Drewry

Embora mantenha as suas previsões de perdas de 5,2 mil milhões de euros em 2016 para o sector do transporte marítimo de mercadorias, a Drewry, consultora nesta área, admite que os resultados do primeiro trimestre revelam algumas surpresas. A erosão das tarifas foi muito superior à prevista, mas as poupanças em custos unitários foram maiores do que o esperado.

De acordo com a Drewry, com base nos resultados até agora divulgados sobre as grandes empresas do sector, algumas companhias registam lucros operacionais, como a Maersk e a Matson, enquanto outras acusam perdas pesadas. Mas existem tendências comuns à generalidade das empresas, como quebras de dois dígitos nas receitas e margens operacionais menores face ao período homólogo.

A consultora toma o exemplo da Maersk, a principal companhia do sector, que registou uma quebra de 98% no EBIT (Earnings Before Interest and Taxes) no primeiro trimestre deste ano, mas teve resultados acima das expectativas, sobretudo depois das perdas de 121 milhões de euros nos últimos meses de 2015.

Para a Drewry, a recuperação da Maersk assentou nas poupanças de 16% em custos unitários e na redução de 50% em despesas de combustível. As tarifas de fretes ficaram abaixo dos custos unitários, o que representa uma perda, mas registou ganhos resultantes das demurrages (taxas devidas aos armadores por incumprimento de prazos de cargas e descargas).

Apesar do grande diferencial de receitas entre a Maersk e os seus concorrentes, a companhia não é considerada o melhor exemplo para o sector, porque os seus ganhos e perdas surgem “multiplicados por factores não alinhados com a concorrência”, segundo a Drewry.

O seu efeito ascensional, porém, parece alastrar ao sector, nota a consultora, que refere a margem de EBIT de -1,8% da indústria, um ponto percentual acima da registada no último trimestre de 2015. “Os armadores podem ainda estar a perder dinheiro, mas pelo menos travaram a deterioração trimestral que começou no segundo trimestre de 2015”, salienta a Drewry.

De acordo com a consultora, as empresas de transporte marítimo registaram lucros operacionais de 4,3 mil milhões de euros em 2015, muito graças a terem mantido custos inferiores às receitas ao logo de quase todo o ano. A diferença entre custos e receitas estreitou-se à medida que o ano avançou, com a margem de lucros operacionais a cair a cada trimestre, até que os custos ultrapassaram as receitas, já no quarto trimestre.

Da forma como as empresas alinharem estes dois factores dependerá o rumo dos resultados em 2016. Ou simplesmente evitando pesadas perdas, ou obtendo lucros. “O prognóstico não é bom”, considera a Drewry. O insucesso das empresas em recuperar o nível das tarifas dos fretes e alguns relatos de redução contratual das tarifas sugerem que “o pior ainda está para vir, do lado das receitas”, refere a consultora. Enquanto os preços do armazenamento têm progressivamente vindo a subir, desde Janeiro.

A Drewry adianta ainda três cenários possíveis para o sector, com base nos resultados do primeiro trimestre. Um deles prevê perdas de 15% nas receitas por TEU face ao ano anterior, redução de 10% nos custos unitários e uma quebra de 5,2 mil milhões de euros no final do ano. É o mais provável e pressupõe que as mudanças do primeiro trimestre se mantêm ao longo do ano.

Outro, antecipa perdas de 20% nas receitas por TEU, redução de 5% nos custos unitários e perdas finais de 22 mil milhões de euros. Neste caso, as tarifas dos fretes sofrem uma quebra e as poupanças nos custos unitários diminuem. Finalmente, um terceiro supõe perdas de 10% nas receitas por TEU, diminuição de 12% nos custos unitários por TEU e 7 mil milhões de euros. Aqui, as tarifas sobem face ao primeiro trimestre, assim como as poupanças em custos unitários.



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