Depois de um crescimento significativo até 2014, em 2015, a Grimaldi Portugal registou uma quebra de 20% no seu volume de negócios, face ao ano anterior. De acordo com Marcello Di Fraia, responsável pela empresa, o fenómeno ficou a dever-se ao facto de em Portugal o negócio da Grimaldi Portugal estar muito “dependente das exportações portuguesas para os destinos servidos” pela companhia, que são Brasil, Angola e Nigéria. Todos são exportadores de petróleo e viram a sua capacidade importadora diminuída devido à descida do preço do crude, o que afectou a empresa.
Marcello Di Fraia permanece realista. “Se o preço do barril de petróleo continuar a subir, como se espera, nós esperamos uma retoma, mas mesmo assim é imprevisível”, refere. Por outro lado, a empresa está a “fazer um esforço para diferenciar os mercados, mas não podemos inventar mercados para os quais Portugal não exporta”, acrescenta. Isto porque a Grimaldi Portugal não é exportadora, é importadora. Apesar do revés em Portugal, o mesmo responsável recorda que “a nível mundial, 2015 foi o melhor ano de sempre para o Grupo Grimaldi, graças ao short sea shipping (SSS), que é uma das actividades do grupo”.
A importância da carga rolante
A celebrar 10 anos de existência, a Grimaldi Portugal, detida a 100% pelo Grupo Grimaldi, mudou de instalações para um espaço maior e com mais conforto para uma equipa de 21 colaboradores. Até 2006, o Grupo Grimaldi foi representado em Portugal pela Sado Marítima, que adquiriu nesse ano. Como gosta de referir Marcello Di Fraia, a Grimaldi Portugal destaca-se no nosso país por ser “o único operador multipurpose com navios para carga rolante no SSS”. E acrescenta que a mais-valia da empresa é a capacidade de transportar todo o tipo de carga em simultâneo. O que não invalida que os outros operadores de SSS em Portugal constituam uma forte concorrência para a Grimaldi Portugal. “Os outros, em 90 por cento dos casos, são operadores de contentores de SSS”, refere o mesmo responsável. São serviços prestados com navios relativamente pequenos, que fazem um serviço de costa, servindo Portugal e outros destinos, embora com estruturas de linhas semelhantes à da Grimaldi Portugal, admite Marcello Di Fraia. No caso desta empresa, que não utiliza navios exclusivamente concebidos para transporte de contentores, estes são residuais. “Os nossos navios acomodam todo o tipo de carga, incluindo contentores, mas estes vêm por acréscimo”, refere. Em 2015, a empresa transportou 600 TEU de carga contentorizada. A carga mais importante, no entanto, é a rolante. Por este motivo, a principal característica dos navios da empresa é uma rampa. “Todos os embarques são feitos através da rampa, incluindo os contentores, através de empilhadores”, salienta Marcello Di Fraia. E é isso que permite à empresa fazer um serviço que “é a carga de projecto, ou seja, transporte de cargas de projectos especiais, que não são cargas standardizadas”, esclarece. Embora a maior parte do SSS em Portugal seja de contentores, o que permite a esses operadores fazerem aí economias de escala e oferecerem preços mais competitivos, existem concorrentes para cada uma das vertentes do transporte da Grimaldi Portugal.
A propósito da importância da carga rolante, o responsável pela Grimaldi Portugal refere que em 2015 a carga automóvel foi a mais transportada pela empresa. “Estou a falar de veículos novos transportados entre portos do Mediterrâneo e o norte da Europa, com passagem por Setúbal”, esclarece. No total, foram cerca de 75 mil unidades rolantes (mais de 90% foram veículos novos, sendo o restante composto por maquinaria e cargas especiais de projecto) que passaram pelos portos portugueses com a Grimaldi Portugal.
Serviços
Actualmente, a empresa tem três linhas a escalar Portugal. Duas são linhas de SSS e outra não. As primeiras são o Euromed Service e o Euroaegean Service. O Euromed Service tem Setúbal como porto de escala (uma vez por semana), proveniente de Itália (Salerno) e com destino ao norte da Europa, após o que regressa a sul e dirige-se ao Mediterrâneo Oriental (Grécia, Turquia, Egipto, Chipe e Israel), antes de voltar a Itália. O Euroaegean Service vem do norte da Europa, escala Setúbal e vai para o Mediterrâneo. Esta linha também tem uma escala semanal e cruza-se com a anterior em Setúbal, mas são serviços diferentes. Quanto à terceira linha, que não é SSS mas um serviço de deep sea, trata-se do Southern Express Service, que liga a Europa do Norte a portos mais a sul, da costa ocidental africana, e faz escala em Portugal, nos portos de Lisboa e Leixões. Em Portugal, a empresa opera nos terminais da TCL (Leixões), Sotagus (Lisboa), Tersado e Coelho da Mota (Setúbal).
Cada um destes serviços está ligado à rede global da Grimaldi, que vai da Finlândia à Argentina, ou seja, “podemos transportar uma carga em SSS até um certo porto, por exemplo, Antuérpia, onde temos um terminal com 1,5 milhões de metros quadrados de capacidade (maior do que qualquer um dos que existem em Portugal), descarregá-la e carregá-la para outro navio que vai para Luanda, Brasil, Argentina”, refere Marcello Di Fraia.
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