Para João Franco, Presidente do Porto de Sines, o Porto de Sines é um grande porto e será sempre um grande porto mas corre o risco de, se não crescer, definhar.

O Porto de Sines, o maior porto nacional, um porto de transbordo por excelência, necessita de crescer sob pena de começar a definhar porque, não crescendo, é inevitável que comece a decrescer.

Neste momento, tudo está bem e não há razão alguma para pensar que assim não irá continuar. Atingindo os 2100 navios por ano, entre 44 a 45 milhões de euros de volume de negócios, com um EDITDA de 25 milhões, sendo distribuído por 45% de graneis líquidos, 38% contentores, 13% de graneis sólidos e o restante de carga variada, incluindo agora até gado vivo, transportado pra Haifa, Israel.

No entanto, há o que não depende da Administração, como necessidade de negociar rapidamente as concessões dos terminais de contentores, rever a linha ferroviária para Espanha e o estabelecimento de uma grande unidade logística.

No primeiro caso, João Franco defende a necessidade de se negociar rapidamente o alargamento do terminal de contentores, obrigando a Administração Portuária à construção de um molhe que terá um custo na ordem dos 50 milhões de euros, passível de ser realizada em dois anos com meios próprios, sem necessidade de recorrer aos Bancos, não deixando de acentuar a sua importância porquanto qualquer atraso pode significar o desinteresse do concessionário e, a seu tempo, o abandono do projecto, não sendo, para o caso e circunstância, muito significativo os 300 milhões de euros entretanto aí investidos.

Em segundo lugar, a questão da ligação ferroviária a Espanha, embora represente apenas 15% do movimento, é importante, mesmo decisivo, para fixar mercado e linhas. Todavia o que sucede é, por um lado, a linha não permitir senão comboios somente até 450 metros e não até 750 metros, as composições verdadeiramente competitivas, para além de não ser directo e obrigar a um desvio pela Bobadela, com inevitáveis custos acrescidos.

Trata-se de uma obra já decidida mas ainda sem data de execução, não se prevendo que possa estar concluída em menos de 5 anos, o que também, nas actuais condições de mercado, não deixa de ser algo preocupante.

Finalmente, outra questão crucial é a instalação de uma grande unidade logística, como a Auto Europa em Setúbal, de forma a transformar Sines no grande pólo logístico internacional para o qual também foi pensado e onde as suas potencialidades ainda estão por explorar inteiramente nesse domínio.

As declarações de João Franco foram proferidas Sábado passado, na manhã do segundo dia do Tech Sines 2016, a I Feira do Mar que ocorreu em Sines de 8 a 10 de Julho, numa organização do Sines Tecnopólo, à beira da Praia Vasco da Gama, hoje, com bandeira Azul, o que o Presidente da APS também aproveitou para sublinhar como bem representativo das preocupações e bom desempenho ambiental do Porto de Sines.

Como referiu Mónica Brito, Directora Executiva do Sines Tecnopólo e a principal responsável pela organização da Feira do Mar, a intenção sempre foi dinamizar as actividades ligadas ao mar de uma terra já de si muito ligada ao mar, chamando também a atenção para a necessidade, cada vez maior cooperação entre todos quantos, de uma forma ou outra, estão já ligados ás actividades marítimas.

O mote, de certo, que presidiu também a uma espécie de tertúlia livre que reuniu nessa tarde, para falar e debater os caminhos possíveis para impulsionar a economia do mar e onde estiveram presentes, entre outros participantes, a EDP Inovação, a WavEC, a Alga Plus, a Team Work, o IPMA, a AICEP Global Parques, a Ciência Viva, o FORMAR, a Aporvela e a ERTA, além, naturalmente, da própria APS e Sines Tecnopólo.

Uma tertúlia onde talvez as principais conclusões a retirar respeitem à falta de efectiva cooperação entre os vários agentes ligados ao mar ou a projectos de alguma forma relacionados com o mar, bem como ainda uma certa falta de visão das reais cadeias de valor dos mesmos projectos, para além de sempiternas questões administrativo-burocráticas, dos licenciamentos à falta de adequado ordenamento marítimo.

Num ponto, todos os intervenientes pareceram concordar, ou seja, em Portugal, apesar de muito se falar do mar, ainda vivemos muito virados de costas para o mar, sobretudo em termos económicos.

Entretanto, o primeiro dia do Tech Sines 2016 foi ocupado com uma Conferência no Auditório da APS onde se procurou mostrar um pouco do que de melhor se faz em Portugal nas várias áreas ligadas ao mar, desde as energias renováveis marinhas, com duas apresentações, uma da WavEC e outra da Team Work, empresa pioneira em Portugal, e de alguma forma quase até no mundo, no desenvolvimento de sistemas de produção de energia eléctrica a partir da energia das ondas, a área da robótica, com uma apresentação do Instituto de Sistemas e Robótica do Instituto Superior Técnico, da exploração do mar profundo, também com duas apresentações, sendo uma da Estrtura de Missão para Extensão da Plataforma Continental e outra do Instituto Dom Luiz da Universidade de Lisboa, sobre as potencialidades e riqueza dos nossos fundos marinhos, bem ainda como uma apresentação da Alga Plus sobre as potencialidades do desenvolvimento da biotecnologia em Portugal e, em particular, em relação à aquacultura e aproveitamento das algas, como é o seu caso.

Uma Conferência que encerrou com uma apresentação de Tiago Pitta e Cunha dedicada ao tema, «O Desígnio do Mar – Como Passar da Teoria à Prática», onde chamou particularmente a atenção para o grande desafio do Séc. XXI, a descarbonização e a importância do mar para essa descarbonização, desde o fornecimento de proteínas ao sequestro do carbono, alertando para a importância para não nos atrasarmos como chegámos atrasados à industrialização, para referir apenas um dos mais notáveis e infelizes casos.

Para os mais novos, é ainda de destacar o concurso de embarcações sustentáveis, organizado pela Aporvela, englobando a construção das mesmas e da consequente prova da sua capacidade para navegar.

 



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