A ministra do Mar manteve ontem o objectivo de ter o novo terminal de cruzeiros de Lisboa a funcionar este Verão e desvalorizou quaisquer atrasos na conclusão da obra, durante a visita que realizou ao local. Ana Paula Vitorino justificou os atrasos com a necessidade de recorrer a soluções técnicas cuja aplicação não era compatível com “o mau tempo, que se verificou” e retardou a conclusão da obra.
“O rigor que está a ser aplicado nesta obra faz com que seja necessário um pouco mais de tempo do que aquilo que estava previsto, mas é por boas razões; porque efectivamente estão aqui a ser aplicados, não só materiais, mas também métodos construtivos um pouco diferentes e inovadores”, referiu a ministra do Mar.
De facto, como explicou o arquitecto Carrilho da Graça, autor do projecto, presente na visita, a localização do terminal e questões relacionadas com o peso da estrutura implicaram uma solução original, baseada em betão com cortiça, em algumas partes da obra. Segundo Carrilho da Graça, essa composição tem “menos de metade da densidade do betão normal”, o que a torna mais leve, e potencia a capacidade de isolamento.
A solução é inédita, foi concebida especificamente para este edifício e envolveu diversos parceiros, incluindo o Grupo Amorim e um laboratório de Coimbra. Carrilho da Graça pondera mesmo utilizá-la noutros projectos, caso se justifique. Por opção, não será patenteada.
De acordo com dados da Administração do Porto de Lisboa (APL), a conclusão do novo terminal está prevista para o final do primeiro semestre deste ano. O investimento privado da concessionária, a Lisbon Cruise Terminals (LCT), neste projecto foi de 22,7 milhões de euros, no quadro de uma concessão a 35 anos.
Segundo apurámos, mesmo com o novo terminal em operação, o actual terminal de cruzeiros, em Santa Apolónia, continuará a funcionar como tal, mas para navios mais pequenos, alimentando um segmento de mercado distinto daquele para o qual o novo terminal estará vocacionado, que é o dos cruzeiros de luxo.
O novo terminal terá “uma capacidade para 1,8 milhões de passageiros” e um cais de 1.490 metros, “com capacidade para receber navios de vários tipos e dimensões com calado até 12 metros”, esclarece a APL. Ricardo Ferreira, da LCT, esclareceu-nos que o terminal poderá receber, em simultâneo, dois mega-navios de cruzeiro. Ainda segundo a APL, “os efeitos, indirectos e induzidos na economia” serão superiores a 100 milhões de euros até 2020.
A este propósito, a ministra do Mar referiu que “vamos ter mais cruzeiros, mais passageiros e vamos recebê-los em melhores condições”, acrescentando que “vamos ter a possibilidade de fazer outro tipo de cruzeiros, os turnaround, que permitirão deixar mais-valias na cidade e potenciar o turismo noutras áreas de Portugal”. Recorde-se que um porto de turnaround significa um porto no qual ocorre embarque e/ou desembarque de passageiros, não funcionando apenas como porto de escala.
A APL considera que “com esta nova infra-estrutura, o objectivo é melhorar a operacionalidade, atractividade e qualidade do serviço e dotar o porto de uma infra-estrutura moderna e eficiente para operações de turnaround”, acrescentando que “a flexibilidade e a acessibilidade das operações serão dois dos principais critérios do edifício, com o objectivo de promover o aumento do número de visitantes e passageiros de cruzeiros à cidade de Lisboa”.
O novo edifício terá uma área aproximada de 13.800 m2, três pisos, um terraço com vista de 360º, 360 lugares de estacionamento, 80 lugares para autocarros, táxis e veículos turísticos, dois passadiços com sistema automatizado e nele funcionarão representações de várias autoridades, como o Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, Polícia de Segurança Pública, Autoridade Tributária e Aduaneira, Polícia Marítima, entre outras. Terá também uma “capacidade de oferta de serviços turísticos, lojas e serviços de restauração para o conforto de todos os visitantes, passageiros e tripulação”, refere a APL.
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