A Portos da Madeira tornou-se no terceiro parceiro pleno (full-partner) português do projecto Atlantic Blue Port Services (@BluePorts), uma iniciativa europeia ligada à gestão e tratamento de águas de lastro em meios portuários e integrada no programa INTERREG Espaço Atlântico. Até agora, só tinham este estatuto a Action Modulers e a Eco-Oil.
A inclusão da Portos da Madeira é uma novidade no projecto, mas não lhe é completamente alheia. Tal como já aqui escrevemos, a Portos da Madeira esteve representada no primeiro dia do kick-off do @Blueports, que decorreu em Setembro, em Lisboa, e durante o qual foi feita uma apresentação sobre a empresa.
A empresa acaba por ocupar o lugar da administração portuária dos Açores, cuja participação esteve prevista em conjugação com a Varela (esta, na qualidade de operadora de resíduos), mas cujo estatuto no projecto nunca chegou a estar completamente definido. Neste momento, a administração portuária dos Açores está incluída, mas apenas como membro associado e a Varela não faz parte do projecto.
Conforme aqui referimos, o porto da Praia da Vitória, na Terceira, chegou mesmo a ser considerado um dos dois locais para um teste piloto do projecto em Portugal, a par do porto de Setúbal que, tudo o indica, continua envolvido. Agora, surge mais um porto no horizonte para o teste piloto: o porto do Funchal.
Segundo apurámos, o orçamento da Portos da Madeira para esta participação é de 125 mil euros. Já os outros dois parceiros têm orçamentos de 218.400 euros (Action Modulers) e 147 mil euros (Eco-Oil). Estes valores são co-financiados em 75% pelo INTERREG. O orçamento global do projecto, que envolve vários outros parceiros europeus, conforme já noticiámos, é de quase três milhões de euros. Informações recentes referem que cabe a Portugal, depois de alguns ajustamentos, um orçamento atribuído de 490.800 euros.
Uma tecnologia interessante
Embora não tenha sido tão falado, o @Blueports também tem uma componente de hidrocarbonetos. O que está em causa é identificar a melhor tecnologia para prestar um serviço aos navios, na lógica do one stop shop (quando um navio escala um porto para efectuar aí todas as operações de limpeza, como a das águas de lastro, dos hidrocarbonetos ou de outros resíduos).
Neste projecto, em portos de vários países europeus, será testada uma tecnologia da empresa holandesa Damen, a IncaSave, para tratamento de águas de lastro. Conforme nos explicou Nuno Matos, Director da Eco-Oil, “o equipamento da Damen faz uma filtração fina, para remoção de organismos de maiores dimensões ou matéria em suspensão, e com recurso a duas baterias de lâmpadas de ultra-violetas, que através da radiação emitida mata os organismos presentes no fluxo já filtrado.
De acordo com este responsável, a técnica utilizada pela Damen não é inédita, mas distingue-se por não recorrer a reagentes. O que a caracteriza “é um conjunto de filtros que removem organismos e detritos arrastados no fluxo de aspiração das bombas de lastro dos navios, até ao ponto em que só temos água com micro-organismos sobre os quais se faz incidir radiação ultra-violeta, que matam esses agentes e eliminam o perigo de contaminação biológica do meio receptor”. Em seguida, faz-se a descarga dessa água, já tratada. ”Ou melhor, de uma água filtrada e sem micro organismos vivos”, esclarece Nuno Matos.
Como o tratamento desta água requer elevado grau de especialização, de que o porto de Setúbal não dispõe porque não cabe nas suas competências, cabe à Eco-Oil colaborar no teste, dispondo para tal do seu terminal neste porto, e que pode vir a ter interesse nesta tecnologia, na perspectiva de mais um serviço que pode prestar aos clientes.
“Nós queremos saber se a tecnologia funciona, quais são os custos da operação, qual é o volume por metro cúbico tratado de resíduos filtrados, se depende ou não do navio, se depende ou não da origem do navio, qual o destino final a dar a esses resíduos”, entre outros aspectos, refere Nuno Matos.
Se tudo correr bem, a Damen tem uma tecnologia para comercializar e a Eco-Oil pode ter interesse em adquiri-la, na perspectiva de gerar negócio. Claro que isto pressupõe a obrigatoriedade do tratamento das águas de lastro por parte dos navios, conforme aliás, estabelece a Convenção Internacional para o Controle e Gestão da Água de Lastro e Sedimentos dos Navios, que entrou em vigor em 8 de Setembro deste ano. Uma regra que nem sempre é cumprida nem sancionada pelas autoridades portuárias ou pelos Estados.
No plano comercial, só uma verdadeira implementação dessa regra torna esta tecnologia interessante, na medida em que quem a adquirir fa-lo-á para prestar um serviço pago aos clientes. Enquanto (ou onde) a água de lastro por tratar continuar a ser largada no mar impunemente, como sucede em inúmeros casos, sem que os navios tenham então necessidade do serviço de tratamento dessas águas, o serviço perde interesse e valor. Sem garantias de obrigatoriedade do tratamento das águas de lastro, diminui o interesse em investir num equipamento deste género.
O papel da Eco-Oil
A Eco-Oil surge no projecto como facilitadora, dotada de meios para operar a tecnologia da Damen e de contactos com os clientes. Segundo apurámos, no âmbito do teste da tecnologia, a empresa prestará tendencialmente de forma gratuita o serviço de tratamento de águas de lastro aos navios. Além de ser um teste, o próprio teste está a ser co-financiado pelo INTERREG, pelo que a Eco-Oil considera que não se justifica aplicar nesta fase tarifas comercial .
A preocupação da empresa é adquirir competências e obter reconhecimento. “Nós procuramos negócio e de acordo com a nossa expectativa as águas de lastro vão ser um negócio complementar ao que já temos”, refere Nuno Matos. “Os navios que vão à Lisnave têm que deslastrar quase por completo para poderem entrar com o calado correcto na doca”, refere, acrescentando que “na Eco-Oil já recebemos os slops (resíduos MARPOL) e passariamos a tratar igualmente as águas de lastro”
Neste projecto, a empresa considera que tem vantagens competitivas, como um cais privado, navios que fazem deslastre no seu cais, actividades com componente ambiental, boa localização, competência e reconhecimento. Em todo o caso, Nuno Matos acha difícil que o teste-piloto ainda ocorra este ano. Entre outros aspectos, anda falta o licenciamento para a operação, “mesmo sendo o teste no nosso terminal”.
Actualmente, a empresa não presta serviço de tratamento de águas de lastro. A sua actividade assenta em dois grandes suportes: um, associado ao aproveitamento e tratamento de resíduos, principalmente de navios – decorrente deste serviço, a empresa recupera a fracção de hidrocarbonetos transportados pelos navios, trata e descarrega a água e, no final do processo de tratamento, envia os resíduos sem aproveitamento para um aterro especializado em resíduos industriais perigosos; outro ocorre depois de ter recuperado os hidrocarbonetes e que consiste na sua conversão num combústivel – o Fuel Oil nº4 de Baixo Teor de Enxofre, uma designação comercial enquadrada na lei.
“Valorizamos os hidrocarbonetos que tratamos, depois refinamos e colocamos no mercado como fuel, semelhante ao produto que sai de qualquer outra refinaria”, esclarece Nuno Matos. Segundo apurámos, a empresa está de forma activa a desenvolver novos projectos em duas outras geografias, embora não possa ainda garantir a sua conclusão com êxito.
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