Nasceu no passado dia 9 de Abril em Cascais a Bluebio Alliance, uma organização que reúne toda a cadeia de valor dos biorecursos marinhos, uma área cada vez mais importante dentro da «economia azul» e na qual Portugal pode vir a ter um papel de liderança.

Numa altura em que a competitividade e a internacionalização da economia portuguesa são considerados objectivos nacionais primordiais não podia fazer mais sentido esta aliança. Mais ainda quando, com vista a atingir esses objectivos, se fala de estratégias de eficiência colectiva, em organização colectiva inteligente, bem como de estratégias de organização colectiva territoriais, urge ser consequente e saber fazer opções. Apostar nos sectores da economia nacional que apresentam maior potencial de desenvolvimento e apoiar em Portugal o sector dos biorecursos marinhos deve ser uma prioridade nacional.

Pela sua geografia avassaladoramente marítima e pelas condições biogeofísicas de que beneficia, Portugal dispõe de uma considerável biodiversidade marinha, a qual pode ser utilizada como matéria-prima por uma indústria de biotecnologia do mar. Adicionalmente, os recursos humanos qualificados e o parque laboratorial existentes nas mais de duas dezenas de centros de conhecimento do mar disseminados por todo o território continental e nos arquipélagos dos Açores e da Madeira facilitam o rápido desenvolvimento deste sector. O facto de o mercado de produtos, serviços e processos de biotecnologia ser um mercado com escala global constitui igualmente uma oportunidade, permitindo a autonomia do sector relativamente às condições económicas do nosso pequeno mercado nacional. Com estas condições não surpreende que nos últimos três ou quatro anos tenham começado a surgir em Portugal novas empresas, por vezes oriundas dos laboratórios da academia (spin offs), que se dedicam à biotecnologia e que recorrem cada vez mais frequentemente a biorecursos marinhos. São muitos os factores e as tendências que concorrem para que o desenvolvimento da biotecnologia seja uma realidade marcante das nossas economias e sociedades no médio e longo prazo. Se hoje as estimativas apontam para uma incorporação de biotecnologia em menos de 20% dos produtos manufacturados à escala global, prevê-se que este número ultrapasse os 50% em dez anos. A expansão da biotecnologia para o sector agro-alimentar, têxtil, farmacêutico, nutracêutico, cosmético, energético e dos biomateriais, incluindo dos plásticos, entre tantos outros, explica essa previsão e abre caminho para inovar.

É assente nestes pilares de conhecimento e biorecursos nativos, escala e organização da cadeia de valor, e globalização dos mercados potenciais que surge a Bluebio Alliance. A rede engloba todos os subsectores da cadeia de valor dos biorecursos marinhos e que conta já com mais de 80 membros, incluindo os produtores de matéria-prima, as empresas de biotecnologia, as unidades de investigação, os prestadores de serviços, o sector público e os utilizadores dos produtos finais, é orientada à partilha de conhecimentos e ideias, bem como à dinamização da cadeia de valor, acelerando o crescimento das empresas, criando valor e postos de trabalho. Esta iniciativa irá potenciar a afirmação de Portugal como um país líder europeu no avanço e desenvolvimento da biotecnologia marinha.

Será esta uma ambição impossível? Ou antes uma ambição calculada? Os seus fundadores, Câmara Municipal de Cascais, Ocean Vision e AESE, bem como a sua equipa executiva, acreditam que esta última é a opção válida. Ambição calculada é algo positivo que constrói caminhos para se atingirem objectivos. E a Bluebio Alliance é ambiciosa. Ambiciona ser líder, nacional e principalmente internacionalmente no sector dos biorecursos marinhos e biotecnologia do mar demonstrando como o foco na cadeia de valor e no mercado são os rumos a seguir. A bioeconomia será uma economia dominante num futuro não já distante e as nações com acesso privilegiado a tais recursos têm assim a opção de estar na linha da frente deste paradigma de mudança.

 



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