A pequena pesca, também denominada vulgarmente artesanal, é exercida por navios de pesca de comprimento de fora a fora inferior a 12 metros que não utilizam artes de pesca rebocadas (Regulamento (EU) n.º 508/2014). Este tipo de pesca tende a ser fortemente ancorado em comunidades locais, refletindo ligações históricas com os recursos da pesca, as tradições e valores locais e é reconhecido, valorizado e reforçado pela FAO (Food and Agriculture Organization) devido ao contributo deste tipo de pesca para o desenvolvimento sustentável das regiões, para as economias e regras nacionais e para a segurança alimentar e desenvolvimento de boas práticas.
Segundo dados da FAO, a pequena pesca representa cerca de 80% das embarcações a nível mundial, o que se reflete na atividade económica, contribuindo com cerca de 50% das capturas globais de pescado e empregando mais de 90% de profissionais relacionados com o setor, representando uma atividade económica fundamental para o emprego direto e indireto.
Em Portugal, devido à sua zona costeira extensa e plataforma continental de elevada produtividade biológica, a pequena pesca assume uma expressiva importância com uma frota constituída em 80% por embarcações artesanais. Esta atividade está fortemente ligada a pequenas comunidades piscatórias que se distribuem ao longo de todo o litoral português e conta com as seguintes características:
- Forte implantação ao longo de toda a costa portuguesa
- Diversidade de artes de pesca e espécies capturadas
- Elevado valor comercial dos produtos
- Elevado número de pescadores e outros agentes envolvidos
- Importância socioeconómica e cultural
Neste contexto e com base no conceito Re.Ci.Pro.Co (RElação de CIdadania entre PROdutores e COnsumidores) surgiram os projetos Cabaz do Mar, Cabaz do Peixe e Cabaz Fresco Mar. Estes circuitos curtos de comercialização de pescado têm como objetivo a redução do número de intermediários, criando relações de proximidade e reciprocidade entre quem pesca e quem consome, contribuindo assim para a valorização do pescado desde a produção e para a promoção da identidade das comunidades piscatórias dos respetivos concelhos.
Numa lógica de que todos ganham, o pescado é vendido a um preço justo para todos, justo para quem pesca e justo para quem consome. O pescador vê o seu pescado valorizado e o consumidor usufrui da possibilidade de receber pescado fresco e pronto a ser confecionado, entregue num local, data e periodicidade acordada entre as partes.
A Docapesca apoia estas iniciativas de valorização das boas práticas num contexto de proximidade, permitindo o escoamento de espécies locais pouco valorizadas e informando o consumidor final sobre as características dessas espécies e forma de as cozinhar com receitas simples e económicas.
CABAZES DE PESCADO
- Os cabazes são compostos por pescado fresco da costa portuguesa, proveniente da pesca artesanal – uma pesca sustentável e vendidos a um preço justo para todos.
- O pescado que integra os cabazes é adquirido em lota pela Associação local, de forma a promover a proximidade entre o pescador e o consumidor.
- Os cabazes são compostos por 3Kg ou 5Kg de pescado selecionado, de acordo com a sazonabilidade das espécies e com uma lista de espécies mais comuns em cada região.
- O pescado incluído nos cabazes é entregue já amanhado (escamado e eviscerado), devidamente acondicionado e pronto a ser confecionado.
Receita de Hélder Salvador
SOPAS DE BODIÃO
Ingredientes
1 kg de bodião
2 cebolas grandes
1 tomate grande maduro
4 dentes de alho
1 ramo de salsa
1,5 dl de vinho branco
1 dl de azeite
Massa de pimentão q.b.
Sal q.b.
Orégãos q.b.
Instruções
- Coloque num tacho o azeite com as cebolas e os alhos picados, o tomate descascado cortado aos bocados, a massa e pimentão, a salsa, o sal e o vinho branco. Deixe cozer em lume brando cerca de 5 minutos. Passe este molho com a varinha mágica.
- Corte o bodião às postas e adicione-o ao molho. Junte um pouco de água a gosto e aguarde cerca de 10 minutos para o bodião ficar cozido. Pouco antes de desligar o lume, junte orégãos.
- Corte pão do dia anterior e coloque-o numa “pelengana” (o mesmo que palangana). Despeje sobre o pão o bodião com o molho de tomate.
Receita de Piedade Silva, mulher de pescador – Azenha do Mar
MASSADA DE RASCASSO
Ingredientes
1 kg de rascasso
1,5 dL de azeite
1,5 dL de vinho branco
2 cebolas
2 dentes de alho
2 colheres de sopa de azeite
750 g de tomate maduro
1 folha de louro
1 ramo de salsa
1 pimento verde
500 g de massa de cotovelos pequenos
Coentros q.b.
Sal e pimenta q.b.
Vinagre ou sumo de limão q.b.
Instruções
- Coloque num tacho o azeite com as cebolas e alhos picados, o pimento, o tomate descascado cortado aos bocados, a salsa, o sal e o vinho branco. Deixe refogar em lume brando cerca de 5 minutos. Passe este molho.
- Junte a folha de louro e água suficiente para fazer a sopa.
- Corte o rascasso aos bocados e adicione-o ao molho. Aguarde cerca de 10 minutos para o peixe ficar cozido. Retire o peixe e reserve.
- Junte a massa à sopa e deixe cozer. Pouco antes de desligar o lume, junte o peixe.
- Desligue o lume e junte os coentros picados e um pouco de vinagre ou sumo de limão.
Dicas
O rascasso possui nas barbatanas dorsais raios duros ligados a glândulas venenosas, que podem provocar feridas dolorosas. Para arranjar este peixe, assegure-se de que corta estes raios antes de o manusear mais. Em seguida, pode arranjá-lo como a maioria do peixe, retirando as escamas e as vísceras. Esta receita pode ser usada com outros peixes (ex.: pata-roxa, safio, raia).