Expectativa saiu gorada. Medidas anunciadas inserem sobre a redução do aumento da temperatura.

A expectativa era grande sobre a Cop 21, que se realizou no passado mês de Dezembro, em Paris. Afinal, pela primeira vez, o debate sobre as alterações climáticas ia abordar o tema dos oceanos. No entanto, apesar de o documento final ser uma vitória em muitos sentidos, foi igualmente uma desilusão. Porque os oceanos acabaram por ficar de fora.

A Liga para a Protecção da Natureza (LPN) foi crítica em relação aos resultados obtidos. É certo que houve um reconhecimento global das alterações climáticas e a assinatura de compromissos obrigatórios. Assinatura que estabeleceu como objectivo limitar o aquecimento global abaixo dos 2° C em 2100. No entanto, afirma a LPN, o acordo falhou cabalmente na imposição de metas de redução de emissões de gases de efeito de estufa para limitar o aquecimento a 2° C.

O grande problema, explica a LPN, é que, ao contrário do definido pela Tratado de Quioto, os Estados propuseram os seus valores de redução de emissões. O que, “no seu conjunto, não são suficientes para cumprir a meta, de limitar o aquecimento global a 2° C. Os modelos existentes mostram, aliás, que as reduções acordadas levarão a um aquecimento entre 2,7° C e 3° C em 2100”.

As medidas anunciadas no acordo assinado na Cop 21 abordam apenas a questão do aumento da temperatura. E mesmo esta reuniu algumas críticas. A solução apresentada é, para a LPN, muito frágil e  exigirá mais esforço nas próximas décadas, do que o que poderia ser feito desde já.

João Camargo, engenheiro do Ambiente e deputado municipal do Bloco de Esquerda na Amadora, escreveu, num artigo publicado no “Público”, que, “apesar do anúncio de que o acordo limitará o aumento de temperatura aos 1,5º C em 2100, a verdade é que foi já em 2015 que se atingiu mais 1º C de temperatura do que na era pré-industrial. Isso significa uma margem de manobra de 0,5º C”. E relembrou que houve 11 países que se escusaram de apresentar uma proposta. Sem esquecer que, “para a maior parte dos países, as propostas voluntárias implicam continuar a aumentar as emissões durante as próximas décadas”.

Para o bloquista, um dos grandes problemas do acordo assinado é o de que os sectores que mais poluem não foram identificados: a energia para electricidade e aquecimento (25%), a agricultura, a pecuária e as florestas (24%), a indústria (21%), os transportes (14%). “O documento é uma cortina de fumo, em que as emissões e a sua origem foram propositadamente omitidas.”

João Camargo vai mais longe e, num artigo publicado no Esquerda.Net, afirma que “com estas temperaturas, metade das ilhas do Pacífico desaparecerão. Os litorais, um pouco por todo o planeta, ficarão submersos. Colheitas perdidas, secas de décadas, desertificação extrema, florestas a desaparecer, degelo total. Isto na melhor das hipóteses.”

Apesar de tudo, o encontro em Paris foi positivo. O facto de países como a China e a Índia terem estado presentes significa que o tema das alterações climáticas está-se a tornar global e a “entrar” nas agendas governamentais dos vários países. Esse é um ponto positivo. Talvez numa próxima reunião os oceanos voltem a ser mencionados e seja feito um acordo no sentido de estudar o impacto das alterações climáticas e levar a cabo iniciativas para diminuir esse efeito.



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