A 3ª e última etapa da regata que balança o Atlântico desde 31 de Julho terminou, oficialmente, esta Quarta com a entrega de prémios no Real Club Náutico de Gran Canaria em Las Palmas.

A 3ª e última etapa da regata que balança o Atlântico desde 31 de Julho terminou, oficialmente, esta Quarta-feira com a entrega de prémios no Real Club Náutico de Gran Canaria em Las Palmas, com um ambiente amigável e cortês. Oceania Dos, na classe OPEN, e Swing, na classe ORC foram os vencedores da Discoveries Race 2019.

“Não há vitórias fáceis com concorrentes deste nível”, afirma João Lúcio, navegador do Oceania Dos. Pelo que foi um desafio constante: “O mar e a meteorologia estão sempre a mudar, daí o seu encanto e desafio. Esta última etapa correspondeu as nossas expectativas. Claro que não há bela sem senão, o nosso querido spinnaker, que repousava no convés, devido à ondulação forte e vaga que nos cobria o convés, caiu à água e na operação sofreu fortes estragos. Enfim, ossos do ofício, mas o objectivo foi conseguido, chegar em primeiro. Venham as próximas”, comenta José Inácio, Skipper do Oceania Dos. 

Já José Augusto Araújo, do Swing, está “obviamente muito contente” com os resultados, “mas à partida eram secundários. Nunca tive no espírito de vir para a travessia obter estes resultados”. Assim, o que encanta de facto é navegar, fortalecer os laços de amizade e conhecer pessoas que partilhem o mesmo gosto: velejar. 

“Quem vai para o mar avia-se em terra”. Há que estar preparado para o que suceder, comenta, confessando que “o maior desafio foi antes da regata – foi ir do Funchal para Viana do Castelo porque isso é que muitas vezes nós pensamos e hesitamos em fazer esta travessia para entrar nesta regata. Mas valeu a pena – foi tempo bem empregue”. 

Nesta regata participaram no total 15 veleiros. Nesta etapa participaram 11 veleiros, dos quais dois se distinguem: o Muyay, veleiro espanhol de 10,55 metros, que levava a bordo além do comandante, Aureliano, sete velejadores mais novos: Andrea de 12 anos, Borja de 18 anos, Carla de 20 anos, Celia de 16 anos, Felipe de 18 anos, Mariano de 16 anos e Valeria de 12 anos. E um dos conhecidos velejadores solitários portugueses: Miguel Sá que veleja a bordo do seu Sun Shine 36.

“Tínhamos um posto, mas dependendo da etapa da regata. Por exemplo na saída tínhamos um posto fixo, para que saísse tudo bem com as manobras que tinham de ser rápidas” mas depois foi mais à vontade ainda que cada um continuasse com uma responsabilidade, explicou um dos velejadores, Felipe. O Mariano (16 anos) ficava na vela grande, Aureliano, o comandante, ficava a fazer leme, e o Filipe (18 anos) estava pronto para ajustar a genoa.

Os turnos faziam de três em três horas, e o pai era o chefe de cozinha. Apesar de não ter conseguido fazer grandes pratos devido às condições, fez a melhor lasanha de sempre, a qual todos ficaram fãs. Com este tipo de regata afirmam aprender a ter mais coordenação, e a crescer com os convívios viagens. 

“Melhorei um pouco a prestação em veleiros maiores. É uma experiência. É a segunda regata grande que fazemos, nós que estamos acostumados à vela ligeira, que dura, no máximo 45 minutos pois para fazer uma regata tão grande de 37 horas, que foi o que demorámos nós, aprende-se bastante”, confessa Filipe. 

“Fazer leme é muito diferente da vela ligeira. Também porque é um veleiro muito pesado e as manobras são mais complexas o veleiro responde muito mais às ondas e ao vento então tem de se estar atento constantemente para saber bem por onde ir. As ondas desviam muito o ângulo”, completa. Mas apesar de algumas peripécias, nomeadamente com a genoa às quatro da manhã, tudo correu bem. 

Quando viram terra? “Alívio, por um lado, porque às tantas também cansa um pouco estar no mar. E felicidade por outro lado porque já sabíamos que tínhamos estado bem, tínhamos escutado no rádio que tinha entrado um veleiro, o Swing, e nós estávamos muito perto deles, o que nos alegrou bastante porque é um barco maior do que os outros e ter-lo por perto alegrava-nos”, explica Filipe. 

