O Museu a Marinha inaugurou Segunda-feira a exposição temporária, Vikings – Os Guerreiros do Mar, englobando mais de 600 peças do Museu Nacional da Dinamarca, para dar a conhecer não apenas a História dos povos da Escandinávia mas também a própria história de Portugal.

De facto, desde o Séc. IX ao Séc. XII, durante cerca de 300 anos, os povos da Escandinávia, assolaram repetidamente o continente europeu, em sucessivas demonstrações de força mas também de capacidade náutica, à época, efectivamente, sem par.

Se é certo haver hoje alguma fantasia um torno do que terão sido realmente os Vikings, desde logo, por exemplo, figurando-os sempre com elmos de chifres que nunca terão usado, muito há também perfeitamente estabelecido e, muito em particular, quanto à capacidade de construção de alguns dos mais admiráveis navios em termos de estabilidade e manobrabilidade, permitindo-lhes navegar tanto em alto e alteroso mar como subindo os rios, entre os quais se encontravam, sobretudo, os designados Dakar, bem como uma não menos notável capacidade de orientação em tempos os instrumentos para tal eram ainda pouco mais do que incipientes.

Todavia, se na Península Ibérica e Mediterrâneo a memória será sobretudo de recorrente ataque, razia e pilhagem, os Vikings não foram apenas isso.

Do que hoje são Dinamarqueses, por exemplo, veio a nascer o Condado e mais tarde Ducado da Normandia quando, nos inícios do Séc. X, a comunidade aí já estabelecida veio a ser vencida por Carlos o Simples e Rollo, com parte das respectivas forças ocupadas em mais uma incursão de Inglaterra, acabou se converter ao Cristianismo para assegurar um tratado de paz pelo qual passou também a ser reconhecido como Conde de Rouen, Senhor da Normandia.

Entretanto, os Noruegueses, acompanhados pelos Dinamarqueses, para além da invasão de Inglaterra, Escócia e Irlanda, continuaram mar fora colonizando a Islândia, as Ilhas Faroé, a Gronelândia e chegando mesmo ao Canadá, onde fundaram a Vinlândia, por pouco tempo, é certo, mas chegaram também até lá, enquanto os Suecos, os Rus, a partir de Kiev viriam a dar origem ao que viemos a conhecer como Rússia e povo Russo e, entre muitas das suas múltiplas aventuras, chegaram e perduram, inclusive, em Bizâncio, como os famosos Guardas Varegue.

E talvez não seja de esquecer o grande Canuto que governou simultaneamente Inglaterra, a Dinamarca e a Noruega, ou seja, embora em Portugal, no que é hoje Portugal, a influência não tenha sido tão profunda quanto noutras paragens e a memória seja, de facto, essencialmente, de razia e pilhagem, por cá também andaram, pelo Norte, até Guimarães, por exemplo, não deixando de se imaginar que a Póvoa do Varzim mesmo fundado por uma das suas muitas incursões, como Lisboa, Silves, Sevilha, Cádis e até mesmo Pisa, em Itália, entre numerosas outras vilas e lugares, não deixaram de conhecer, ou sofrer, os estranhos hábitos desse povo que, além de agricultor e comerciante, era também um povo de terríveis e temíveis guerreiros.

Noutro plano, talvez menos conhecido, talvez pelo isolamento, o facto também é que os mesmos Viking foram quem, na Islândia, deram origem a uma das mais antigas tradições de literatura vernacular e uma renovada continuação, em verso e em prosa, das mais ancestrais Sagas nórdicas.

Enfim, como referiu o próprio Chefe-de-Estado Maior da Armada, António Silva Ribeiro, uma Exposição como a presente, assume particular importância para formar e dar a consciência marítima a uma nação eminentemente Marítima como é Portugal, merecendo, por isso mesmo, uma visita de todos e, muito em especial, das novas gerações.

A Exposição está, de facto, muito bem montada e, como o próprio Embaixador da Dinamarca em Portugal, Michael Suhr, afirmou, simpaticamente, em tom de brincadeira, nunca tendo visto tendo visto nada de equivalente, nem mesmo na própria Dinamarca, é também uma forma da sua nação dar algo a Portugal, além das razias e das pilhagens.

«Vikings – Os Guerreiros do Mar», uma Exposição a não perder no Museu da Marinha, sem a menor dúvida.



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