Ana Paula Vitorino pediu contributos críticos ao relatório sobre o tema
Tauron

Portugal tem que acelerar o processo de maturação científica e industrial em termos de energias renováveis oceânicas, admitiu a ministra do Mar, Ana Paula Vitorino, durante a conferência subordinada ao tema «Energias Renováveis Oceânicas: Uma Estratégia Industrial e Exportadora», promovida ontem em Lisboa pelo Ministério do Mar.

Com esta tese, a ministra do Mar distanciou-se de algumas posições que entendem que ainda é cedo para o país apostar fortemente no desenvolvimento de capacidade industrial para as energias renováveis oceânicas, embora sem as ter contrariado abertamente.

E argumentou, considerando que este é um desafio que já vem tarde, face ao que está em causa, que “é o futuro do planeta”, mais do que a nossa escala nacional em particular, e aos compromissos da União Europeia assumidos no âmbito da COP 21 (redução em 40% das emissões de gases com efeito de estufa, redução do consumo energético em 27% e consumo de energias renováveis equivalente a 27% do consumo energético global, tudo até 2030) e pelo Primeiro-Ministro António Costa, que assumiu que Portugal deve ter uma economia com um balanço neutro em termos de emissões de carbono até 2050.

Pouco antes, Ana Estanqueiro, investigadora do Laboratório Nacional de Energia e Tecnologia, tinha referido que nessa matéria “ainda não está cristalizada a tecnologia vencedora”, principalmente na área da energia das ondas, e considerou que existe o risco de suceder o mesmo que “sucedeu nas eólicas em terra”.

Para Ana Paula Vitorino, esta conferência representou “o culminar de um processo” em que foram feitas “várias consultas, demonstrações e apresentações a nível nacional e internacional” relacionadas com o relatório sobre o Roteiro para uma Estratégia Industrial das Energias Renováveis Oceânicas em Portugal, concluído em Novembro de 2016.

Um relatório alusivo a um projecto de estratégia que, segundo a ministra do Mar, ”foi sempre bem acolhido e mereceu os maiores apoios” e relativamente ao qual Ana Paula Vitorino desafiou cientistas, empresários e investidores a apresentarem perspectivas críticas nesta conferência. E elas surgiram. O acesso ao mar, a burocracia, o investimento e o grau de estabilidade dos quadros legislativos foram os principais temas alvo de críticas por parte dos participantes.

Um dos temas abordado foi o papel dos portos neste contexto de desenvolvimento das energias renováveis oceânicas e que em breve deverá ser publicamente apresentado no âmbito do projecto Port Tech Clusters, que prevê a instalação de start ups tecnológicas nas áreas sob jurisdição portuária.

A esse propósito, Lídia Sequeira, presidente da Associação dos Portos de Portugal (APP) e das Administrações dos Portos de Lisboa, Setúbal e Sesimbra, presente no evento, considerou que “a gestão portuária mudou” desde o tempo em que estava associada a grandes obras de engenharia, e tem hoje “novos desafios e responsabilidades”.

Para a presidente da APP, “hoje, é evidente que um porto eficiente é um porto em que o estado da arte seja o último grito da moda”, pois é isso “que permite níveis altos de competitividade”. Referiu também que actualmente, um terminal portuário moderno é o que “funciona 24 horas por dia, que tem modernos meios de vigilância e em que a energia é um factor essencial para a sua gestão”.

Por isso, entende que os portos têm um papel a desempenhar no apoio às actividades relacionadas com as energias renováveis oceânicas. “Os custos energéticos nos portos são elevados”, referiu a presidente da APP, admitindo que por esse motivo deve ser prestada particular atenção às novas tecnologias de produção energética.



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