Dados da Control Risk's identificam uma diminuição de casos de pirataria marítima e assaltos à mão armada no mar no primeiro semestre deste ano face a igual período de 2016. Apesar do aumento da incidência no Corno de África e de continuarem a existir números preocupantes no Golfo da Guiné
Control Risk's

Dados da consultora em análise de risco Control Risks’ relativos à pirataria marítima no primeiro semestre deste ano aproximam-se das conclusões do International Maritime Bureau (IMB) da International Chamber of Commerce (ICC) já avançados pelo nosso jornal.

De acordo com a Control Risks’, de Janeiro a Junho deste ano, registou-se um decréscimo de 15% nos incidentes de segurança marítima face a igual período de 2016. Do total de 239 casos, 68 verificaram-se nas Américas, 52 no Golfo da Guiné, 49 no Sudeste Asiático, 26 no Médio Oriente e Norte de África, 17 no Corno de África, 9 na África Subsariana e 1 na Europa. O IMB tinha identificado uma queda de 10 incidentes de pirataria marítima ou assaltos à mão armada no primeiro trimestre face ao primeiro trimestre de 2016.

Embora a consultora tenha referido que essa diminuição está muito relacionada com um decréscimo dos incidentes no Golfo da Guiné (-40%), que em 2016 registou os mais altos índices de pirataria marítima e assaltos à mão armada de sempre na região, também referiu que nada permite identificar uma tendência sustentável para a redução da pirataria marítima na zona até níveis anteriores a 2016. E a Associação Europeia dos Armadores da Marinha Mercante (European Community Shipowner’s Association, ou ECSA) manifestou, desde logo, a sua preocupação com o número de incidentes naquela zona.

Na mesma linha, já o IMB tinha indicado que a Nigéria era uma zona preferencial em matéria de raptos no mar (31 tripulantes num total de cinco incidentes, dos quais 14 retirados de dois navios diferentes no segundo trimestre, conforme o nosso jornal referiu oportunamente). Foi também ao largo da Nigéria que ocorreram metade dos incidentes em que os navios foram alvo de tiros, segundo o IMB.

A consultora sublinha também a diminuição de raptos em navios no Sudoeste Asiático durante o primeiro semestre de 2017 face ao período homólogo de 2016 (-33%), que a Control Risks’ atribui ao esforço militar do Governo das Filipinas em terra contra o movimento Abu Sayaf, reduzindo a capacidade de intervenção do grupo no mar.

De acordo com a Regional Cooperation Agreement on Combating Piracy and Armed Robbery against Ships in Asia (ReCAAP), a coligação inter-governamental asiática contra a pirataria marítima e os assaltos à mão armada no mar, no primeiro semestre deste ano, este tipo de incidentes diminuiu 22% na Ásia face a igual período do ano anterior.

Segundo a ReCAAP, dos 36 incidentes na região, 30 foram consumados e seis tentados. E dos 30 consumados, 13 ocorreram a bordo de navios tanque, oito em graneleiros, três em navios de apoio a instalações offshore, três em rebocadores, dois em porta-contentores e um num barco de pesca. Até ao final de Junho, de 59 tripulantes raptados desde Março de 2016 nesta região, 18 permaneciam cativos, referiu a ReCAAP.

Para a ReCAAP, a diminuição dos incidentes decorre de um acordo trilateral de patrulhamento marítimo entre as Filipinas, a Indonésia e a Malásia, especialmente dirigido contra a pirataria no mar, os assaltos à mão armada, sequestros de tripulantes no mar e outros crimes transnacionais verificados nas fronteiras destes países.

A Control Risks’ também assinala a ocorrência de 17 incidentes no chamado Corno de África, no primeiro semestre deste ano, contra apenas um verificado nos seis meses anteriores, resultante de uma vaga de ataques de piratas somalis contra navios naquela região.

Conforme escrevíamos em Julho, os relatos de incidentes ao largo da Somália, levaram o IMB considerar que “os piratas somalis mantêm a perícia e a capacidade para atacar navios mercantes longe das águas costeiras”, pelo incitava os comandantes a “manterem elevados níveis de vigilância quanto atravessam uma área de alto risco e a adoptarem as mais recentes boas práticas ”nesta matéria.



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