O ano de 2015 será lembrado como um ano dramático para muitos países produtores de petróleo mas não pelos armadores de grandes petroleiros, designados oficialmente por Very Large Crude Carriers (VLCC).

O ano de 2015 será lembrado como um ano dramático para muitos países produtores de petróleo derivado da queda acentuada do preço do barril. Em contraponto, para os armadores de grandes petroleiros, designados oficialmente por Very Large Crude Carriers (VLCC) que transportam mais de 2 milhões de barris por carga, 2015 foi um ano excelente com o preço do frete a ultrapassar os 100.000 dólares/dia, valor que desde 2008 não era atingido. O gráfico ilustra a correlação negativa dos últimos 18 meses entre o preço do barril de petróleo e o preço do frete dos VLCC.

No início de cada ano muitos economistas deixam-se tentar pelo fascínio de prever o que nos aguarda o futuro como os preços divulgados na véspera de Natal no relatório da World Oil Outlook(WOO) da OPEP. Prevê então esse estudo que o preço do barril de petróleo, em termos reais, se situará nos 70 dólares em 2020 e que atingirá os 95 dólares em 2040, muito aquém dos 114 dólares de Junho de 2014. Será que tanta precisão no longo prazo nos convence? Da reunião de 4 de Dezembro dos doze membros da OPEP em Viena resultou no fim das regras internas do cartel que vigoravam há mais de 40 anos. Foi decidido que cada país é agora livre de produzir e vender o petróleo que quiser o que conduziu à machadada final do preço do barril nos mercados internacionais. Para os armadores de VLCC a notícia foi recebida com agrado. Nikolas Tsakos, administrador da Tsakos Energy Navigation Ltd, um dos maiores armadores do mundo de VLCC, numa entrevista à Bloomberg, após a decisão da OPEP referiu que “The stars are aligned for us right now”, pois para ele o petróleo barato vai continuar a estimular a procura de carga no próximo ano.

Segundo a Agência Internacional de Energia a queda do preço do petróleo estimulou o consumo e este aumentou em cerca de 1.8 milhões de barris/dia em 2015, o valor mais alto em cinco anos. Para os armadores que transportam cerca de 40% do petróleo, este aumento do consumo, segundo dados da Clarkson, resultou em mais de 1.4 milhões de barris/dia de carga em 2015, o que justifica o optimismo no sector.

Como referiu um especialista da CR.Weber Co. : “The very thing which has been negative for oil markets has been positive for tanker markets,” lembrando que bastou uma semana, após a reunião da OPEP, para o preço do frete ultrapassar os 105,000 dólares dia.

No lado da produção são várias as razões que levam Riade, líder da OPEP, a manter esta política de desequilíbrio entre produção e consumo. Ali al-Naimi, o ministro do petróleo, anunciou que tudo fará para manter a quota de mercado da Arábia Saudita. Com um custo de produção muito baixo e com os cofres cheios de reservas financeiras acumuladas na última década Riade pode competir com os maiores produtores mundiais e manter assim a sua quota de mercado. Se para a maior parte dos analistas a estratégia de Riade tem como objectivo reduzir a produção de shale oil dos EUA, outros apontam uma estratégia com fins geopolíticos ao procurar enfraquecer o poder económico Russo para evitar o suporte militar de Putin ao governo de Bashar al Assad.

Se é verdade que a posição da Arábia Saudita em manter a produção alterou drasticamente o mercado petrolífero nos últimos 18 meses, o facto é que esta estratégia está a demorar a surtir os efeitos pretendidos. Nos Estados Unidos, apesar de muitas empresas serem obrigadas a parar as perfurações e a cancelar novos projectos os avanços tecnológico estão a permitir uma maior eficiência em algumas perfurações em exploração e a redução que Riade esperava não se está a verificar. Numa entrevista recente à CNBC, o secretário da energia, Ernest Moniz referiu que no total a produção de petróleo nos EUA caiu apenas marginalmente confirmada pelos dados da Energy Information Administration (EIA), que revelou que no ano se produziram mais de 9 milhões de barris/dia em média. Por outro lado Putin não só continua a apoiar Damasco e a produzir em máximos desde o colapso da ex-URSS como conseguiu pela terceira vez em 2015 ultrapassar Riade na exportação de petróleo para a China.

Segundo a Reuters, no mês de Novembro a China comprou cerca de 949,925 barris/dia à Rússia um número superior aos cerca de 886,950 barris/dia comprados à Arábia Saudita. Esta resiliência quer dos EUA como da Rússia está a deixar os Sauditas numa posição vulnerável na medida em que precisam do petróleo acima dos 100 dólares para manter o orçamento público equilibrado. Se num primeiro momento Riade não se preocupou com o seu défice público porque nos seus cálculos um ano bastaria para arrasar a produção dos países fora da OPEP, o facto é que passados 18 meses com os preços do barril a chegar a mínimos de 11 anos a produção continua em máximos. Na conjuntura de incerteza e risco que se vive no Médio Oriente poderá Riade cortar as enormes despesas sociais e militares do seu orçamento para compensar a perda de receitas? Por quanto tempo mais poderá Riade manter esta política?

Para os grandes armadores de VLCC não será certamente para breve pois esperam que o ano de 2016 continuará a ser um ano de excelentes resultados.



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