O aquecimento global pode deixar o mar sem peixe e os pescadores sem rendimento? Investigadores e pescadores italianos unem-se para responder e combater este tipo de problemas.
ClimeFish

O que vêem como principais desafios no futuro? Esta questão, colocada pela coordenadora do projecto ClimeFish e professora de Biologia e Gestão da Pesca, Michaela Aschan, aos pescadores italianos obteve resposta. E não foi, de todo, a mais animadora.

Os pescadores, que outrora viviam rodeados de enguias e peixes carpione endémicos (semelhantes à truta), já não têm tal realidade. Estes “especialistas” do peixe desconhecem as causas exactas do fenómeno, no entanto, associam-no às alterações climáticas.

Este estudo – um dos 15 que incluem lagos e lagoas de água doce, pesca marinha e quintas de peixes de toda a Europa – focou-se no lago Garda, em Itália. E apoia-se nos pescadores para obter informações. A cooperativa local de pescadores, que possui 12 barcos de pesca, fornece alguns dados e amostras para os investigadores do projecto de pesquisa europeu, o ClimeFish, que estuda os efeitos das alterações climáticas na pesca e na aquicultura.

“Comecei a pescar logo depois da minha escola primária, tinha sete ou oito anos e agora estou com mais de 80 anos”, começou por revelar Ettore Malfer, um pescador do lago Garda. “Há cerca de 30/40 anos, tínhamos quatro estações distintas – Primavera, Verão, Outono e Inverno”, hoje em dia “tudo se tornou muito confuso – os invernos não são tão frios como costumavam ser, e os verões são muito quentes”, refere.

“O principal problema que as pescas estão a enfrentar é a migração de stocks para áreas mais a norte, especialmente na área do nordeste do Atlântico. Vemos também que, no caso da aquicultura, estão a enfrentar uma maior proliferação de parasitas e mais doenças”, explica Mariola Norte, comunicadora científica do CETMAR.

E é com base na sua análise que investigadores preparam um conjunto de recomendações práticas que querem revelar em público para que chegue ao sector de mitigação dos efeitos das alterações climáticas. E estão igualmente a preparar uma ferramenta de software para gerir stocks de peixes com mais eficácia.

“Queremos apresentar os diferentes cenários dos utilizadores possíveis devido às alterações climáticas. Dentro desses cenários, estamos concentrados em possíveis resultados – o que aconteceria se os parâmetros mudassem. Com esse conhecimento, os utilizadores finais podem tomar as medidas adequadas”, explicou Astrid Sturm, cientista da computação da Universidade de Tecnologia de Brandemburgo. E terminam com um aviso importante: é crucial que os países da União Europeia revejam as suas normas e directrizes de protecção do pescado e de apoio à indústria.



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