Em face da importância que o mar reconhecidamente já hoje assume e que, incontornavelmente, assumirá ainda mais no futuro, compreende-se que a estratégia geral das maiores e mais poderosas nações do mundo se centre no mar e nos oceanos.

Tendo a 3.ª maior zona económica exclusiva da União Europeia e a 11.ª do mundo, é hoje também quase de senso comum em Portugal que o mar deve ser uma prioridade nacional, quer porque é um dos grandes atrativos do país, quer pelo enorme potencial por explorar que apresenta.

Neste sentido, é inegável que o mar tem estado na agenda do dia e merecido a atenção do poder político, para o que não deixará de contribuir o desenvolvimento significativo e a importância do turismo e dos setores portuário turístico e comercial, que assumem hoje um papel fulcral na nossa economia. É de salientar, neste âmbito, a criação de um Ministério do Mar e o trabalho que no seu âmbito se tem vindo a desenvolver, assim como a circunstância de existirem já alguns mecanismos concretos no sentido de apoiar e impulsionar o desenvolvimento da economia do Mar, como seja, a título de exemplo, o Fundo Azul.

Contudo, apesar de a denominada economia do mar ter já hoje um peso importante na economia nacional, reconhecidamente continua a estar muito longe de ser explorada na sua plenitude.

Para se falar numa efetiva estratégia nacional para o mar e num efetivo aproveitamento do seu potencial estratégico e económico, será necessário alocar muito mais recursos ao desenvolvimento da economia azul. E a este propósito, se o setor privado terá um papel impulsionador fundamental, não o será menos o do Estado e respetivo poder politico, na criação de condições para que a estratégia se efetive na prática, em concreto, através da criação de medidas consistentes de apoio à dinamização de setores tradicionais como os transportes marítimos, construção naval, pesca, transformação de pescado e turismo, e de promoção do crescimento de atividades emergentes ligadas ao mar e que, com o enorme valor acrescentado que apresentam, podem ser uma grande mais valia, como seja, a construção de eólicas offshore, a exploração energética das ondas e marés, a aquacultura, a biotecnologia e os recursos minerais.

Na tradicional mensagem de Natal aos portugueses, o primeiro-ministro traçou como prioridade nacional para 2018 o emprego, referindo que este está no centro da nossa capacidade de conquistarmos o futuro.

Ora, se assim é na realidade e tendo presente o atual contexto nacional e internacional, outro não pode ser o caminho senão o de por em prática a estratégia e criar medidas concretas em ordem a garantir o crescimento económico sustentável da economia azul e, claro está, a criação de emprego.

Parece-nos que neste contexto, se justificaria uma política forte de incentivo do Estado ao investimento privado e em particular no que respeita ao emprego, à criação de empresas no setor, nomeadamente, sem prejuízo de outras, a criação de um pacote de medidas legislativas concretas a nível fiscal e de segurança social, complementadas com a criação de mecanismos/fontes de financiamento de capital de risco e linhas de crédito, que consubstanciem incentivos relevantes que tornem também por estes motivos apelativo aos privados o investimento no setor.

Sendo o mar o nosso maior recurso natural e com as condições extraordinárias que possuímos, é hora de colocar efetivamente em prática a estratégia nacional, em plena articulação com o setor privado, o que apenas será possível com medidas concretas que potenciem a criação de valor no âmbito deste setor, como aliás tem vindo a ser feito por outros países.

Ficamos na expetativa deste impulso, sendo certo que se o mar e o emprego são efetivamente uma prioridade nacional, como devem ser, seria absolutamente incompreensível que Portugal não apanhasse e acompanhasse esta “onda” internacional.



Um comentário em “Imperativo apanhar a “onda” internacional”

  1. Maria da Luz diz:

    Bom dia Dr Joao Dotti Carvalho, concordo em absoluto com o seu artigo, lamento que os nossos governantes e todas as inumeras entidades que regulam a actividade marítima em Portugal não se debrucem sobre o seu funcionamento e se percam em fóruns e conferencias,deixando nas mãos de alguns interesses privados a influência para ditar as regras a que esses organismos se sujeitam, prejudicando o desenvolvimento da nossa economia e de toda a actividade

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