A prospecção já foi condenada pelos Estados Unidos e pela União Europeia, mas a Turquia insiste que tem direito a prossegui-la, tal como a República Turca do Chipre do Norte, reconhecida apenas por Ancara
Norled

O navio de prospecção Faith, da companhia petrolífera estatal turca, está pronto a começar as operações de prospecção de hidrocarbonetos ao largo da costa ocidental de Chipre, referiu o Maritime Executive. Como a área em questão se integra na Zona Económica Exclusiva (ZEE) reclamada por Chipre, a operação tem sido criticada não só pelo Governo cipriota, mas também pelos Estados Unidos e pela União Europeia (UE), que têm apelado ao fim das mesmas.

Face aos últimos preparativos turcos para começar a operação, o Governo de Nicósia deu início a um processo de emissão de um mandato internacional de captura para a tripulação do navio. Se o Governo obtiver tal mandato junto das instâncias judiciais cipriotas, tenciona enviá-lo à Europol para execução, terá admitido o sub-secretário da Presidência turca, Vasili Palmas, citado pelo Maritime Executive.

Importa recordar que a ilha de Chipre, no Mediterrâneo Oriental, está dividida em duas administrações, uma com capital em Nicósia, próxima do Governo grego e reconhecida internacionalmente, e outra, no norte da ilha (República Turca de Chipre do Norte, ou RTCN), só reconhecida pela Turquia. O Governo de Nicósia reclama direitos de ZEE sobre a costa de toda a ilha e até já terá emitido licenças de exploração e produção para zonas ao largo da costa sul e oriental de Chipre. Por seu lado, a Turquia, que defende o direito da RTCN a beneficiar dos seus recursos naturais, vai desenvolver actividades de prospecção numa zona marítima que considera da RTCN.

Os Estados Unidos, aliados da Turquia na NATO, através do Departamento de Estado, manifestaram preocupação pelas intenções turcas de começar a prospecção offshore reclamada pela RTCN na sua alegada ZEE, que consideram uma provocação com potencial de aumentar tensões e riscos no Mediterrâneo Oriental. E instaram Ancara a parar as operações, encorajando todos os envolvidos a agir com contenção.

A Turquia já respondeu, através do Presidente Erdogan e numa conferência de imprensa da NATO com a presença do Secretário-Geral da organização, Jens Stoltenberg, admitindo que tem o direito de explorar, acrescentando que “os legítimos direitos da Turquia e da RTCN sobre os recursos energéticos do Mediterrâneo Oriental não são questionáveis”. Erdogan acrescentou que espera que a NATO respeite os direitos turcos neste processo e apoie a Turquia na prevenção de tensões.

A UE, pela voz da sua representante para as relações externas, Federica Mogherini, instou a Turquia a travar a sua exploração de petróleo e gás ao largo de Chipre, já condenada pela instituição europeia, e manifestou preocupação por esta iniciativa.

Entretanto, um segundo navio de prospecção turco, o Yavuz, deverá juntar-se ao Faith no Mediterrâneo logo que termine as operações de manutenção em curso que decorrem num estaleiro na Marmara.



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