À beira da sua primeira conferência anual, a Bluebio Alliance (BBA) congrega 95 indivíduos, empresas, instituições e entidades públicas e privadas portuguesas relacionadas com os biorecursos marinhos e as biotecnologias marinhas. Menos de um ano após a sua constituição, em Julho de 2015, esta associação é uma referência no sector, ouvida em Portugal e no estrangeiro, e representa um conjunto de actividades que cada vez mais vai adquirindo voz própria.

Os membros da BBA cobrem toda a cadeia de valor do sector, mas a investigação tem uma representatividade destacada, representando cerca de 50 por cento do total. “Em Portugal, este sector ainda é eminentemente académico”, refere Helena Vieira, Directora Executiva da BBA e professora convidada da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, além de co-fundadora da empresa My.Skinmix. Um sintoma do peso da investigação neste domínio encontra-se no volume de artigos assinados por portugueses em publicações científicas. “Somos dos países que mais publica nesta área, do ponto de vista académico”, salienta Helena Vieira. Apesar do predomínio de Universidades e Institutos científicos, a BBA também acolhe muitas start-ups, especialmente no âmbito da biotecnologia e da aquacultura, e algumas indústrias de maior dimensão nas áreas de alimentação e saúde. Já na área da cosmética existe menos representatividade. E é menor ainda se falarmos de distribuição final ao consumidor.

 

O papel da BBA

Mais importante do que o número de membros é o papel da associação junto de instâncias nacionais e internacionais. “Hoje, qualquer entidade que necessite de apoio para contactar uma empresa ou aceder a dados de mercado, por exemplo, recorre a nós”, esclarece a Directora Executiva da BBA. “Também temos tido um papel importante em Bruxelas, ao ponto de influenciarmos algumas das decisões que se tomam em termos de políticas europeias relacionadas com este sector”, refere a mesma responsável. A Direcção-Geral de Assuntos Marítimos e das Pescas (conhecida por DG MARE, ou Directorate-General for Maritime Affairs and Fisheries) da União Europeia (UE) consulta a BBA e o próprio Comissário Carlos Moedas, responsável pela Investigação, Ciência e Inovação na Comissão Europeia (CE), convidou a associação a pronunciar-se sobre a estratégia da bio-economia para a Europa. Finalmente, a BBA também recebe solicitações de entidades estrangeiras que querem replicar o modelo da associação nos seus países.

A BBA actua em quatro eixos estratégicos: escala e cooperação, internacionalização, financiamento e empresas. A internacionalização e o financiamento são, porventura, as principais preocupações. Por um lado, importa projectar o sector no exterior, em particular, as empresas. Por outro, não só a BBA tem que se auto-financiar, como as próprias empresas carecem de investimento para desenvolverem a sua actividade e o recurso a fundos comunitários, por exemplo, é uma das vias para esse fim. “Fizemos candidaturas a fundos comunitários, como associação, para captar apoio destinado a acções que permitam a sustentabilidade da associação, mas que gere retorno aos associados, designadamente, em projectos de divulgação, comunicação e estímulo ao empreendedorismo”, refere Helena Vieira. “Temos vários projectos submetidos e entramos com os membros”, esclarece. A BBA funciona como ponto de contacto de investidores privados dispostos a apostar no sector e que recorrem à associação tendo em vista obter apoio na obtenção de financiamento. Recentemente, a BBA promoveu um workshop para ajudar as candidaturas a conquistar financiamento através do Horizonte 2020 e já está em preparação outro para efeitos do Portugal 2020 e do Mar 2020. “Nesse workshop, foram dadas ferramentas para as candidaturas ao Horizonte 2020, período de 2016-2017, e nesta fase estamos num processo de recolha de intenções, em que reunimos os associados por grupos de trabalho”, esclarece Helena Vieira. Estão em causa projectos a desenvolver por consórcios internacionais, avaliados de 4 a 20 milhões de euros cada um e que demoram cerca de seis meses a um ano a preparar, pelo que só a partir do segundo semestre deste ano devem converter-se em candidaturas. Serão financiados pelos parceiros, geralmente cinco ou seis por candidatura, e pela UE. Os parceiros podem ser externos, normalmente de Estados membros, e exteriores à UE, sendo então designados “third party”, como os provenientes de Israel, Canadá ou países africanos, e participam por associação a parceiros de Estados membros. “Vamos fazer o mesmo para o Portugal 2020”, refere a Directora Executiva da BBA.



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