul-americano (Arctocephalus australis), o leão marinho sul-americano (Otaria flavescens) e a pescada (Merluccius sp.). Um factor que alterou igualmente a dieta das espécies foi a introdução de salmonídeos nos rios.
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