Um estudo publicado no passado dia 25 de Setembro pela organização não-governamental ambientalista Oceana estima que a recuperação dos stocks de pesca sobre-explorados da União Europeia (UE) pode gerar 92 mil novos postos de trabalho e aumentar em 4,9 biliões de euros o Produto Interno Bruto (PIB) da União.
Conforme explica a ONG, a base do estudo é o relatório «Exploitation and status of European stocks», de Froese, R. et al (2016), que calcula o potencial de produtividade anual de 397 stocks de 120 espécies comerciais nas águas europeias, a partir dos dados relativos às capturas actuais e do potencial adicional de capturas de stocks explorados pela frota da UE que opera nas suas águas (a frota externa está excluída).
O estudo faz também uma crítica à falta de vontade política para implementar orientações da UE em matéria de pesca sustentável, que considera uma atitude “desconcertante” por ignorar o potencial económico e social da recuperação dos stocks ao nível dos empregos e das receitas para o sector.
De acordo com o estudo, a exploração dos stocks segundo o Rendimento Máximo Sustentável (Maximum Sustainable Yeld, ou MSY) poderia gerar um aumento do valor do pescado capturado em 2,4 biliões de euros por ano (+56%) e um aumento das capturas de 2,1 milhões de toneladas por ano.
No plano da criação de novos postos de trabalho (92 mil, a tempo inteiro), a exploração sustentável dos stocks significaria mais 23.500 empregos directos na pesca, mais 10.300 empregos directos no processamento de pescado e mais 58.200 empregos indirectos na economia em geral (relacionados com os sectores alimentares, retalhista e de serviços).
O maior impacto na criação de empregos seria em Espanha (7.300 novos postos de trabalho a tempo inteiro), seguido pela Dinamarca (5.200), Reino Unido (5.100), França (4.800) e Polónia (3.900). Números que poderiam ser ainda maiores se a pesca adicional resultante da recuperação dos stocks fosse atribuída à frota de pequena pesca da UE.
O estudo sugere também que nesse cenário os salários poderiam aumentar 17% e as receitas fiscais 111%, e recorda que por cada emprego criado na pesca, seriam criados três na cadeia de abastecimento. E assinala que mesmo com subsídios públicos à pesca (directos ou por via de apoio ao combustível) que ascendem a 935 milhões de euros, a indústria apresenta perdas de 103 milhões de euros, quando num cenário de MSY a pesca teria lucros de 714 milhões de euros.
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