Um artigo científico no jornal «Plos One» veio reforçar a ideia de que é importante aumentar a protecção da Reserva Marinha das Ilhas Selvagens, apesar de a expedição de 2016 ter ali registado a existência de um ecossistema diversificado e equilibrado
Greater Sunrise

 

Num artigo sobre a expedição Pristine Seas da National Geographic às Ilhas Selvagens (2016) publicado em 14 de Novembro último no jornal científico «Plos One» e do qual Emanuel J. Gonçalves, biólogo marinho e conselheiro especial do Conselho de Administração da Fundação Oceano Azul, é um dos subscritores, é confirmada a necessidade de expandir a reserva marinha daquelas ilhas.

Em comunicado emitido pela Fundação Oceano Azul e que sintetiza algumas conclusões do artigo, refere-se que “a expansão da área marinha protegida da Reserva Natural das ilhas Selvagens garantirá que a zona costeira continuará a ser protegida, mas permitirá também proteger uma parte importante das espécies que habitam esta região do Atlântico Nordeste”, como baleias, golfinhos, atuns, espadartes, tubarões e muitas aves marinhas, incluindo a cagarra, que apresenta a maior colónia do mundo nestas ilhas.

Segundo se refere no comunicado, “os cientistas pensam que com esta protecção adicional, ficam salvaguardadas as rotas de migração destas espécies pelágicas, bem como os ambientes do oceano profundo” e que “uma reserva marinha de grandes dimensões na região”, melhora os stocks pesqueiros, beneficiando a “actividade da pesca nas áreas envolventes à reserva”.

“Os resultados obtidos sugerem ainda a necessidade de melhorar as medidas de gestão das pescas e a protecção das zonas costeiras na Madeira, nomeadamente aumentando as áreas marinhas protegidas para que o ecossistema marinho recupere e, dessa forma, se fortaleça o capital natural marinho, essencial para sustentabilidade das atividades da ilha”, refere o comunicado da Fundação Oceano Azul.

Entre as conclusões confirmadas pelo artigo científico estão as de que “várias espécies com valor comercial, como garoupas, xaréus (charuteiros) e peixe-porco, que se encontram sobre-exploradas nas ilhas adjacentes, são muito mais abundantes nas Ilhas Selvagens; onde atingem também maiores dimensões” e de que “a biomassa total de peixes costeiros é três vezes superior nas ilhas Selvagens” à da ilha da Madeira.

Concluiu-se também que “o ecossistema marinho costeiro das Ilhas Selvagens encontra-se saudável, apresentando uma cobertura de organismos bentónicos equilibrada” e que “na ilha da Madeira existe uma cobertura de algas reduzida, dominada por espécies incrustantes e uma cobertura de 65% de ouriços-do-mar”. No entanto, “as densidades elevadas de herbívoros, como o ouriço-do-mar, indicam desequilíbrios graves nos ecossistemas, como resultado, por exemplo, de uma intensa actividade pesqueira ou de outros impactos antropogénicos”.

Diz ainda o comunicado que “apesar destes resultados, existem ameaças ao ambiente marinho das Ilhas Selvagens que incluem a pesca ilegal e a pesca de grandes pelágicos, como o atum, nas zonas limítrofes à área desta pequena reserva”, recordando que “a área de protecção actual limita-se aos 200 metros de profundidade, existindo actividades de pesca muito próximas da zona costeira das Ilhas Selvagens, o que resulta em impactos negativos para o ecossistema marinho”.

Sublinha-se igualmente que “a expedição identificou muitas espécies com interesse comercial ou de conservação nos ambientes marinhos costeiros, bem como no oceano profundo, à volta das Ilhas Selvagens”, sem que estes ambientes e espécies se encontrem actualmente protegidos.

 



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