Já a história de Miguel Sá é longa, mas desafiante, ainda que da regata pudesse guardar melhor perspectiva. “Esta regata para mim perdeu o interesse todo porque não se fez rating. Como vou competir com um barco de 65 pés, sendo o meu de 36 pés? Eu posso vir atrás a esforçar-me muito mas tem pouco mérito”. 

Mas o velejador confirma a sua vontade de participar, não só porque faz questão de testar os seus limites diariamente como pelo convívio. A melhor parte? “A chegada e a conclusão da viagem – porque a meio da viagem há tanta coisa que pode correr mal. O facto de chegar é um alívio. À chegada aos Açores deu inclusivamente berros de euforia”. 

Os Açores, um dos paradeiros da viagem oceânica que realizou entre 20 Janeiro e fim de Julho, antes de decidir participar na Discoveries Race 2019, é um dos locais pelo qual mais se apaixonou. Ainda assim, e apesar da vocação para velejar sozinho, da adrenalina e do sentimento desafiante que o fascina, admite ter pensado que esta travessia seria a sua penúltima. “Os riscos são muitos, não só pessoais, mas a nível do veleiro também. Com mais uma pessoa a bordo, se virmos que há muito vento e que é preciso fazer uma afinação, fazemos. Eu sozinho faço um pequeno ajuste e vou aguentando. Isso vai esforçando o material”, explica. 

Pico, Faial, Flores, Terceira, São Miguel, Santa Maria – um encanto – as pessoas, as festas o ar que se respira; a praga de caravelas-portuguesas que encontrou pelo caminho; um primo com o qual partilhou vinho e bolo da Madeira que até então só conhecia por carta; as missivas que levou do presidente e as histórias que pelo caminho partilhou; as peripécias do mar, especialmente o bom tempo que o impedem, por vezes, de velejar, obrigando-o a usar recursos finitos – são experiências, são vida. E é o que o encanta. 

A bordo do Solimar a viagem foi dinâmica – os dois alunos da Escola Náutica, mais expeditos que nunca, Artur e Gonçalo, “deram o litro” nas manobras. A bordo com o comandante, Arturo, e um outro velejador, puderam inclusivamente perceber o que é fazer leme com o leme de emergência. E depois?  Passaram pela experiência de concertar um leme. Já Diogo seguiu no Oceania Dos, o veleiro vencedor. 

 Abaixo, os resultados da regata.

Classificaçao Geral  ORC

EmbarcaçãoPrimeira PernaSegunda PernaTerceira PernaPontosORCPosiçao
Swing2169Primeiro
Proteina 65113(DNF)519Segundo
Alzenit13(DNC)13(DNC)127Terceiro
Papoa13(DNC)13DNC)228Quarto
Capa13(DNC)13(DNC)329Quinto
Sao Gabriel313(DNC)13(DNC)29Sexto
Isla de Lobos13(DNC)13(DNC)430Setimo
Dream13(DNC)13(DNC)13(DNC)39Oitavo
Menenes13(DNC)13(DNC)13(DNC)39Oitavo
Perenquen13(DNC)13(DNC)13(DNC)39Oitavo
Stella Polare13(DNC)13(DNC)13(DNC)39Oitavo
Salseirio13(DNC)13(DNC)13(DNC)39Oitavo

Classificação Geral  OPEN

EmbarcaçãoPrimeira PernaSegunda PernaTerceira PernaPontosORCPosição
OCIANIA DOS10(DNC)1112Primeiro
ZARCO310(DNS)417Segundo
POLAR510(DNF)520Terceiro
NAUTILUS A 80110(DNC)10(DNC)21Quarto
MUYAY10(DNC)10(DNC)222Quinto
TRASTO VI210(DNC)10(DNC)22Sexto
MARUJO10(DNC)10(DNC)323Sétimo
ANIXA II410(DNC)10(DNC)24Oitavo
SOLIMAR10(DNC)10(DNC)10(DNF)30Nono


Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

«Foi Portugal que deu ao Mar a dimensão que tem hoje.»
António E. Cançado
«Num sentimento de febre de ser para além doutro Oceano»
Fernando Pessoa
Da minha língua vê-se o mar. Da minha língua ouve-se o seu rumor, como da de outros se ouvirá o da floresta ou o silêncio do deserto.
Vergílio Ferreira
Só a alma sabe falar com o mar
Fiama Hasse Pais Brandão
Há mar e mar, há ir e voltar ... e é exactamente no voltar que está o génio.
Paráfrase a Alexandre O’Neill