Um ano depois de ter começado a transportar madeira para uma fábrica de celulose no Uruguai, através do rio do mesmo nome, o Grupo ETE – Empresa de Tráfego e Estiva faz um balanço positivo da operação, conforme nos diz um responsável por vários dos seus projectos, Pedro Virtuoso. O Grupo ETE é um dos três sócios da empresa que ganhou o concurso para transportar cerca de dois milhões de toneladas/ano de madeira até à fábrica das multinacionais Stora Enso e Arauco. Uma empresa uruguaia e outra chilena são parceiras do grupo e o volume de carga transportada representa um terço do total da madeira que abastece a fábrica. Para o efeito foram construídas no Uruguai e Paraguai quatro barcaças de cinco mil toneladas cada, que se juntam a dois empurradores/rebocadores na operação.
O êxito neste projecto reforça a aposta do Grupo ETE no mercado sul-americano, onde espera conquistar novos negócios, designadamente, na Colômbia. Reflecte também a dificuldade das empresas portuguesas penetrarem no circuito europeu do transporte fluvial, cujo mercado «está muito preenchido», admite Pedro Virtuoso. Mas não significa negligência face ao mercado nacional, no qual o Grupo ETE continua empenhado. Por ano, o grupo é responsável pela movimentação de cerca de 600 mil a 700 mil toneladas de carga através da via fluvial em Portugal, principalmente clínquer e cereais.
Um dos mais recentes projectos em que está envolvido é a possibilidade de transportar minério de ferro das minas de Torre de Moncorvo até ao Porto de Leixões. O estudo de impacto ambiental já foi entregue e está em análise. Se for aprovado e o projecto avançar, o Grupo ETE poderá transportar até seis milhões de toneladas/ano de minério de ferro, num negócio que poderá representar 600 milhões de euros. Recentemente, Carlos Guerra, consultor da Minning Technology Investment Ferros de Moncorvo S.A. (M.T.I.), admitiu ao Jornal do Nordeste que esta jazida é a «segunda maior da Europa» e o mesmo órgão de comunicação, citando a M.T.I., refere que as jazidas ascendem a 570 milhões de toneladas de minério de ferro, podendo significar um período de exploração de 60 anos. Ao mesmo órgão, o consultor da M.T.I. acrescenta que haveria possibilidade de se começar a produzir imediatamente 3,5 toneladas por ano e que nos primeiros anos a produção rondará as 500 mil toneladas, crescendo progressivamente até às 2,2 milhões de toneladas ao fim de oito anos, antes de entrar «em velocidade de cruzeiro», a um ritmo que dependerá da melhoria de algumas infra-estruturas.
A esse propósito, damos conta nesta edição de várias candidaturas a financiamentos comunitários por parte do Porto de Leixões, através do programa CEF – Connecting Europe Facility, com potencial impacto neste projecto. Uma delas é a Via Navegável do Douro 2020 (1.ª fase), dirigida à melhoria das condições de navegabilidade do Douro, através de investimentos na segurança e nas condições de operacionalidade que possam permitir um «tráfego fluido, sustentável e seguro», conforme nos esclareceu a Administração dos Portos do Douro, Leixões e Viana do Castelo (APDL). Entre as intervenções previstas estão projectos de execução e estudos de impacto ambiental da correcção geométrica dos troços Cotas-Valeira e Saião-Pocinho, um Observatório para a Via Navegável do Douro e vários outros estudos. Outra é a candidatura para a Plataforma Logística Multimodal do Porto de Leixões, cujo investimento «contribuirá de uma forma decisiva para desenvolver o Porto de Leixões e transformar a Área Metropolitana do Porto numa plataforma de valor acrescentado, com condições para a atracção e fixação de agentes da logística e de distribuição que permitam ancorar novo tráfego para o Porto de Leixões e para as comunidades e cadeias logísticas envolventes», refere a APDL. Recorde-se ainda que a APDL possui um novo órgão de consulta, o Conselho de Navegabilidade do Douro, para abordar questões relacionadas com a navegabilidade do rio.
De acordo com Pedro Virtuoso, o Grupo ETE mantém outros projectos no quadro do transporte marítimo fluvial nacional. Um deles é o terminal fluvial em Castanheira do Ribatejo e que poderá estar concluído no final de 2016, se tudo correr como esperado. O projecto está pronto há dois anos, mas entretanto foi publicada nova legislação que impôs a realização de um Estudo de Impacto Ambiental, que está em curso. Como nos disse Pedro Virtuoso, «até ao fim deste ano deve estar concluído o processo do Estudo de Impacto Ambiental e a autorização». No entanto, como as obras não poderão começar durante o período mais chuvoso e «provavelmente só começarão em Abril ou Maio, só no final do próximo ano é que deverão estar terminadas». Conforme nos esclareceu o mesmo responsável, o novo terminal deverá localizar-se junto à Plataforma Logística de Lisboa Norte, já infra-estruturada mas ainda sem armazéns, e beneficiará das vias rodoviárias e ferroviárias próximas. O objectivo deste projecto passa pelo transporte fluvial de contentores via Tejo, a partir de navios que estejam junto aos terminais de Lisboa.
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