Uma mensagem de SMS a convidar estivadores de Aveiro para trabalharem três dias no porto de Setúbal provocou uma reacção dura do sindicato dos estivadores na qual o Ministério do Mar é acusado de colaborar com os operadores portuários
Pedro Siza Vieira

Os estivadores do porto de Setúbal reagiram mal ao que terá sido uma mensagem de SMS dirigida aos trabalhadores da estiva do porto de Aveiro assinada por Fernando Curval, Director Técnico da empresa GTS, convidando esses estivadores a “fazer parte de uma equipa requisitada para colmatar as falhas no porto de Setúbal durante 3 dias”. Nessa mensagem, o autor garante aos trabalhadores interessados “transporte, dormida, escolta de segurança pública e salário a informar atempadamente”, no âmbito de um plano provisório.

Ontem, à RTP, no porto de Setúbal, António Mariano, do Sindicato dos Estivadores e Actividade Logística (SEAL), afirmou que o autor da mensagem tinha a cobertura do Ministério do Mar para enviar tal mensagem e acusou o Ministério do Mar de “promover o tráfico de escravos entre portos”. De acordo com a RTP, que procurou uma reacção de Fernando Curval, o subscritor da mensagem não terá querido prestar declarações, tendo apenas afirmado que não se iriam deslocar trabalhadores de Aveiro para Lisboa. Estivadores do porto de Setúbal em declarações à RTP consideraram a mensagem uma tentativa de infiltração de trabalhadores ilegais naquele porto, à semelhança do que fora tentado junto de estivadores do porto de Lisboa.

Na Terça-feira, no seu blogue «O Estivador», e face a esta mensagem, o SEAL ameaçara com a paragem total do porto de Setúbal no dia seguinte se se verificasse “esta colocação de elementos estranhos ao porto” e considerando que “estes trabalhadores irresponsavelmente usados como carne para canhão, nada têm a ver com o porto de Setúbal”, mas que para lá iriam ser conduzidos “com o intuito de potenciar conflitos entre trabalhadores para, assim, tentarem responsabilizar o SEAL por eventuais consequências de actos irresponsáveis, deliberadamente provocados pelos operadores portuários, em despudorado e notório conluio com a tutela do sector”.

Em declarações à RTP feitas à margem de um evento no âmbito das Comemorações do Dia do Mar, Ana Paula Vitorino afirmou uma vez mais que a questão das contratações dos estivadores é um assunto a resolver entre estes e a empresa que os contrata. Afirmou ainda que a única coisa de que os estivadores necessitam para poderem trabalhar é uma certificação dessa qualidade profissional, insinuando que os estivadores de Aveiro ou de outro porto não estão legalmente impedidos de exercerem a sua actividade no porto de Setúbal.

De acordo com a RTP, uma fonte da Autoeuropa, que está a ser fortemente afectada pela paragem da actividade laboral no porto de Setúbal, terá referido que a empresa está a enviar veículos por camião para vários destinos. Entretanto, no final do dia, um comunicado da Operestiva, a empresa de trabalho portuário de Setúbal, anunciava a realização de uma conferência de imprensa agendada para esta manhã, em Setúbal.



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