Os sete embaixadores fazem expedição no Peace Boat, por vários países, porque acreditam no poder das pessoas a contar histórias cara a cara, na opinião de Josep Maria Sarri. Há dois dias foi a vez de pararem em Portugal.
SUMO

Foi o Rio Tejo que acolheu há dois dias os sete embaixadores que, cheios de “vontade de arregaçar as mangas” nas questões do impacto das alterações climáticas e da degradação dos ecossistemas marinhos, chegaram no Peace Boat para passar um testemunho muito importante – o de que devemos certificarmo-nos de que sabemos o que se passa à nossa volta e que temos de trabalhar em unidade para podermos combater questões como alterações climáticas, referiram duas das embaixadoras, Zana Kristen Wade, de Belize, e Ashwa Faheem, das Maldivas. Falaram a Portugal os sete embaixadores que moram nos pequenos Estados insulares em desenvolvimento, nomeadamente ilhas do Pacífico, Caraíbas e Índico.

E foi numa embarcação típica do Tejo que começou a viagem na qual aqueles jovens iriam dar a conhecer as suas tristes realidades, que outrora foram tão “azuis e límpidas”. Pois é nas suas ilhas, nas suas casas, que estão a “desabar” os problemas climáticos e marinhos de todo o mundo. E no Pavilhão do Conhecimento, onde terminou o encontro, puderam dar o seu testemunho perante a audiência.

Cada um traz uma história. A sua história. Zana Kristen Wade, a primeira a representar o seu país no programa World Merit 360, um programa apoiado na Sustentabilidade e Desenvolvimento das Metas das Nações Unidas, não vem de uma Ilha, vem de Belize. No entanto enfrenta os mesmos obstáculos que os seus colegas: “não temos recursos económicos para adoptar ou mitigar essas questões e por isso olhamos para as outras nações com um pedido de ajuda e assistência”, refere. “A sua economia depende do turismo e da pesca, naquela área” o que não está favorável. Estes problemas, são corrosivos nas várias áreas laborais, por isso Zana teme que possam vir a levar à “pobreza, aos crimes e desastres”.

“As nossas ilhas estão apenas dois metros acima dos níveis das águas do mar o que significa a vulnerabilidade à subida do nível das águas”. Apresenta-se, Mateo Nauto, que, fazendo uma breve definição da sua Ilha, Kiribati, é um dos “300 das ilhas que quer continuar a viver nas ilhas e chamá-las de casa”. Prossegue, “apesar de países como o meu estarem mais vulneráveis e sofrerem mais no presente, as alterações climáticas são geralmente consideradas uma ameaça à economia”. O jovem de 23 anos revela assim que “para alguns países é uma questão de ter casa amanhã”, e que este tipo de países são também, além de tudo o resto, muito afectados na sua “identidade cultural”. Pede ajuda, com generosidade e assistência dos Governos e das pessoas – “que pelo menos quando as famílias imigrarem, imigrem com dignidade”. E deixa uma questão: “Se o mundo falhar a salvar-nos quem virá a seguir? Não seria melhor tratar das questões ambientais agora, antes que seja tarde demais?”

Há quem seja mais dedicado às leis e reflicta sobre isso – “as alterações climáticas vão tirar-nos as terras e a lei internacional vai tirar-nos os mares; o sistema de lei que temos hoje, não foi criado quando as alterações climáticas tinham este significante impacto nas pessoas, não se podia pensar nisso há 34 anos atrás; a nossa sobrevivência não é negociada, o que é negociado é a lei, e essa, tem de ser negociada melhor, e tem de ser negociada novamente, para as nossas realidades presentes”, defende Kya Lal, das Ilhas Fiji.

A mais nova das embaixadoras, Selina Leem, com apenas 19 anos, foi a delegada mais jovem do COP 21 em Paris. Através de poemas exprime a sua indignação para com a situação que a rodeia. Situação de todo desagradável, quando no seu jardim, vê casas desmoronarem, mares a subirem e os seus pais e avós a chorar.

A expedição é financiada pelos passageiros do cruzeiro, que acompanham igualmente o tema, das mais variadas formas, como limpando as praias onde param e tendo formações dos embaixadores. Assim, no cruzeiro, viajam neste momento 1000 passageiros, maioritariamente japoneses, que param em 25 países, em três meses e meio.

Uma “lacuna” encontrada gerou uma explicação – o seu navio. O navio Peace Boat não é “amigo do ambiente”. Mas, Josep Maria Sarri, repórter especial do projecto, explicou ao jornal a nova proposta. Aquele que será o cruzeiro mais verde do mundo, esperado para 2020, andará, essencialmente, a GNL (Gás Natural Liquefeito) e terá, entre outros equipamentos, painéis solares e aparelhos desportivos que gerarão também energia à medida que a pessoa se exercita. O navio vai ser construído na Finlândia, por 500 milhões de euros. Montante que o Peace Boat não tem neste momento. Para começar o projecto necessitam apenas de 20% deste valor. Assim têm andado nos últimos três anos, à procura de investidores no projecto para o navio que vai reduzir em 40% as suas emissões de CO2.

No futuro, a ideia é manter os dois barcos. O novo vai andar por todo o mundo com um programa de educação e o antigo vai ser usado para viagens mais curtas relacionadas com programas de juventude na Ásia, com Universidades que os acompanham.

A expedição teve início em Barcelona no dia 22 de Setembro e termina a 15 de Outubro, em Nova Iorque. De seguida irá para Edimburgo (Reino Unido) e Reiquiavique (Islândia). Mas Nova Iorque é onde os embaixadores do Peace Boat vão fazer um ponto de situação e, junto das Nações Unidas e do público, explicar tudo o que têm debatido e dar opiniões que trazem dos contactos estabelecidos durante a expedição com as organizações ou os Governos, nomeadamente de Portugal, Espanha, França, Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos.

O Peace Boat começou no Japão com um grupo de jovens que queriam acabar com a Guerra em 1983. Neste momento, é uma organização independente cujo objectivo é promover a cooperação internacional para a paz, os direitos humanos e o desenvolvimento sustentável.

 

O que pode fazer para ajudar esta causa? Veja o nosso vídeo da semana – O Mar Em Um Minuto – a nova rúbrica do jornal, que o vai levar aos embaixadores, numa embarcação tradicional do Tejo.



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